FACULDADE DE TEOLOGIA
TESTEMUNHAS HOJE
CURSO LIVRE
DIDÁTICA
CONCEITO GERAL DE DIDÁTICA
CONCEITO GERAL DE DIDÁTICA
Introdução
|
A Didática é um dos
principais ramos da Pedagogia. Ela investiga os fundamentos e as condições para
a realização do ensino que contém a instrução. A Pedagogia codifica o
conhecimento amplo sobre a educação e a Didática o decodifica para a realização
do ensino. Concluímos que o objeto da Pedagogia é a Educação e a Didática,
disciplina da própria Pedagogia, é a teoria do ensino.
O vocábulo didática deriva
da expressão grega techné didaktiké,
que se traduz por arte ou técnica de ensinar. Enquanto adjetivo derivado de um
verbo, o vocábulo referido origina-se do termo didásko cuja formação lingüística – note-se a presença do grupo sk dos verbos incoativos – indica a
característica de realização lenta através do tempo, própria do processo de
instruir.
Como o Mestre Jesus,
observemos cuidadosamente uma criança para aprender dela o que vem a ser a
educação. Sim, porque a educação no seu sentido mais largo abarca todos os
passos e processos pelos quais o Infante gradativamente é transformado num
adulto inteligente e bem desenvolvido.
Consideremos a criança. Tem
ela um corpo humano completo, com olhos, mãos e pés – todos os órgãos do
sentido, da ação e da locomoção – e, não obstante, está ali inerme – sem meios
de defesa – desajudada no seu berço. Ri, chora, sente. Tem os atributos dum
adulto, mas não os poderes dele.
Em que o bebê difere do
adulto? Só no fato de ser um bebê. Tem corpo e membros pequenos, frágeis e sem
uso voluntário. Seus pés não podem andar; as mãos, sem habilidade; seus lábios
não falam. Seus olhos vêem, mas não percebem; e seus ouvidos não entendem. O
universo no qual acaba de entrar e que o rodeia é para ele coisa misteriosa e
desconhecida.
Maior consideração e estudo
nos aclaram que a criança é apenas um germe – não tendo ainda o crescimento que
lhe é destinado – e é Ignorante – sem idéias adquiridas.
Sobre esses dois fatos
descansam os dois conceitos da educação. Primeiro o desenvolvimento das
capacidades; segundo, a aquisição da experiência. Aquele é a maturação do corpo
e da mente. E este, o processo de fornecer à criança a herança da raça.
Cada um desses fatos – a
imaturidade da criança e a sua ignorância – devem servir de base à ciência da
educação. O primeiro enfatizará as capacidades do ser humano, bem como a ordem
em que se desenvolvem e as suas leis de crescimento e ação. O segundo abarcará
o estudo dos vários ramos do conhecimento humano, e como são descobertos,
desenvolvidos e aperfeiçoados. Cada uma dessas ciências necessariamente inclui
a outra, assim como o estudo dos poderes inclui o conhecimento dos seus
produtos, assim como o estudo dos efeitos abarca uma revisão das causas.
Baseando-se nessas duas
formas da ciência educacional podemos ver que a arte da educação é dupla: a
arte de exercitar e a arte de ensinar.
Uma vez que a criança
mostra-se imatura no uso de todas as suas capacidades, vê-se que o primeiro
passo na educação é exercitá-la no sentido de desenvolver inteiramente essas
capacidades. Tal preparo deve ser físico, mental e moral.
Visto que a criança é
ignorante, a educação deve comunicar-lhe a experiência da raça. Esta é
propriamente a obra ou a função do ensino. Vista a esta luz, a escola é uma das
agências de educação, uma vez que continuamos por toda a vida a adquirir
experiência. Então, o primeiro objetivo do ensino é estimular ou criar no aluno
o amor ou a vontade de aprender, e formar nele hábitos e ideais de estudo
independente.
Estas duas coisas juntas – o
cultivo das capacidades e a transmissão de experiência – é que constituem a
obra do professor. Toda organização e toda direção são subsidiárias a esse alvo
duplo. O resultado que se deve procurar é justamente este: uma personalidade
bem desenvolvida física, intelectual e moralmente, com recursos tais que lhe
tornem a vida útil e feliz, e habilitem o indivíduo a continuar aprendendo
através de todas as atividades da vida.
Estes dois grandes ramos da
arte educacional – treinamento e ensino – conquanto separados em nosso
pensamento, não estão separados na prática. Só podemos treinar ensinando, e
ensinamos melhor quando melhor treinamos ou praticamos. O próprio treinamento
das capacidades intelectuais é encontrado na aquisição, elaboração e aplicação
do conhecimento e das artes que representam a herança da raça.
Todavia, há uma vantagem
prática em se ter sempre em mente esses dois processos da educação. O mestre,
tendo-os claramente diante de si, mais facilmente observará, e estimulará mais
inteligentemente o progresso real dos alunos. Não se contentará com um seco
exercício diário que conserve os alunos em ação como se estivessem num moinho,
e nem se contentará também com encher e abarrotar a mente dos estudantes de
fatos e nomes sem uso prático. Ele anotará cuidadosamente os dois lados da
educação de seus alunos, e norteará seus trabalhos e adaptará suas lições sábia
e escrupulosamente para conseguir as duas finalidades que tem em vista.
Portanto, o objetivo deste
conteúdo é apresentar, de modo sistemático, os princípios da arte de ensinar.
Tratar das capacidades mentais somente no que urge serem consideradas numa
discussão clara sobre o esforço de se adquirir experiência no processo da
educação. Conquanto, não se pretende expor toda a ciência da educação, e nem
também toda a arte de ensinar. Mas, agrupar ao redor os fatores que estão
presentes em cada atividade do verdadeiro ensino, os capitais princípios e
regras da arte de ensinar, de modo que sejam vistos em sua ordem e relações
naturais e possam ser metodicamente aprendidos e usados.
1 - EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA DIDÁTICA
Da Antiguidade até o início
do século XIX, predominou na prática escolar uma aprendizagem de tipo passivo e
receptivo. Aprender era quase exclusivamente memorizar. Nesse tipo de
aprendizagem, a compreensão desempenhava um papel muito reduzido.
Esta forma de ensino
baseava-se na concepção de que o ser humano era semelhante a um pedaço de cera
ou argila úmida que podia ser modelado à vontade. Na antiga Grécia, Aristóteles
já professava essa teoria, que foi retomada freqüentemente ao longo dos
séculos, reaparecendo sob novas formas e imagens. A idéia difundida no século
XVII, por exemplo, de que o pensamento humano era como se fosse uma tábua lisa,
um papel em branco sem nada escrito, onde tudo podia ser impresso, é apenas uma
variação da antiga teoria.
Ensinava-se a ler e a
escrever da mesma forma que se ensinava um ofício manual ou a tocar um
instrumento musical. Por meio da repetição de exercícios graduados, ou seja,
cada vez mais difíceis, o discípulo passava a executar certos atos complexos,
que aos poucos iam se tornando hábitos. O estudo dos textos literários, da
gramática, da História, da Geografia, dos teoremas e das ciências físicas e
biológicas caracterizou-se, durante séculos, pela recitação de cor.
Os conhecimentos a serem
adquiridos eram, até certo ponto, reduzidos. E para que os alunos pudessem
repetí-los correta e adequadamente, o professor utilizava o procedimento de
perguntas e respostas, tanto em sua forma oral como escrita. Este era o chamado
método catequético, cuja origem remonta, pelo menos na cultura ocidental, aos
antigos gregos. A palavra catecismo provém do termo grego katechein, que significa “fazer eco”. Este método era usado para
todas as disciplinas e consistia na apresentação, pelo professor, de perguntas
acompanhadas de suas respostas já prontas.
O importante nessa forma de
aprendizagem era que o aluno reproduzisse literalmente as palavras e frases
decoradas. A compreensão do que se falava ou se escrevia ficava relegada a um
segundo plano. Em conseqüência, o aluno repetia as respostas mecanicamente, e
não de forma inteligente, pois ele não participava de sua elaboração e, em
geral, não refletia sobre o assunto estudado.
Embora esse ensino de
caráter verbal, baseado na repetição de fórmulas já prontas, tenha predominado
na prática escolar por muito tempo, vários foram os filósofos e educadores que
exortaram os mestres, ao longo dos séculos, a dar mais ênfase à compreensão do
que à memorização. Com isso pretendiam tornar o ensino mais estimulante e
adaptado aos interesses dos alunos e às suas reais condições de aprendizagem.
Surgiram, assim, algumas teorias que tentavam explicar como o ser humano é
capaz de apreender e assimilar o mundo que o circunda. Com base nessas teorias
do conhecimento, alguns princípios didáticos foram formulados.
Apresentamos a seguir alguns
filósofos e educadores que refletiram sobre o conhecimento e elaboraram teorias
sobre o ato de conhecer, que repercutiram no âmbito da Pedagogia.
1.1. Sócrates (século V
a.C.)
Para Sócrates o saber não é
algo que alguém (o mestre) transmite à pessoa que aprende (discípulo). O saber,
o conhecimento, é uma descoberta que a própria pessoa realiza. Conhecer é um
ato que se dá no interior do indivíduo. A função do mestre, segundo Sócrates, é
apenas ajudar o discípulo a descobrir, por si mesmo, a verdade.
O método socrático foi
denominado de ironia, e em dois
momentos: a refutação e a maiêutica.
Na refutação, Sócrates levantava objeções às opiniões que o discípulo
tinha sobre algum assunto e que julgava ser a verdade. De objeção em objeção, o
aluno ia tentando responder às dúvidas levantadas por Sócrates até que, se
contradizendo cada vez mais, admitia sua ignorância e se dizia incapaz de
definir o que até há pouco julgava conhecer tão bem. Essa etapa do método tinha
como objetivo libertar o espírito das opiniões, pois segundo Sócrates a
consciência da própria ignorância é o primeiro passo para se encaminhar na
busca da verdade.
Tendo o discípulo tomado
consciência de que nada sabia, Sócrates passa então para a segunda parte de seu
método, que ele mesmo denominou maiêutica.
Partindo do conhecido para o
desconhecido, do fácil para o difícil, Sócrates vai fazendo a seu discípulo uma
série de perguntas que o leva a refletir, a descobrir e a formular as próprias
respostas.
Sócrates comparava esse
trabalho ao de sua mãe que era parteira, pois, da mesma forma que ela ajudava
as mulheres a dar à luz seus filhos, ele ajudava seus discípulos a dar à luz as
idéias. Daí o nome que atribui a seu método, pois, em grego, a palavra maiêutica designa o trabalho da
parteira.
Um exemplo clássico da maiêutica socrática aparece no diálogo Menon, escrito por Platão, que foi
discípulo de Sócrates. Nesta obra, Platão nos mostra um diálogo de seu mestre
com um jovem escravo, no qual ele ajuda o escravo a descobrir, por si mesmo,
algumas noções de geometria.
Sócrates afirmava que os
mestres devem ter paciência com os erros e as dúvidas de seus alunos, pois, é a
consciência do erro que os leva a progredir na aprendizagem.
1.2. João Amos Comenius
(1592-1670)
Segundo Comenius, dentre as
obras criadas por Deus, o ser humano é a mais perfeita. Dada sua formação
cristã, Comenius acreditava que o fim último do homem é a felicidade eterna. Assim,
o objetivo da educação é ajudar o homem a atingir essa finalidade transcendente
e cósmica, desenvolvendo o domínio de si mesmo através do conhecimento de si
próprio e de todas as coisas.
Portanto, Comenius
concordava com os educadores medievais na concepção dos fins da educação, mas
diferenciou-se deles na concepção dos meios através dos quais a educação se
processaria. Para ele, os jovens deviam ser educados em comum e por isso eram
necessárias as escolas. Os jovens de ambos os sexos deveriam ter acesso à
educação escolar.
Comenius valorizava o
processo indutivo como sendo a melhor forma de se chegar ao conhecimento
generalizado, e aplicou-o na sua prática instrucional. Ele afirmava que o
método indutivo estava mais “de acordo com a natureza” e propunha a inclusão do
estudo dos fenômenos físicos nos currículos e nos livros escolares. Escreveu o
primeiro livro didático ilustrado para crianças, intitulado “O mundo das coisas sensíveis ilustrado”.
Criou, também, um método para o ensino de línguas de acordo com suas idéias
educacionais, considerado revolucionário para a época.
Devido a sua longa
experiência como professor, Comenius não foi apenas um teórico da educação. Ele
teve também grande importância para a prática da instrução escolar,
contribuindo para a melhoria dos processos de ensino. A seguir, apresentamos
alguns princípios defendidos por Comenius na sua obra Didática magna, publicada em 1632, e que teve influência direta
sobre o trabalho docente.
Ao ensinar um assunto, o
professor deve:
a)Apresentar
o objeto ou idéia diretamente, fazendo demonstração, pois o aluno aprende
através dos sentidos, principalmente vendo e tocando.
b)Mostrar
a utilidade específica do conhecimento transmitido e a sua aplicação na vida
diária.
c) Fazer
referência à natureza e origem dos fenômenos estudados, isto é, às suas causas.
d)Explicar
primeiramente os princípios gerais e só depois os detalhes.
e)Passar
para o assunto ou tópico seguinte do conteúdo apenas quando o aluno tiver
compreendido o anterior.
Como se pode ver, esses
pressupostos da prática docente já eram proclamados por Comenius em pleno
século XVII.
1.3. Heinrich Pestalozzi
(1746-1827)
Defendendo a doutrina dos
naturalistas, em especial a de Rousseau, Pestalozzi acreditava que o ser humano
nascia bom e que o caráter de um homem era formado pelo ambiente que o rodeia.
Sustentava que era preciso tornar esse ambiente o mais próximo possível das
condições naturais, para que o caráter do indivíduo se desenvolvesse ou fosse
formado positivamente. Para ele, a transformação da sociedade iria se processar
através da educação, que tinha por finalidade o desenvolvimento natural,
progressivo e harmonioso de todas as faculdades e aptidões do ser humano.
Para a sua época, esta idéia
era um tanto inovadora, porque, na segunda metade do século XVIII, a concepção
corrente era de que as transformações revolucionárias seriam o remédio que
curaria todos os males sociais. Por isso, ao advogar a idéia de que a educação
era um meio de regenerar a sociedade, ele estava introduzindo um elemento novo
no ideário pedagógico de seu tempo, e este pensamento assumiria um significado
especial nos anos subseqüentes. Portanto, para Pestalozzi, a educação era um
instrumento de reforma social. Ele pregava a educação das massas e proclamava
que toda criança deveria ter acesso à educação escolar, por mais pobre que
fosse seu meio social e mesmo que suas condições fossem limitadas.
Na teoria educacional de
Pestalozzi podemos encontrar as sementes da Pedagogia moderna. Foi ele o
primeiro a formular de forma clara e explícita o princípio de que a educação
deveria respeitar o desenvolvimento infantil.
Na concepção de Pestalozzi,
o principal objetivo da educação era favorecer o desenvolvimento físico,
intelectual e moral da criança e do jovem, através da vivência de experiências
selecionadas e graduadas, necessárias ao exercício dessas capacidades.
Para alcançar esse objetivo,
ele elaborou um método, que era a base de seu trabalho educativo, e organizou
atividades seqüenciais, que, vivenciadas pelo aluno de forma graduada,
contribuíam para seu desenvolvimento intelectual e moral. O método pestalozziano, como foi posteriormente
chamado, tinha as seguintes características:
a)Apresentava
o conhecimento começando por seus elementos mais simples e concretos, de forma
a estimular a compreensão.
b)Utilizava
o processo de observação ou percepção pelos sentidos, denominado por ele de
intuição.
c) Fixava
o conhecimento por meio de uma série progressiva de exercício graduados, que se
baseavam mais na observação do que no mero estudo de palavras.
Portanto, a essência do seu
método era a “lição de coisas”, como era então chamada. Mas ele empregou a
“lição de coisas” de forma mais ampla, como base para o completo
desenvolvimento mental da criança, e não como foi usada posteriormente, de
forma mais restrita, com o simples propósito de obter o conhecimento do objeto
ou de apenas treinar a capacidade de observação.
Em conseqüência do
pressuposto de que a “lição de coisas” era um recurso para favorecer o
desenvolvimento do aluno, o método de Pestalozzi trazia vários elementos
inovadores: o emprego do cálculo mental, o uso de técnicas silábicas e
fonéticas na linguagem, e o estudo da Geografia e das ciências feito em contato
direto com o ambiente natural. Outro aspecto inovador do método pestalozziano
foi o fato de combinar as atividades intelectuais com o trabalho manual,
fazendo os dois caminharem juntos.
Pestalozzi escreveu várias
obras sobre educação, e como mestre-escola teve oportunidade de testar sua
teoria, colocando-a em prática. Assim, pôde experimentar diretamente a reforma
das práticas educativas. Ele dedicou também grande parte de sua vida à
preparação de professores.
Os princípios educacionais
formulados por Pestalozzi podem ser assim resumidos:
a)A
relação entre o mestre e o discípulo deve ter como base o amor e o respeito
mútuo.
b)O
professor deve respeitar a individualidade do aluno.
c) A
finalidade da instrução escolar deve basear-se no fim mais elevado da educação,
que é favorecer o desenvolvimento físico, mental e moral do educando.
d)O
objetivo do ensino não é a exposição dogmática e a memorização mecânica, mas
sim o desenvolvimento das capacidades intelectuais do jovem.
e)A
instrução escolar deve auxiliar o desenvolvimento orgânico por meio da
atividade, isto é, da ação tanto física como mental.
f) A
aprendizagem escolar deve corresponder não apenas à aquisição de conhecimentos,
mas principalmente ao desenvolvimento de habilidades e ao domínio de técnicas.
g)O
método de instrução deve ter por base a observação ou percepção sensorial (que
Pestalozzi chamava de intuição) e começar pelos elementos mais simples.
h)O
ensino deve seguir a ordem psicológica, ou seja, respeitar o desenvolvimento
infantil.
i) O
professor deve dedicar a cada tópico do conteúdo o tempo necessário para
assegurar que o aluno o domine inteiramente.
Como são atuais os
princípios educacionais de Pestalozzi! E, no entanto, eles foram formulados no
final do século XVIII e começo do século XIX.
1.4. John Frederick Herbart
(1776-1841)
De início, Herbart baseou-se
no trabalho de Pestalozzi, mas posteriormente ele elaborou seus próprios
princípios educacionais, fundamentados na idéia da unidade do desenvolvimento e
da vida mental.
Na concepção de Herbart, o
ser humano não é compartimentalizado em faculdades, mas é uma unidade. Desde o
nascimento, o ser humano tem a capacidade de entrar em contato com o meio
ambiente, reagindo a este de forma global, através do sistema nervoso. Por meio
da percepção sensorial se estabelece, portanto, a relação com o ambiente, o que
dá origem às representações primárias, que são a base da vida mental. A
generalização das representações primárias forma os conceitos, e a interação
dos conceitos conduz aos atos de julgamento e raciocínio.
Ao nascer, o ser humano não
é bom nem mau, mas desenvolve-se num sentido ou no outro, a partir das
influências externas, das representações formadas e de suas combinações.
Portanto, a característica fundamental do ser humano é o seu poder de
assimilação. A teoria educacional de Herbart gravita assim em torno da noção de
função assimiladora, que ele denominou de apercepção.
A apercepção é a assimilação de novas idéias através da experiência e sua
relação com as idéias ou conceitos já anteriormente formados.
Em decorrência desse
pensamento, Herbart atribuía grande importância à educação, pois considerava-a
o fator determinante no desenvolvimento do intelecto e do caráter. A educação
é, segundo ele, a responsável pela formação das representações e pela forma
como estas representações são combinadas nos mais elevados processos mentais. A
função da escola era ajudar o aluno a desenvolver e integrar essas
representações mentais, que provinham de duas fontes principais:
a)do
contato com a natureza, através da experiência;
b)do
contato com a sociedade, através do convívio social.
Para Herbart, a educação
moral é decorrente da educação intelectual, pois as idéias formam o caráter. O
conhecimento produz idéias que moldam a vontade, isto é, o caráter. A este
ciclo, conhecimento-idéias-caráter, Herbart chamou de "instrução educativa".
Para que o trabalho escolar possa promover uma instrução verdadeiramente
educativa, deve começar por despertar no aluno o interesse pelas matérias de
estudo. Dessa forma, Herbart foi o primeiro educador a formular, de modo claro
e explícito, uma teoria do interesse. Ele afirmava que o interesse não era
apenas um meio para garantir a atenção do aluno durante a aula, mas uma forma
de assegurar que as novas idéias ou representações fossem assimiladas e
integradas organicamente àquelas já existentes, formando uma nova base de
conduta. Como podemos ver, a concepção de educação de Herbart deriva de sua
filosofia.
O professor deve assim fazer
uma seleção dos materiais de instrução baseando-se na progressão dos interesses
infantis. Deve apresentá-los também de tal forma organizados, que conservem a
unidade necessária para desenvolver no indivíduo uma consciência plena e una.
Herbart afirmava que o conhecimento constitui um todo inter-relacionado, e só é
compartimentalizado em matérias escolares para fins didáticos, tendo em vista
facilitar o seu estudo e assimilação. Por isso, o professor deve organizar e
apresentar os materiais de instrução de forma que o aluno perceba a relação
existente entre as várias matérias de estudo e a unidade do conhecimento.
Para alcançar esse objetivo,
Herbart elaborou e aplicou um método instrucional que consistia numa série de
passos baseados na ordem psicológica de aquisição do conhecimento. Esses passos
deveriam ser seguidos em cada unidade de instrução e apresentavam a seguinte
seqüência: preparação, apresentação, associação, sistematização e aplicação.
1.5. John Dewey (1859-1952)
A concepção que Dewey tinha
do homem e da vida, e que serve de base à sua pedagogia, é de que a ação é
inerente à natureza humana. A ação precede o conhecimento e o pensamento. Antes
de existir como ser pensante, o homem é um ser que age. A teoria resulta da
prática. Logo, o conhecimento e o ensino devem estar intimamente relacionados à
ação, à vida prática, à experiência. O saber tem caráter instrumental: é um
meio para ajudar o homem na sua existência, na sua vida prática.
Para Dewey, o homem é um ser
eminentemente social. Assim sendo, são as necessidades sociais que norteiam sua
concepção de vida e de educação. Para ele, os motivos morais devem estar a
serviço de fins sociais. O trabalho em comum e a cooperação são os elementos
fundamentais da vida coletiva e satisfazem as necessidades sociais e psíquicas
do ser humano. Dewey instituiu a fórmula: Vida humana = vida social =
cooperação. Como o trabalho e a cooperação são o fundamento da vida, é em tomo
desses elementos que deve gravitar a educação escolar. Salientando a
importância social do trabalho e valorizando o trabalho manual, ele afirma que
a escola deve tomar-se uma verdadeira comunidade de trabalho, em vez de um
lugar isolado onde se aprendem lições sem ligação com a vida.
A criança, por sua própria
natureza, é ativa, quer agir, fazer alguma coisa, produzir. Assim, a escola
deve respeitar a natureza da criança e aplicar o princípio do aprender fazendo,
agindo, vivendo. A criança deve adquirir o saber pela experiência e pela
experimentação próprias. O papel da escola não é comunicar o saber pronto e
acabado, mas ensinar as crianças a adquiri-lo, quando lhes for necessário.
Como? Desenvolvendo a atenção e o pensamento reflexivo, a capacidade de
estabelecer relações entre fatos e objetos, a habilidade para diferenciar o
essencial do acessório e para remontar às causas e prever os efeitos. Ressalta
que, na aquisição do saber, o fundamental é a atividade mental, e que esta pode
ou não vir acompanhada da atividade física. Por isso, Dewey é um grande
defensor dos métodos ativos e prega o ensino pela ação.
Embora vários outros
filósofos e educadores tenham defendido a necessidade de se rever os processos
de ensino, os educadores aqui apresentados, por sua obra tanto teórica como
prática, tomaram-se verdadeiros marcos do pensamento educacional, e suas idéias
repercutiram diretamente no campo da Didática. Eles não só pregaram a reforma
dos métodos de ensino como também aplicaram, em suas práticas educativas, as
idéias que defendiam. Apesar de apresentarem concepções diferentes de educação,
os educadores aqui mencionados tiveram um aspecto em comum: tentaram fazer com
que a reforma do ensino não ficasse restrita a uma elite, mas fosse estendida a
parcelas cada vez maiores da população. Nesse sentido, eles acreditaram na
educação popular e tentaram mostrar que qualidade e quantidade não são termos
indissociáveis, e que podem, num certo momento, andar juntos.
2 - A INTERAÇÃO PROFESSOR-ALUNO
2.1. O valor pedagógico da
relação professor-aluno
A formação das crianças e
dos jovens ocorre por meio de sua participação na rede de relações que
constitui a dinâmica social. É convivendo com pessoas, seja com adultos ou com
seus colegas grupos de brinquedo ou de estudo -, que a criança e o jovem
assimilam conhecimentos e desenvolvem hábitos e atitudes de convívio social,
como a cooperação e o respeito humano. Daí a importância do grupo como elemento
formador.
Cada classe constitui também
um grupo social. Dentro desse grupo, que ocupa o espaço de uma sala de aula, a
interação social se processa por meio da relação professor-aluno e da relação
alunoaluno. É no contexto da sala de aula, no convívio diário com o professor
e com os colegas, que o aluno vai paulatinamente exercitando hábitos,
desenvolvendo atitudes, assimilando valores. Sobre isso, diz Georges Gusdorf,
em sua admirável obra Professores, para quê?: "Cada um de nós conserva
imagens inesquecíveis dos primeiros dias de aula e da lenta odisséia pedagógica
a que se deve o desenvolvimento do nosso espírito e, em larga medida, a
formação da nossa personalidade. O que nos ensinaram, a matéria desse ensino,
perdeu-se. Mas se, adultos, esquecemos o que em crianças aprendemos, o que
nunca desaparece é o clima desses dias de colégio: as aulas e o recreio, os
exercícios e os jogos, os colegas". O valor pedagógico da relação
professor-aluno. E por que não dizer também que sempre nos lembraremos daqueles
que foram nossos professores, de suas personalidades, de suas formas de agir,
de pensar e se expressar?
O que Georges Gusdorf quer
dizer, ao se expressar de forma tão tocante por meio dessas palavras e ao longo
de toda a sua obra, é que a escola é um local de encontros existenciais, da
vivência das relações humanas e da veiculação e intercâmbio de valores e
princípios de vida. Se, por um lado, a matéria e o conteúdo do ensino, tão
racional e cognitivamente assimilados, podem ser esquecidos, por outro, o
"clima" das aulas, os fatos alegres ou tristes que nelas se
sucederam, o assunto das conversas informais, as idéias expressas pelo
professor e pelos colegas, a forma de agir e de se manifestar do professor,
enfim, os momentos vividos juntos e os valores que foram veiculados nesse
convívio, de forma implícita ou explícita, inconsciente ou conscientemente,
tudo isto tende a ser lembrado pelo aluno durante o decorrer de sua vida e
tende a marcar profundamente sua personalidade e nortear seu desenvolvimento
posterior.
Isso ocorre porque é durante
este convívio, isto é, são nesses momentos de interação, instantes
compartilhados e vividos em conjunto, que o domínio afetivo se une à esfera
cognitiva e o aluno age de forma integral, como realmente é, como um todo. Ou
seja, ele age não só com a razão, mas também com os sentimentos e as emoções.
Portanto, neste momento de interação, de convívio, de vida em conjunto, o aluno
torna-se presente por inteiro, pois a razão e os sentimentos se unem, guiando
seu comportamento.
O professor Walter Garcia
afirma que "a educação, seja ela escolar ou 'do mundo', é fenômeno que só
ocorre em razão de um processo básico de interação entre pessoas. (...) Que a
educação é processo eminentemente social julgamos desnecessário insistir, tal a
evidência com que isto se manifesta. Aliás, poderíamos ir mais além, ao dizer
que a educação existe exatamente porque o homem é um ser gregário e que só se
realiza como tal a partir do momento em que entra em relação com seu
semelhante. Enquanto processo de formação humana, a educação é a única maneira
pela qual é assegurada a continuidade da espécie, que assim consegue dominar a
natureza e imprimir nela sua presença e sua maneira de ver o mundo".
Falando mais especificamente
sobre o ato de ensinar e aprender, Bruner diz que ele é um processo
essencialmente social, porque "as relações entre quem ensina e quem
aprende repercutem sempre na aprendizagem".
Os educadores concordam que
o processo educativo e, mais especificamente, a construção do conhecimento são
processos interativos, e portanto sociais, nos quais os agentes que deles
participam estabelecem relações entre si. Nessa interação, eles transmitem e
assimilam conhecimentos, trocam idéias, expressam opiniões, compartilham
experiências, manifestam suas formas de ver e conceber o mundo e veiculam os
valores que norteiam suas vidas.
Portanto, a interação humana
tem uma função educativa, pois é convivendo com os seus semelhantes que o ser
humano é educado e se educa.
No processo de construção do
conhecimento, o valor pedagógico da interação humana é ainda mais evidente,
pois é por intermédio da relação professor-aluno e da relação aluno-aluno que o
conhecimento vai sendo coletivamente construído.
O educador, na sua relação
com o educando, estimula e ativa o interesse do aluno e orienta o seu esforço
individual para aprender. Assim sendo, o professor tem, basicamente, duas
funções na sua relação com o aluno:
a)uma
função incentivadora e energizante, pois ele deve aproveitar a curiosidade
natural do educando para despertar o seu interesse e mobilizar seus esquemas
cognitivos (esquemas operativos de pensamento);
b)uma
função orientadora, pois deve orientar o esforço do aluno, para aprender,
ajudando-o a construir seu próprio conhecimento.
Cabe ao professor, durante
sua intervenção em sala de aula e por meio de sua interação com a classe,
ajudar o aluno a transformar sua curiosidade em esforço cognitivo e a passar de
um conhecimento confuso, sincrético, fragmentado, a um saber organizado e
preciso.
Mas o professor deve ter bem
claro que, antes de ser um professor, ele é um educador, pois sua personalidade
é norteada por valores e princípios de vida, e consciente ou inconscientemente,
explícita ou implicitamente ele veicula esses valores em sala de aula,
manifestando-os a seus alunos. Assim, ao interagir com cada aluno em particular
e ao se relacionar com a classe como um todo, o professor não apenas transmite
conhecimentos, em forma de informações, conceitos e idéias (aspecto cognitivo),
mas também facilita a veiculação de ideais, valores e princípios de vida
(elementos da esfera afetiva), contribuindo para a formação da personalidade do
educando.
De acordo com nossa
concepção, o educando é “uma pessoa que se desenvolve, que atualiza suas
possibilidades, que se ajusta e se reajusta, mediante processos dinâmicos,
orientados por valores que lhe conferem individualidade e prospectividade”.
Quem assim concebe o
educando, tende a valorizar ainda mais a relação professor-aluno, pois vê nessa
interação um processo de intercâmbio de conhecimentos, idéias, ideais e
valores, que atua diretamente na formação da personalidade.
2.2. A importância do
diálogo na relação pedagógica
Como vimos, a construção do
conhecimento é um processo interpessoal. O ponto principal desse processo
interativo é a relação educando-educador. E esta relação não é unilateral, pois
não é só o aluno que constrói seu conhecimento. É verdade que o aluno, através
desse processo interativo, assimila e constrói conhecimentos, valores, crenças,
adquire hábitos, formas de se expressar, sentir e ver o mundo, forma idéias,
conceitos (e por que não dizer preconceitos?), desenvolve e assume atitudes,
modificando e ampliando suas estruturas mentais.
Mas também é verdade que o
professor é atingido nessa relação. De certa forma, ele aprende com seu aluno,
na medida em que consegue compreender como este percebe e sente o mundo, e na
medida que começa a sondar quais os conhecimentos, valores e habilidades que o
aluno já traz de seu ambiente familiar e de seu grupo social para a escola.
Assim, em decorrência dessa
relação, o professor pode passar a conhecer novas formas de conceber o mundo,
que são diferentes da sua. Pode também rever comportamentos, ratificar ou
retificar opiniões, desfazer preconceitos, mudar atitudes, alterar posturas.
Talvez seja por isso que
Guimarães Rosa tenha escrito, em seu livro Grande Sertão: veredas, que
"mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende".
Nesse contato interpessoal
instaura-se um processo de intercâmbio, no qual o diálogo é fundamental. De um
lado está o professor com seu saber organizado, seu conhecimento
cientificamente estruturado, sua forma de se expressar na norma culta da
língua, com os ideais e valores formais aceitos e proclamados oficialmente pela
sociedade e com seu grau de expectativa em relação ao desempenho do aluno. Do
outro lado está o aluno com seu saber não sistematizado, difuso e sincrético,
seu conhecimento empírico, com o modo de falar próprio de seu ambiente
cultural, com os ideais e valores de seu grupo social e com um certo nível de
inspiração em relação à escola e à vida.
Esse encontro do professor
com o aluno poderá representar uma situação de intercâmbio bastante proveitosa
para ambos, em que o conhecimento será construído em conjunto ou, ao contrário,
poderá se transformar num verdadeiro duelo, num defrontar de posições pouco ou
nada proveitoso para ambos.
Para haver um processo de
intercâmbio que propicie a construção coletiva do conhecimento, é preciso que a
relação professor aluno tenha como base o diálogo. É por meio do diálogo que
professor e aluno juntos constroem o conhecimento, chegando a uma síntese do
saber de cada um.
O diálogo é desencadeado por
uma situação-problema ligada à prática. O professor transmite o que sabe,
partindo sempre dos conhecimentos manifestados anteriormente pelo aluno sobre o
assunto e das experiências por ele vivenciadas. Assim, ambos podem chegar a uma
síntese esclarecedora da situação-problema que suscitou a discussão. Nesse
momento de síntese, o conhecimento é organizado e sistematizado, sendo
novamente aplicado à prática, agora já de forma estruturada.
Referindo-se ao diálogo na
prática pedagógica, assim se expressa Maria Teresa Nidelcoff: "Ao
trabalhar corretamente com o problema das subculturas, o professor procura
captar toda a riqueza que as crianças trazem, para de fato aprender com elas.
Portanto, não se relaciona com as crianças como se fosse o único que tem algo a
ensinar, nem vê as crianças como seres nulos que devem aprender tudo; ao
contrário, sabe que ele e as crianças têm que se relacionar dentro de um mútuo
intercâmbio de ensinar-aprender" .
O professor Antonio Faundez,
no seu lindo texto intitulado Dialogue pour te développement et le
développement du dialogue, salienta a necessidade do diálogo no ato de
construção do conhecimento ao comentar: "Se analisarmos etimologicamente o
verbo francês que indica a ação de conhecer (connaître), perceberemos que é
formado de duas partes (con-naître), que significam 'nascer juntos', isto é,
nascer com alguma coisa ou com alguém. Portanto, o ato de conhecer é um
nascimento partilhado, no qual dois seres renascem. O que queremos salientar é
que a construção do conhecimento é um processo social e não apenas individual
(...)". Trata-se de uma reformulação compartilhada, na qual professor e
aluno ensinam e aprendem um
com o outro, reestruturando-se. Nesse processo de
conhecer e compreender a realidade, o diálogo é fundamental, pois é através
dele que ocorrerá o intercâmbio entre o conhecimento popular de caráter empírico
e o conhecimento cientificamente organizado, "permitindo a criação de um
novo tipo de conhecimento, capaz de compreender a realidade a fim de
transformá-la".
Também Georges Gusdorf, no
seu cativante livro Professores, para quê?, ressalta a importância do diálogo
no processo educativo. Esse educador preconiza uma pedagogia do encontro e do
contato vital (p. 226), na qual a relação mestre-discípulo é o intercâmbio de
duas existências. Trata-se da confrontação do homem com o homem (p. 235). E o
diálogo é a própria essência da relação mestre-discípulo, que é uma relação de
reciprocidade, uma mobilização e um reagrupamento de energias (p. 102).
Para Gusdorf, a situação
pedagógica é uma situação de encontro existencial e de coexistência entre duas
personalidades. É um diálogo aventuroso, um colóquio singular entre dois seres
que se expõem e se revelam um ao outro (p. 206). Mestre é aquele que surge num
dado momento e numa certa situação como testemunha de uma verdade,
representante de um ideal ou revelador de um saber (p. 309). Assim, de acordo
com a situação vivencial, todos nós podemos ser mestres e discípulos, pois
estamos sempre ensinando o que sabemos e aprendendo o saber de outros.
"Nada permite esclarecer melhor o mistério do ensino. A verdade só pode
surgir como resultado de uma busca e de uma luta que cada um de nós tem que
travar consigo próprio, por sua própria conta e risco".
Fizemos aqui uma breve
síntese do pensamento desses autores, porque eles nos mostram que a atitude do
professor, na sua interação com a classe e nas suas relações com cada aluno em
particular, depende da postura por ele adotada diante da vida e perante o seu
fazer pedagógico. Essa postura, por sua vez, é o reflexo de suas concepções,
sejam elas conscientes ou inconscientes, sobre o homem, o mundo e a educação.
Isto quer dizer que sua maneira de perceber o mundo, conceber o ser humano e
encarar a educação vai refletir no modo como se relaciona com os seus alunos.
De nada adianta conhecer novos métodos de ensino, usar recursos audiovisuais
modernos, se encaramos o aluno com um ser passivo e receptivo. Portanto, nossa
forma de ensinar e de interagir com os alunos vai depender do modo como os
concebemos (seres ativos ou passivos?) e da maneira como encaramos sua atuação
no processo de aprendizagem.
Quando o professor concebe o
aluno como um ser ativo, que formula idéias, desenvolve conceitos e resolve
problemas de vida prática através da sua atividade mental, construindo, assim,
seu próprio conhecimento, sua relação pedagógica muda. Não é mais uma relação
unilateral, onde um professor transmite verbalmente conteúdos já prontos a um
aluno passivo que os memoriza.
Se o que pretendemos é que o
aluno construa seu próprio conhecimento, aplicando seus esquemas cognitivos e
assimiladores à realidade a ser aprendida e desenvolvendo o seu raciocínio,
devemos permitir que ele exerça sua atividade mental sobre os objetos e até
mesmo uma ação efetiva sobre eles. O aluno exerce sua atividade mental sobre os
objetos quando opera mentalmente, isto é, quando observa, compara, classifica,
ordena, seria, localiza no tempo e no espaço, analisa, sintetiza, propõe e
comprova hipóteses, deduz, avalia e julga. É assim que o aluno constrói o
próprio conhecimento. Este tipo de procedimento didático que parte do que o
aluno já sabe, permitindo que ele exponha seus conhecimentos prévios e suas
experiências passadas, para daí formar novos conhecimentos, cientificamente
estruturados e sistematizados, exige uma relação professor-aluno biunívoca,
dialógica. Nessa relação o professor fala, mas também ouve, ou seja, dialoga
com o aluno e permite que ele aja e opere mentalmente sobre os objetos,
aplicando à realidade circundante seus esquemas cognitivos de natureza
operativa.
2.3. Autoridade versus
autoritarismo
Algumas pessoas podem pensar
que discutir a questão da autoridade e do autoritarismo seja um tema já
ultrapassado. No entanto, não o é. O professor Regis de Morais, no livro sob
sua coordenação intitulado Sala de aula - Que espaço é este?, mostra que este é
um tema bem atual. Vejamos o que ele diz, para em seguida fazermos algumas
reflexões sobre o assunto: "Um tempo que confunde coisas tão radicalmente
distintas como 'autoridade' e 'autoritarismo', é um tempo enfermo. (...)
Levando isto em conta, quero propor uma rediscussão do problema da autoridade
na sala de aula. Segundo o meu modo de perceber e avaliar as chamadas 'relações
pedagógicas', não consigo conceber tema mais contemporâneo e de vanguarda como
a questão que acabo de propor. Está na hora de perdermos o medo perante certos
problemas, superando inócuos trejeitos falsamente pedagógicos e modismos,
saindo à procura de um equilíbrio até hoje raramente alcançado (...). Urge, no
entanto, lembrarmos que a retomada do tema da autoridade é a retomada do próprio
tema do amor - coisa atemporal que alimenta os sonhos de todo ser humano".
Hoje em dia, é comum
encontrarmos pessoas que contestam a autoridade do professor em sala de aula
não em nome do bom senso, mas sim em nome de um falso humanismo e de um modismo
chamado laissez-faire ou não-diretividade, que geram um voluntarismo
espontaneísta e confundem erroneamente autoridade com autoritarismo. Ora, o bom
senso pedagógico nos mostra que a autoridade do professor é um fato, pois ela é
inerente a sua própria função docente.
Diz ainda Regis de Morais na
obra citada: "Os professores como que passam a ter vergonha de exercer uma
autoridade para a qual estão designados, uma autoridade que nada tem que ver
com traços autoritários desta ou daquela personalidade, mas que emerge do
próprio processo educacional e de ensino. (...) Hoje está posto um desafio que
precisa começar a ser enfrentado no exato espaço da sala de aula: o de se
recuperar o sentido da autoridade nas relações pedagógicas, sem qualquer
concessão a autoritarismos, que destes já estamos fartos. (...) Sabe-se que o
autoritarismo é a doença da autoridade. Toda autoridade é um valor, pois que é
garantia da liberdade. Mas qualquer valor, por mais puro que seja, quando se
hipertrofia, faz-se num antivalor. Eis por que fica muito necessário, ao
pensarmos especificamente na realidade da sala de aula, estabelecer certa
divisão de águas entre os mencionados antípodas. (...) Na verdade, o
autoritarismo é o tapume atrás do qual alguma incompetência se esconde. (...) Autoridade,
por sua vez, é homeostase, é equilíbrio (...). Ora, a autoridade do professor
nada tem a ver com policialismo; tem sim a ver com a conquista de uma
disciplina de vida que não se aprende em manuais, mas na própria escalada dos
obstáculos naturais".
No item anterior deste mesmo
capítulo, abordamos a importância da atitude dialógica na prática pedagógica.
Vimos que a postura dialógica supõe diálogo, intercâmbio de informações e
experiências, troca de idéias e opiniões. Por isso é frontalmente contrária à
postura autoritária, que pensa tudo saber e nada mais quer aprender, quer tudo
falar e nada ouvir.
Mas o fato de adotar uma
atitude que valoriza o diálogo e parte dos conhecimentos anteriores dos alunos,
não significa de forma alguma assumir uma atitude de laissez-faire, de
não-diretividade irresponsável e descompromissada, pois deixa os alunos ao léu,
sem rumo, desorientados, cada um por si, sem saber o que fazer e onde chegar. A
atitude dialógica supõe uma certa diretividade, pois o professor sabe onde quer
chegar com o seu ensino e ajuda o aluno a atingir esses objetivos, incentivando
a sua atividade e orientando a sua aprendizagem no sentido da construção do
conhecimento.
Assim, no exercício de sua
prática docente, o professor tem duas funções básicas, como já abordamos
anteriormente: a função incentivadora e a função orientadora. Ora, a autoridade
que ele exerce na sala de aula decorre dessas duas funções inerentes à sua
atividade docente. Trata-se, portanto, de uma autoridade incentivadora e orientadora:
é a autoridade de quem incentiva o aluno a continuar estudando e fazendo
progressos na aprendizagem, e a autoridade de quem orienta o esforço do aluno
no sentido de alcançar os objetivos por ambos desejados, visando a construção
do conhecimento.
Falando sobre a questão da
autoridade do educador e da atitude dialógica, o professor Olivier Reboul assim
se expressa: "O verdadeiro educador compreende que a autoridade por ele
exercida não é a sua; mostra, por toda a sua conduta, que não é o detentor da
autoridade, mas o testemunho. Essa autoridade é a da humanidade sobre todos os
homens, a da razão, da ciência, da arte, da consciência; o papel do educador
não é confiscá-la, mas atestá-la; (...); se lhes corrige as faltas (dos
alunos), admite ser também corrigido; se exige que dêem razão de seus atos,
admite que lhe peçam a razão dos seus. Não está acima deles, está com
eles".
Logo, se o ensino é a
orientação da aprendizagem visando a construção do conhecimento, a autoridade
do professor é a autoridade amiga, de quem estimula, incentiva, orienta,
reforça os acertos, mostra as falhas e ajuda a corrigi-Ias. É a autoridade de
quem auxilia a descobrir alternativas, mostra caminhos e abre perspectivas.
2.4. A questão da disciplina
na sala de aula
De acordo com Leif, em sua
obra Vocabulário técnico e crítico da Pedagogia e das Ciências da Educação (p.
121), o termo disciplina é usado, basicamente, em duas acepções diversas, que
resumimos a seguir:
a)Em
relação ao ensino, disciplina é um conjunto ou corpo específico de
conhecimentos com suas características próprias e métodos particulares de
trabalho. Nesse sentido, corresponde à matéria de ensino, conteúdo ou
componente curricular.
b)Em
relação ao indivíduo, disciplina é uma regra de conduta ou um conjunto de normas
de comportamento que podem ser impostas do exterior (heterodisciplina), ou que
podem ser aceitas livremente pelo indivíduo, regulando o seu comportamento
(auto disciplina).
Sheviakove Redl afirmam que,
no que se refere ao comportamento, disciplina é "a organização de nossos
impulsos para a obtenção de um objetivo. Do ponto de vista do grupo, a
disciplina é a subordinação dos impulsos dos indivíduos que o integram, com o
fim de se alcançar um objetivo comum".
A professora Therezinha
Fram, em artigo de sua autoria, de leitura interessante e agradável, afirma que
disciplina é a "formação interior de comportamento inteligente, ,que sabe
se dirigir, que sabe definir os seus objetivos e que sabe encontrar os melhores
meios para atingir esses objetivos".
Para essa educadora
brasileira, a pessoa disciplinada é aquela que dá ao seu comportamento uma
direção inteligente, isto é, uma direção que supõe um autocontrole, um controle
interno e consciente dos impulsos da vida e das motivações. "Disciplina no
que diz respeito à vida do indivíduo é aquela capacidade que ele tem de
orientar inteligentemente o seu comportamento, sabendo manipular as forças do
ambiente" com o qual interage, seja este o universo físico, seja o mundo
cultural e das instituições, ou seja o mundo das pessoas. É disciplinado do
ponto de vista da interação com o universo físico quem conhece as suas leis e
as utiliza para o bem comum. É disciplinado do ponto de vista da interação com
o mundo cultural e das instituições quem conhece as leis sociais e consegue
"entender o que a sociedade está exigindo dele", atuando para
aprimorar essa cultura e essas instituições. É disciplinado do ponto de vista
da interação com os seres humanos quem consegue desenvolver um conjunto de
atitudes no sentido de entender os outros e adaptar o seu comportamento às
diferentes situações em que vai atuar.
Portanto, a professora
Therezinha Fram nos apresenta uma concepção bem ampla de
disciplina, que equivale
ao conjunto das condições nas quais a aprendizagem global
se realiza, e a insere na perspectiva de uma autodisciplina.
O mais interessante é que
essa educadora considera a disciplina como uma construção. Não é uma prevenção,
nem tampouco tratamento de problemas. Trata-se de uma construção porque o aluno
vai conduzindo e dirigindo o seu comportamento de forma a construir a sua vida
e a vida da sua cultura.
Também o professor Walter
Garcia define disciplina como sendo a "ordenação de condições que
possibilitem a aprendizagem".
Como podemos verificar, o
conceito de disciplina está passando por uma modificação gradual: de um
conjunto de proibições e punições caminha-se em direção à prevenção e correção;
de uma disciplina rígida e severa baseada no temor e visando unicamente a
obediência às normas impostas de fora pela coerção (heterodisciplina),
caminha-se gradativamente em direção a uma autodisciplina.
A autodisciplina é um
conjunto de princípios e regras elaborado livremente pela pessoa, através do
contato com a realidade e da interação com os outros, e interiorizados pela
aprendizagem, pela tomada de consciência das exigências da vida pessoal e
social, e pela busca da autonomia através da atividade livre.
2.4.1. Da heterodisciplina à
autodisciplina
Essa evolução na forma de
conceber a disciplina coincide com as conclusões de Jean Piaget acerca do
desenvolvimento moral e social do indivíduo. De acordo com Piaget, o
desenvolvimento moral e social segue estágios que equivalem aos estágios do
desenvolvimento intelectual. Assim, no domínio da compreensão de regras, o
indivíduo tende a se desenvolver seqüencialmente de um estágio em que predomina
a moral heterônoma - chamada por Piaget de moral da obediência e do dever e
caracterizada pela atitude egocêntrica e pela obediência irrefletida às normas
impostas de fora para um estágio onde predomina a moral autônoma. A moral
autônoma caracteriza-se pela elaboração e aceitação consciente das regras, pela
relação de cooperação espontânea com os outros, pelo respeito mútuo e pela
reciprocidade de sentimentos. Nesta última etapa, na qual predomina a moral
autônoma (denominada por Piaget de "moral da autonomia da
consciência"), o indivíduo passa a compreender o verdadeiro sentido das
regras e consegue elaborar uma escala de valores.
Mas para que o
desenvolvimento acima descrito possa se processar, é muito importante a
contribuição do ambiente no qual a criança vive, principalmente no que se
refere ao tipo de relações sociais que ela mantém com os adultos com os quais
convive e interage. Assim, se ela desde cedo, em vez de se acostumar
simplesmente a obedecer normas impostas do exterior, tiver oportunidade de
participar da elaboração de padrões de comportamento e de normas de conduta em
conjunto com o adulto, tenderá a desenvolver mais facilmente a chamada moral
autônoma e a capacidade de autodirigir o seu comportamento.
A despeito da evolução da
concepção de disciplina, alguns adultos que lidam com crianças e jovens parecem
considerá-la desnecessária, e em nome de um pretenso "modernismo" ou
alegando adotar pseudoteorias mal compreendidas e mal digeridas, parecem até
ter medo de usar o termo disciplina. Mas nós, educadores, não devemos ter medo
das palavras. O professor Regis de Morais afirma: "não haja engano: é com
esforço e disciplina que se constrói um equilíbrio". Assim, a aprendizagem
é um processo interior que depende do esforço e da disciplina.
A disciplina interior é tão
importante em nossas vidas e no nosso relacionamento com as outras pessoas, que
o professor Olivier Reboul afirma que "a democracia, e principalmente a democracia
socialista, é o regime que exige mais disciplina".
Ora, a disciplina é
necessária também em sala de aula, como a ordenação das condições que
possibilitam a aprendizagem. A disciplina escolar é conseqüência da organização
total da escola, isto é, do modo como a escola está organizada, e também o
reflexo da relação que se estabelece entre o professor e o aluno.
Se pretendemos que nossos
alunos dirijam sua conduta de acordo com princípios coerentemente
estabelecidos, devemos trabalhar em sala de aula no sentido de desenvolver a
autodisciplina. Mas o aluno só introjeta normas de comportamento se ele as
pratica no seu dia-a-dia. Por isso, deve-se cultivar e dar condições para que o
aluno possa praticar e vivenciar a autodisciplina na rotina diária da sala de
aula. Para que isso ocorra, o professor precisa compreender e aceitar os
princípios da disciplina democrática e transportá-los para a sua prática diária
em sala de aula. Pois como já foi ressaltado, a disciplina da classe é, em
grande parte, uma conseqüência da relação professor-aluno.
Apresentamos, a seguir,
algumas sugestões que podem ajudar o professor a orientar a conduta de seus
alunos e a criar condições para o desenvolvimento da autodisciplina:
a) A necessidade de se
estabelecer padrões de comportamento.
Estabeleça, em conjunto com
os alunos, os padrões de comportamento a serem seguidos, permitindo que eles
analisem e discutam as normas de conduta propostas, expressando sua opinião a
respeito de cada uma delas e contribuindo com sugestões.
Quando os alunos podem
discutir e opinar sobre as regras de comportamento a serem seguidas por cada um
deles, em particular, e pela classe, em geral, eles tendem a aceitá-las e
adotá-las mais facilmente. Assim, os regulamentos estabelecidos em conjunto costumam
ser respeitados pelo grupo. Quando o aluno pode participar da discussão e
decisão das regras, ele tem mais motivação para respeitá-las. "O primeiro
contato do professor com a turma é de alta importância. Se ele se fizer por
meio de uma sessão de grupo, da qual todos participem, e se as normas e
diretrizes forem propostas e aceitas pelo grupo, prepara-se a atmosfera ótima
para um trabalho proveitoso, e estabelece-se um 'rapport' positivo entre o
mestre e os discípulos. A liderança do professor não desaparece, mas ela é
compartilhada, e todos se sentem responsáveis pelo bom êxito do curso".
Nas escolas onde lecionamos,
fizemos um trabalho no sentido de estabelecer padrões de comportamento em
conjunto com os alunos, e percebemos que estes, por incrível que pareça, são
mais rígidos e exigentes do que os próprios professores, quando se trata de
propor normas de conduta. Pois eles sabem, melhor do que ninguém, que um aluno
indisciplinado e bagunceiro atrapalha os colegas que querem estudar e aprender.
Verificamos também que, quando os alunos têm a oportunidade de participar da
elaboração de um "código" de comportamento, eles tendem a respeitar e
assumir o que foi proposto em conjunto pelo grupo, acatando e adotando mais
facilmente as regras na prática cotidiana da sala de aula.
b) Use procedimentos
positivos de orientação da conduta, visando sempre desenvolver o auto-conceito
positivo dos alunos.
Auto-conceito é o conceito
que alguém tem de si próprio, é a imagem que faz de si mesmo, tanto do seu
interior (personalidade) como exterior (aspecto físico). Logo, auto conceito é
a auto-imagem que influi na auto-estima. Por sua vez, a auto disciplina é um
controle interno. Portanto, o desenvolvimento da auto disciplina está
relacionado à formação do auto conceito positivo. Por isso, deve-se usar, como
forma de orientar a conduta, o reforço positivo, elogiando e dando destaque ao
comportamento adequado.
A professora Ana Maria
Poppovic e seus colaboradores, na obra Pensamento e linguagem, destinada às
professoras das classes de 1ª série do ensino fundamental que se iniciam no
magistério, afirmam que "elogios e recompensas ajudam mais a motivar o
aluno do que críticas e punições. (...) Um comportamento elogiado tende a
aparecer de novo". Mas ressaltam: "O elogio precisa ser feito nas
oportunidades adequadas. Se for dado à toa perde o valor de reforço. No
entanto, você não deve ser econômica em elogios, nem tampouco desperdiçar
oportunidades de reforçar positivamente seus alunos. Elogie sempre, nas
ocasiões que achar oportunas". Elogie os comportamentos adequados, bem
como o empenho e o esforço demonstrados, pois assim você estará orientando a
conduta do aluno e estimulando-o a progredir na aprendizagem.
Na mesma obra (p. 165), Ana
Maria Poppovic e seus colaboradores sugerem, também, que o professor ponha em
prática, na sala de aula, o que eles denominam de "os três
motivadores":
- Eu sou alguém.
- Eu respeito os outros.
- Eu quero que os outros me
respeitem.
Com esses "três
motivadores", o que se pretende é formar o auto conceito positivo dos
alunos e ajudá-los a desenvolver a autodisciplina, fazendo-os perceber que cada
um deles é uma pessoa diferente das outras, com características próprias, com
aptidões e habilidades, preferências e interesses, com qualidades e defeitos,
aspectos positivos e negativos; que cada um deles quer ser respeitado pelos
demais, mas, por outro lado, também deve respeitar os outros colegas, o
professor, as outras pessoas. A melhor forma de se fazer respeitar é
respeitando os outros.
Quando o professor tiver que
repreender um aluno por algum comportamento inadequado, deve
procurar não fazê-lo
em público, nem submeter o aluno
a tratamento vexatório. As repreensões devem ser feitas, na medida do possível,
em particular e não devem ser degradantes. Não se deve envergonhar um aluno na
frente da classe.
O professor também deve
procurar não rotular o aluno. O comportamento do aluno em sala de aula é muito
influenciado pelo conceito que ele faz de si próprio (auto-conceito) e pela
expectativa que o professor tem dele (e o aluno percebe o que o professor
espera dele). Assim, o aluno que foi rotulado de "problema",
"indisciplinado", "desajustado", tende a introjetar esses
estereótipos, formando um conceito negativo de si. E o que é pior: tende a agir
dessa forma, reproduzindo o comportamento que é esperado dele.
O professor Luiz Alves de
Mattos, no seu livro Sumário de Didática geral (p. 218), menciona uma pesquisa
feita por Briggs sobre os procedimentos adotados pelos professores para
orientar a conduta de seus alunos e a conseqüente eficácia dessas técnicas. Os
resultados da pesquisa mostram que, dos procedimentos adotados, os que surtiram
mais efeito, isto é, os que apresentaram os resultados mais positivos no
sentido de ajudar a melhorar a conduta do aluno, foram os seguintes: em
primeiro lugar, a conversa particular (franca e amistosa); em segundo lugar, o
reconhecimento de que o aluno está progredindo; em terceiro lugar, o elogio
público; e, em quarto lugar, a repreensão em particular. Os procedimentos que
não surtiram o efeito esperado e até acarretaram resultados negativos, fazendo
o aluno incidir no comportamento inadequado, foram os seguintes: expor o aluno
ao sarcasmo público; reclamação de que o aluno está piorando; fazer sarcasmo do
aluno em particular; repreensão pública.
Essa pesquisa ratifica o que
dissemos anteriormente, pois o que podemos deduzir dos resultados da pesquisa
realizada por Briggs é que os procedimentos positivos de orientação da conduta
são os mais eficazes. Os procedimentos que contribuíram para a melhoria da
conduta dos alunos foram aqueles que se baseiam no reforço positivo e que o
ajudam a formar seu auto-conceito positivo.
c) Procure explicar a razão
de ser das regras de conduta adotadas, mostrando por que elas são necessárias.
No caso de uma repreensão em particular, explique ao aluno por que seu
comportamento é inadequado.
A aceitação de normas é
necessária para se viver em sociedade. "A vida em comum exige que
respeitemos leis, normas, regulamentos... Se assim é, deve ser natural
aceitarmos tais regras, desde que não nos pareçam arbitrárias". Por isso,
é.preciso mostrar ao aluno que o estabelecimento das regras de conduta não é
algo arbitrário. Cada uma delas tem uma razão de ser na dinâmica da escola em
geral, e da sala de aula em particular, pois visam o bom andamento dos
trabalhos escolares.
Se o professor puder
explicar a seus alunos o porquê das regras e dos regulamentos escolares, talvez
sejam menores os problemas de disciplina. Ê importante discutir cada regra com
a classe, para que os alunos possam entender por que algumas exigências
precisam ser feitas. Durante a explicação, leve em conta as sugestões e
opiniões dos alunos, procurando deixar bem claro que as regras que foram
propostas pelo grupo precisam ser respeitadas.
d) Respeite e leve em conta
a história pessoal do aluno.
A indisciplina na escola é
uma reação do aluno decorrente de seu desinteresse, de sua inadaptação,
insatisfação, frustração ou revolta. Atrás de cada caso de indisciplina há um
problema a ser analisado e solucionado. O professor pode evitar frustrações,
desajustamentos e a conseqüente indisciplina, se considerar as experiências
anteriores dos alunos e sua história pessoal de vida, e se tratá-los com
compreensão e respeito.
No caso de um aluno que
demonstra constantemente comportamentos inadequados e revela com freqüência
problemas de indisciplina, desajustamento e inadaptação, o professor pode
realizar entrevistas com ele e com seus pais ou responsáveis, fazendo um estudo
do caso, para tentar encontrar uma forma de ajudá-lo a melhorar sua conduta.
Vejamos um exemplo: um aluno mostra-se muito irrequieto e indisciplinado,
recusa-se a fazer as atividades escolares e briga constantemente com os
colegas. Ele pode estar passando dificuldades de natureza afetiva e emocional,
causadas por situações conflitantes vivenciadas por ele em casa, na escola ou
com seu grupo de colegas. As causas dessa conduta podem ser as mais variadas.
Cabe ao professor investigá-las, conversando com o aluno e com seus pais ou
responsáveis. Vamos mencionar uma dentre as muitas causas possíveis: esse
comportamento pode ter-se originado no fato de o aluno não se sentir aceito por
seus companheiros. Assim, chamando
constantemente a atenção do professor e dos colegas, ele tenta compensar o
sentimento de rejeição. Tendo perdido a auto confiança e a auto-estima, tende a
reproduzir, na sala de aula, uma atitude que corresponda à expectativa que dele
fazem os pais e colegas.
Muitas vezes, os problemas
de ordem afetiva e emocional extrapolam o âmbito de atuação do professor. Nesse
caso, o que ele pode fazer é conversar com os pais ou responsáveis pelo aluno e
encaminhá-lo a um profissional especializado, que tenha condições de oferecer o
tratamento necessário e o acompanhamento adequado ao caso.
e) Incentive e permita que
os alunos participem ativamente da organização escolar e da dinâmica da sala de
aula.
Quando o aluno está motivado
e participa ativamente do processo ensino-aprendizagem, ele se concentra mais e
aprende melhor, e, em geral, não apresenta problemas de disciplina.
"Enquanto participa, ele concentra todas as suas energias na situação de
aprendizagem. E assim mantém seu interesse, sem ter tempo de ser
indisciplinado. (...) A motivação é um fator fundamental para a aprendizagem.
Se não estiver motivada, a criança perde o interesse. Por causa desse
desinteresse ela muitas vezes fica indisciplinada. Uma forma importante de
motivar a criança é estimular sua iniciativa.
Também o professor Luiz
Alves de Mattos se pronuncia sobre a relação entre motivação e disciplina,
afirmando: "A autêntica motivação é, por excelência, o melhor recurso
disciplinar, porquanto proporciona um forte condicionamento interior às
atitudes e ao comportamento dos alunos, integrando-os na tarefa escolar em
pauta. Ao aluno devidamente interessado e motivado não ocorrem as tentações da
indisciplina; estas sobrevêm e o dominam quando ele está em disponibilidade
mental, sem qualquer interesse que polarize sua atenção e lhe dê uma ocupação
imediata em vista de um objetivo definido".
Apresentamos a seguir
algumas sugestões que podem ajudar o professor a incentivar a participação do
aluno no processo ensino-aprendizagem e na dinâmica de sala de aula:
a)Apresente
atividades desafiadoras, que envolvam uma situação problema e mobilizem os
esquemas cognitivos de natureza operativa dos alunos. Estas atividades podem
ser individuais, ou então grupais. Os jogos e trabalhos em equipe, por exemplo,
estimulam o relacionamento entre os alunos e incrementam a integração da
classe.
b)Proporcione
atividades de expressão oral, nas quais o aluno possa ouvir e fazer-se ouvir,
falar sobre o que aprendeu e externar suas opiniões e suas dúvidas. Depois de
dar uma explicação sobre determinado conteúdo, peça para um aluno fazer oralmente
uma rápida síntese do assunto que foi explicado. Isto ajuda a manter os alunos
atentos, pois eles sabem que precisam prestar atenção na explicação do
professor, porque serão solicitados a fazer um breve relatório oral do que foi
exposto para a classe. Quando um aluno apresentar uma dúvida sobre algum ponto
da explicação dada, antes de expor o assunto (novamente, verifique quais os
alunos que entenderam aquele tópico, e peça a um deles para explicá-lo à
classe, e, em especial, ao colega que não entendeu. Esta medida contribui para
desenvolver a cooperação entre os membros da classe, pois assim eles têm a
possibilidade de se ajudarem mutuamente no processo de construção coletiva do
conhecimento. Isto ajuda, também, a desenvolver a aprendizagem autopossuída,
que é aquela que se caracteriza pelo fato do aluno ter aprendido e saber que
aprendeu.
c) Distribua
funções e divida tarefas, como apagar a lousa, recolher os cadernos, passar o
cesto de lixo, distribuir o material, pendurar cartazes e quadros didáticos,
levar recados do professor a outros funcionários da escola etc. Os alunos
assumem essas funções e executam essas tarefas em rodízio. Isto permite que
todos participem da dinâmica da sala de aula e também se sintam responsáveis
por ela.
Convém ressaltar que o nível
de disciplina da classe está ligado ao grau de motivação dos alunos e dele
depende. "A necessidade do manejo e das intervenções disciplinares está
sempre na razão inversa da motivação. Quanto mais forte e intensa for a
motivação, tanto menor será a necessidade de manejo disciplinar. Inversamente,
quanto mais fraca e remissa for a motivação, tanto maior será a necessidade de
intervenções disciplinares, como que para compensar essa falta. O que, porém,
não padece qualquer dúvida é a superioridade e maior eficácia do processo
motivador sobre o processo disciplinador. Somente na medida em que faltam os
recursos incentivadores é que o professor pode e deve lançar mão dos recursos
disciplinares para garantir a necessária ordem na classe e dar andamento aos
trabalhos". Outro aspecto que deve ser salientado é que a auto disciplina,
sendo um controle interno, não é algo que o professor consiga de um momento
para outro, só numa aula ou através de uma simples conversa. É um comportamento
que precisa ser desenvolvido, e até treinado, dependendo de um trabalho
permanente e constante. Um dos meios mais eficientes para desenvolver a auto
disciplina é reforçar o comportamento adequado e a conduta positiva dos alunos,
sem exacerbar nas críticas negativas, pois o reforço positivo aumenta a
motivação e o sentimento de autoconfiança e de auto-estima.A professora Irene
Carvalho, falando sobre os problemas de disciplina que às vezes os professores
precisam enfrentar e tentar solucionar, assim se expressa: "Para tais problemas
não adianta dar conselhos. O professor terá de atuar de acordo com sua própria
personalidade e com o grau de experiência que possui. Estas palavras ou aquelas
medidas dão resultados com o professor A, mas são incompatíveis com o professor
B. Têm efeito na situação X, mas são inoperantes na situação Y. Em relações
humanas, não há fórmulas que se possam aplicar mecanicamente".
A única coisa que podemos
assegurar no que se refere à disciplina de sala de aula é que o professor
precisa e deve orientar a conduta dos alunos, de forma compreensiva, mas com
atitudes seguras. Como ele fará isso, vai depender da postura de cada professor
e das características de cada situação em particular, pois em educação não há
fórmulas prontas e acabadas.
2.5. Motivação e incentivação
da aprendizagem
Para que haja uma
aprendizagem efetiva e duradoura é preciso que existam propósitos definidos e
auto-atividade reflexiva dos alunos. Assim, a autêntica aprendizagem ocorre
quando o aluno está interessado e se mostra empenhado em aprender, isto é,
quando está motivado. É a motivação interior do aluno que impulsiona e vitaliza
o ato de estudar e aprender. Daí a importância da motivação no processo
ensino-aprendizagem.
Se voltarmos atrás no tempo
e fizermos uma sondagem na história do pensamento pedagógico, podemos verificar
que Quintiliano, que viveu de 33 a 95 d.C., já salientava a importância do
interesse no processo educativo.
Juan Luis Vives, que viveu
de 1492 a 1540, já chamava a atenção dos educadores para o valor da atenção e
do interesse no ato de aprender, fazendo considerações sobre a influência da
emoção e dos sentimentos no funcionamento da inteligência e da memória. Em
pleno século XVI, ele fazia referência ao que hoje em dia a terminologia
educacional moderna denomina a influência da área afetiva no campo cognitivo.
Pestalozzi, que viveu de
1746 a 1827, ressaltava a necessidade do educador fazer uma sondagem
sistemática do interesse do educando, a fim de conhecer os interesses
característicos de cada faixa etária e poder aproveitá-los na orientação do
processo de aprendizagem.
Stanley Hall (1844-1924)
preconizava que o organismo age e reage em função de estímulos internos,
dinâmicos e persistentes, que são os motivos do comportamento. Defendia a idéia
de que os interesses variavam de acordo com as diversas fases do
desenvolvimento, passando por uma evolução. Os interesses próprios de cada
etapa deveriam ser usados para nortear as atividades escolares daquela fase.
Claparede (1873-1940) fez um
estudo sobre a evolução dos interesses humanos, tentando sistematizar aqueles
que eram dominantes em cada fase do desenvolvimento biopsicológico do
indivíduo. Afirmava que o indivíduo age impulsionado pelo interesse do momento,
que funciona como a causa ou motivo do comportamento e liga as necessidades às
reações adaptativas para satisfazê-las.
Atualmente, a Psicologia,
que tenta assumir o status de ciência, procura estudar de forma mais
sistematizada a influência da motivação na aprendizagem. Aliás, este tem sido
um dos temas básicos da Psicologia da aprendizagem. No entanto, a história do
pensamento pedagógico nos revelou que a questão dos interesses e sua influência
no ato de aprender têm sido objeto da reflexão dos educadores ao longo de
muitos séculos.
É comum os professores
interrogarem como podem motivar mais seus alunos durante as aulas. O professor
Luiz Alves de Mattos responde a esta pergunta dizendo que, "dada a
natureza complexa e sutil da motivação, como fenômeno psicológico interior, no
qual as diferenças individuais, a experiência prévia e o nível de aspiração de
cada aluno desempenham um papel importante, não é possível à Didática traçar
uma técnica padronizada, segura e infalível para provocar ou gerar em cada caso
a desejada motivação interior para a aprendizagem. Contudo, de há muito os
didatas têm procurado estabelecer, por intuição e por experimentação,
procedimentos eficazes que gerem ou estimulem essa motivação. (...). A esse
conjunto de recursos e procedimentos envolventes e estimulantes chamamos de
incentivação da aprendizagem. Incentivação da aprendizagem é, assim, a atuação
externa, intencional e bem calculada do professor para, mediante meios
auxiliares, recursos e procedimentos adequados, intensificar em seus alunos a
motivação interior, necessária para uma autêntica aprendizagem,
proporcionando-lhes motivos polarizadores de interesse, de estudo e de
trabalho".
Desse trecho deduz-se que um
professor não pode motivar um aluno a aprender, pois a motivação é um processo
psicológico e energético, e como tal, pessoal e interno, que impele o indivíduo
para a ação, determinando a direção do comportamento. Sendo um fenômeno
psicológico, ocorre no interior do indivíduo e varia de acordo com as
diferenças individuais, as experiências anteriores e o nível de aspiração de
cada um. O que o professor pode fazer é incentivar o aluno, isto é, despertar e
polarizar sua atenção e seu interesse, orientando e canalizando positivamente
as fontes motivacionais.
Assim, a primeira coisa a
fazer quando se aborda esse assunto, é estabelecer uma distinção entre motivo e
incentivo. Motivo é um estímulo interno enquanto incentivo é um estímulo
externo. A ação pode ser estimulada e gerada tanto por fatores internos, que
são os motivos, como por estímulos externos, que agem como incentivos.
Assim, no sentido
psicológico, motivo é um impulso da conduta que corresponde a uma necessidade e
põe o ser humano em movimento, levando-o a agir. O motivo é sempre algo
interno, profundo e duradouro.
O interesse, por sua vez,
pode ser intrínseco e extrínseco. O interesse é intrínseco quando corresponde a
uma necessidade, tornando-se a manifestação de um motivo. Neste caso, o
interesse é persistente e duradouro.
O interesse extrínseco não
corresponde a uma verdadeira necessidade e não tem relação com a natureza da
atividade solicitada, sendo superficial, momentâneo e passageiro.
Psicologicamente, a
motivação é um estado de tensão, de dinamismo, de necessidade que provoca a
atividade, fazendo o indivíduo agir. Diz-se que uma pessoa está motivada quando
a atividade que realiza corresponde a uma necessidade psicológica ou a um
interesse intrínseco.
O professor não pode motivar
o aluno, pois este é um processo interno, mas pode sondar e aproveitar os
motivos já latentes, despertando nele os interesses intrínsecos, que são a
manifestação de um motivo.
Portanto, como diz a
professora Irene Carvalho, "a motivação é um fato interior, enquanto a
incentivação provém de forças ambientais, entre as quais situa-se a atuação do
professor, quando este tem plena consciência do valor da incentivação, e
realiza esforços deliberados para bem estimular seus alunos (...). A
incentivação só é operante se se transformar em motivação. Isto é: os estímulos
externos (incentivos) precisam sintonizar-se com motivos preexistentes
(estímulos internos) para conseguir algum resultado. Muitos incentivos chegam
até nós e nada conseguem, porque não encontram ressonância em nosso
interior". Isto quer dizer que o aluno aprende efetivamente aquilo que
corresponde a uma necessidade, a um motivo, ou a um interesse intrínseco.
Para incentivar os alunos a
estudar e aprender, o professor utiliza recursos ou procedimentos
incentivadores. Esses recursos devem ser usados não apenas no início da aula,
mas em todo o decorrer dela. "Motivos e incentivos são importantes em
todas as fases da aprendizagem, e não somente em seu momento inicial. Há muito
professor que só se preocupa com a incentivação no início da atividade, sem se
lembrar de que esta tem de ser reforçada no decorrer de todo o processo, a fim
de que a motivação não decresça, a ponto de até se extinguir".
Também o professor Luiz
Alves de Mattos se pronuncia a esse respeito, dizendo que "a incentivação
da aprendizagem não é apenas um passo preliminar do ciclo docente, mas uma
constante que deve permear todo o processamento dos trabalhos escolares,
através de todo o ano. Incentivar os alunos na sua aprendizagem não significa
despertar apenas a curiosidade ou o interesse momentâneo dos alunos,
mantendo-os atentos, mas passivos e inertes. A conquista do interesse e da
atenção dos alunos é apenas a preliminar da motivação. Partindo desse interesse
e dessa atenção, é necessário levar os alunos a atividades intensivas e
proveitosas, induzindo-os ao estudo, à reflexão, ao esforço e à disciplina espontânea
do trabalho discente. Essas atividades trarão aos alunos o prazer do sucesso
obtido pelos seus esforços pessoais. Todo o esforço bem-sucedido e como tal
reconhecido pelo professor é altamente educativo e motivador".
Como podemos concluir, a
participação intensa e ativa do aluno na aula depende do grau de motivação pelo
assunto ou atividade focalizada. Por outro lado, a incentivação da aprendizagem
deve ocorrer durante todo o desenrolar da aula e da unidade de ensino,
dependendo, em parte, do ambiente da sala de aula e do clima de relações
humanas nela existente.
Em geral, quando se pergunta
a um aluno de 5ª a 6ª série do ensino fundamental, ou a um aluno do curso
médio, ou mesmo do curso superior, qual a matéria do currículo que ele prefere
e qual a razão dessa escolha, é comum ouvirmos, como resposta, que a causa
principal da preferência está nas qualidades pessoais ou profissionais do
professor. Ou ele explica bem o assunto que está expondo, tornando o conteúdo
acessível e compreensível para os alunos, ou tem um bom relacionamento com a
classe, ou contagia seus alunos com a empolgação e vibração que revela pela
matéria que leciona. Assim, na maior parte das vezes, não é tanto o componente
curricular em si que interessa aos alunos, mas a pessoa que o ensina. Cabe ao
professor refletir sobre este fato, extraindo dele conclusões de ordem prática
que o ajudem a aperfeiçoar sua atuação docente.
Na verdade, um professor que
manifesta apatia e indiferença pelo assunto que expõe a seus alunos,
dificilmente conseguirá que eles se interessem por esse conteúdo. Por outro
lado, um professor que gosta do que faz e demonstra seu entusiasmo e interesse
pelo que ensina, tende a ter mais facilidade para incentivar seus alunos a
aprender aquele conteúdo e a se interessar por ele.
A seguir, apresentamos
alguns procedimentos que podem ajudar no processo de incentivação da
aprendizagem.
a)Faça
a articulação e a correlação do que está sendo ensinado aprendido com o real.
Assim, ao introduzir um novo conteúdo ou iniciar uma unidade didática, comece
pelos fatos e situações reais relacionados ao ambiente imediato (físico ou
social) e próximos lida experiência e da realidade vivencial do aluno. A partir
da correlação com o real, chega-se à abstração, à generalização e à elaboração
teórica, por meio da mobilização dos esquemas operatórios do pensamento, que
geram a reflexão e o raciocínio. Em seguida, faça os alunos aplicarem novamente
aos fatos, o conhecimento já organizado e sistematizado a partir do real.
b)Apresente
os novos conteúdos partindo de uma questão problematizadora ou
situação-problema, para a qual os alunos devem encontrar, individualmente ou em
grupos, uma explicação ou solução.
Através do processo da descoberta (que envolve ensaio e erro) e de
procedimentos, como a pesquisa, o diálogo e a análise das informações expostas
pelo professor, o aluno coleta dados que, aplicados à situação-problema
apresentada, ajudam a esclarecê-la, explicá-la ou resolvê-la.
c) Use
procedimentos ativos de ensino-aprendizagem, condizentes com a faixa etária e o
nível de desenvolvimento dos alunos. Isto quer dizer que, para incentivar a
aprendizagem, convém propor aos alunos atividades desafiadoras, que estimulem
sua participação e acionem e mobilizem seus esquemas operativos de cognição
(sejam eles sensório-motores, simbólicos ou operatórios). Os alunos devem
vivenciar situações de ensino-aprendizagem ativas, onde possam observar,
comparar, classificar, ordenar, seriar, fazer estimativas, realizar operações
numéricas a partir da manipulação de material concreto, localizar no tempo e no
espaço, coletar e analisar dados, sintetizar, propor e comprovar hipóteses,
chegar a conclusões, elaborar conceitos, avaliar, julgar, enfim, onde possam
agilizar e praticar as operações cognitivas.
d)Incentive
o aluno a se auto-superar gradualmente, através de atividades sucessivas de
progressiva dificuldade. Proponha pequenas tarefas e prepare os alunos para
realizá-las, proporcionando-lhes as condições necessárias para assegurar o seu
êxito imediato. Elogie e reforce o sucesso por eles alcançado no desempenho da
atividade, pois, em geral, os alunos demonstram interesse por aquilo que
conseguem realizar bem.
e)Planeje
as atividades do dia ou da semana em conjunto com a classe. Explique aos alunos
os objetivos de cada atividade, e o que se espera deles ao término de cada uma,
para que saibam o que devem fazer e qual a expectativa em relação ao seu
desempenho.
f) Esclareça
o objetivo a ser atingido com a realização de certa atividade ou o estudo de
determinado conteúdo, relacionando esse objetivo à realidade imediata do aluno.
Quando o aluno conhece a finalidade da atividade, tende a realizar esforço
voluntário para alcançar o objetivo. Mas é praticamente inútil tentar
incentivar os alunos informando-lhes, simplesmente, sobre o valor e a
importância do conteúdo ensinado e das vantagens remotas de sua aprendizagem. O
que ajuda a incentivar o aluno é o fato de ele perceber e verificar que aquilo
que aprende tem uma relação com a sua realidade imediata e apresenta vantagens
para sua vida real e presente. Os projetos de ação que apresentam metas mais
imediatas são mais significativos e têm uma carga motivadora mais forte. É
preciso aproveitar a predisposição que o aluno possui para aprender aquilo que
é significativo para ele.
g)Mantenha
um clima agradável na sala de aula, estimulando a cooperação entre os membros
da classe, pois as relações humanas que se estabelecem na sala de aula influem
na aprendizagem. Oriente e supervisione os trabalhos, acompanhando e assistindo
os alunos quando necessitarem. Elogie o esforço realizado por cada um e o
progresso alcançado, inspirando-lhes confiança e segurança na própria
capacidade de aprender e fazer progressos. Quando for o caso, mostre-lhes, com
compreensão, formas de melhorar o seu desempenho nos estudos. Convém lembrar
que a expectativa que o professor tem em relação ao desempenho do aluno, isto
é, o que o professor espera dele, tem um papel decisivo em seu aproveitamento
escolar.
h)Informe
regularmente os alunos dos resultados que estão conseguindo, analisando seus
avanços e dificuldades no processo de construção do conhecimento. Estimule-os a
continuar progredindo e incentive-os a encarar os erros, de forma onstrutiva,
isto é, como uma maneira de aprender e de se aperfeiçoar. Aqui a auto-avaliação
será muito útil. Por isso, estimule os alunos a se auto-avaliarem, verificando
seus pontos fortes e fracos, seus avanços e dificuldades, os aspectos em que
apresentaram um bom desempenho, e aqueles em que precisam melhorar ainda mais.
2.6. Direção de classe
Direção de classe é a
organização e apresentação das situações de ensino-aprendizagem, visando ajudar
o aluno no processo de construção do conhecimento. Como ensinar é orientar a
aprendizagem, e a direção de classe está basicamente relacionada à situação de
ensino, podemos dizer que ela é a orientação da aprendizagem, com o objetivo de
auxiliar o aluno a estruturar e sistematizar o conhecimento.
Algumas pessoas, alegando
serem adeptas do não-diretivismo e em nome do respeito às diferenças individuais
e da criatividade, alardeiam que a direção de classe é algo ultrapassado e
dispensável. Na opinião dessas pessoas, não cabe ao professor intervir na
aprendizagem dos alunos: cada um aprende o que quer na hora que estiver
disposto, e se não quiser não aprende. É o laissez-faire total, uma situação de
"deixar-fazer" levada ao extremo, onde cada um age de acordo com sua
própria conta e risco. E, com isso, o professor não precisa ensinar. A nosso
ver, esta posição é contrária à democratização do conhecimento. Se o aluno está
na escola, é para aprender, é para construir seu conhecimento, e cabe ao
professor ajudá-lo nesse processo. O conhecimento deve ser coletivamente
construído pelos alunos e pelo professor, sob a orientação deste último. Nessa
perspectiva, a direção de classe é necessária sim, e muito.
No nosso entender, não se
deve confundir o respeito à individualidade e à criatividade com uma situação
onde os alunos são deixados cada um por si, abandonados na sala de aula, sem
orientação, sem um rumo traçado, sem um objetivo a atingir. A educação é um
processo diretivo por natureza, pois sempre visa alcançar certos objetivos. Por
isso, cabe ao professor usar seu bom senso para saber quando será mais ou menos
diretivo. Mesmo quando deixa o aluno descobrir por si próprio, o professor
consciente tem certos objetivos a serem atingidos.
Ao aprender, o aluno está
construindo seu conhecimento. Nesse processo, alguns momentos são de
descoberta, outros de generalização e transferência do que foi aprendido, e
outros, ainda, de estruturação e sistematização. Em cada um desses momentos,
cabe ao professor perceber se deve ser mais ou menos diretivo, se deve ou não
interferir mais diretamente na aprendizagem do aluno e como fazê-lo sem tolher
sua iniciativa. Portanto, a diretividade na educação em geral, e no ensino em
especial, é uma questão de grau.
Nossa posição é corroborada
pelo professor Libâneo, que assim se expressa: "A nível do relacionamento
psicossocial entende-se uma revisão das formas de direção do trabalho escolar
incluindo questões como autoridade, estrutura organizacional e participação;
propõe-se uma forma de relacionamento professor-aluno onde o adulto não omite
seu papel de guia, expressando uma presença significativa para a criança: ainda
que permaneça um facilitador, não deve perder-se na ingenuidade do
não-diretivismo. Numa perspectiva de educação crítica, direcionada para uma
pedagogia social que privilegia uma educação de classe no rumo de um novo
projeto de sociedade, a escola pública possui papel relevante e indispensável.
Para isso, é preciso sim, dar aulas, fazer planos, controlar a disciplina,
manejar a classe, dominar o conteúdo e tudo o mais... Sabe-se que famílias
pobres apreciam uma escola onde há uma disciplina rigorosa e que exige dedicação
aos estudos".
Sobre o mesmo assunto, o
trecho apresentado a seguir, de autoria do professor Luckesi, aborda a mesma
questão, só que do ponto de vista mais amplo do processo educacional:
"Primeiramente e de um modo genérico, diria que educador é todo ser humano
envolvido em sua prática histórica transformadora. Em nossas múltiplas
relações, estamos dialeticamente situados num contexto educacional. Todos somos
educadores e educandos, ao mesmo tempo. Ensinamos e somos ensinados, numa
interação contínua, em todos os instantes de nossas vidas (...). Em segundo
lugar, e aqui está o núcleo de interesse para o momento, educador é o
profissional que se dedica à atividade de, intencionalmente, criar condições de
desenvolvimento de condutas desejáveis, seja do ponto de vista do indivíduo
seja do ponto de vista do agrupamento humano".
Transpondo essa idéia para o
campo mais específico da construção do conhecimento, podemos dizer que, embora
todos nós estejamos constantemente ensinando e aprendendo, cabe ao professor,
como profissional que é, prever, organizar e apresentar aos alunos situações
didaticamente estruturadas no sentido de ajudá-los a descobrir, generalizar e
sistematizar o conhecimento, transformando o conhecimento prévio de natureza
empírica em conhecimento cientificamente estruturado. Portanto, a direção de
classe é necessária, como forma de organizar e proporcionar atividades de
ensino-aprendizagem, visando a consecução de objetivos.
2.6.1. A direção de classe
supõe
a)planejar
as aulas;
b)selecionar
e estruturar os conteúdos;
c) prever
e utilizar adequadamente recursos incentivadores e materiais audiovisuais;
d)organizar
atividades individuais e grupais interessantes e bem dosadas, que auxiliem o
aluno na construção do conhecimento;
e)avaliar
continuamente os progressos realizados pelos alunos, mostrando os seus avanços
e dificuldades, e como podem aperfeiçoar o seu conhecimento.
f) A
seguir, apresentamos algumas sugestões que podem ajudar o professor a
aperfeiçoar sua postura pedagógica e facilitam o processo de construção do
conhecimento.
g)Faça
uma previsão dos conteúdos a serem desenvolvidos e das atividades a serem
realizadas, levando em conta os objetivos a serem atingidos, bem como os
interesses, as necessidades e o nível de desenvolvimento dos alunos. Ao planejar
o seu trabalho em sala de aula, o professor tende a se sentir mais seguro, pois
pode controlar mais facilmente as improvisações e os contratempos. Mas,
lembre-se: o planejamento deve ser flexível, adaptando-se aos interesses
manifestados pela classe em dado momento, pois só assim poderá satisfazer às
reais necessidades de aprendizagem dos alunos.
h)Faça
os alunos participarem no planejamento do trabalho diário da classe,
contribuindo com sugestões. Registre num canto do quadro-de-giz, em conjunto
com os alunos, as atividades a serem desenvolvidas no dia pela classe.
i) Esclareça
o que se pretende alcançar com a -aprendizagem de determinado conteúdo ou com a
realização de certa atividade, pois conhecendo os objetivos a serem atingidos,
os alunos tendem a manifestar mais interesse pelo trabalho e a empreender
esforços no sentido de alcançar esses objetivos.
j) Procure
adotar uma atitude dialógica na sua prática docente em sala de aula, para
facilitar a construção coletiva do conhecimento por parte dos alunos. Lembre-se
que o diálogo é fundamental para que o professor e os alunos possam construir
juntos o conhecimento. Para desencadear o diálogo convém partir de uma
situação-problema e aproveitar os conhecimentos prévios e as experiências
anteriores dos alunos.
k) Incentive
a participação ativa dos alunos na situação de aprendizagem, propondo-lhes
atividades desafiadoras que acionem e mobilizem seus esquemas operativos de
cognição. Assim sendo, proporcione situações problematizadoras, nas quais eles
tenham que observar, descrever, relatar, dialogar, ler, escrever, comparar,
identificar, diferenciar, classificar, seriar, ordenar, fazer operações
numéricas, fazer estimativas, localizar no tempo e no espaço, explicar,
analisar, sintetizar, conceituar, deduzir, concluir, interpretar, escolher e
justificar as escolhas feitas, julgar, avaliar, propor e comprovar hipóteses
etc. Para conseguir a maior participação dos alunos, é preciso usar um método
ativo ou operativo (de acordo com a terminologia de Jean Piaget), que acione e
mobilize os esquemas mentais do indivíduo, agilizando suas operações
cognitivas.
l) Ao
introduzir um conteúdo novo, verifique o que os alunos já sabem sobre o mesmo,
e aproveite suas experiências anteriores e seus conhecimentos prévios sobre o
assunto estudado. Parta de situações significativas, ligadas à realidade vivida
pelos alunos. Depois, apresente para a classe situações de organização e
aplicação do novo conhecimento, proporcionando atividades que façam os alunos
aplicar e sistematizar o que aprenderam.
m) Mantenha
os alunos sempre ocupados, em constante atividade, pois "o trabalho e a
atividade mental são sempre as melhores garantias de disciplina em
classe". Assim, planeje e propicie aos alunos atividades individuais e
grupais de ensino-aprendizagem interessantes e bem dosadas. Explique o que é
para ser feito em cada atividade, dando instruções claras e objetivas. No caso
do trabalho em grupo, oriente os alunos para trabalhar em equipe, propondo, em
conjunto com eles, padrões de comportamento e normas de conduta. Circule pela
classe, procurando observar os alunos trabalhando. Verifique as dificuldades de
cada um, para ajudá-los a superá-las.
n)Observe
os avanços de seus alunos no processo de construir o conhecimento
e avalie continuamente
os progressos por eles realizados nos estudos,
fornecendo-lhes, como retorno ou feedback, o resultado das avaliações. Mas não
lhes apresente simplesmente uma nota ou um conceito frio e impessoal.
Mostre-lhes as provas, os trabalhos e os exercícios que serviram como instrumentos
de avaliação, já devidamente corrigidos, para que eles possam verificar o que
acertaram e o que erraram, e como podem melhorar nos estudos.
o)Ao
avaliar, não demore muito para corrigir as provas, trabalhos ou exercícios,
pois quanto mais rápido for dado o retorno da avaliação, isto é, quanto mais
rápido os alunos souberem o que acertaram e o que erraram, mais fácil será para
eles avançar na construção do conhecimento.
p)Incentive
os alunos a avaliar o próprio trabalho, praticando, assim, a auto-avaliação. O
aluno, quando bem orientado, também sabe dizer quais são seus pontos fortes, o
que aprendeu e em que precisa melhorar. Se pretendemos que nossos alunos
desenvolvam a noção de responsabilidade e uma atitude crítica, é preciso criar
oportunidades para que eles pratiquem a auto-avaliação, começando por analisar
a si mesmos, seus erros e acertos, e assumir a responsabilidade por seus atos.
Os alunos devem adotar uma atitude crítica inicialmente sobre seu comportamento
e em relação a seus próprios conhecimentos.
q)Procure
enfatizar os progressos realizados pelos alunos no seu processo de construção
do conhecimento e valorizar o esforço que cada um empreendeu. Procure, também,
salientar os comportamentos adequados do ponto de vista do convívio grupal,
porque os elogios e a valorização do comportamento desejado ajudam mais a
motivar o aluno do que críticas e punições. Não repreenda publicamente um aluno
de forma humilhante, pois isto seria degradante, nem castigue a classe inteira
pela falta cometida por um só, pois isto seria injusto.
r) Distribua
funções e divida tarefas de modo a permitir que os alunos participem mais
ativamente da dinâmica da sala de aula e cooperem em suas atividades
rotineiras. Assim, estabeleça um sistema de auxiliares do dia ou da semana, no
qual os alunos fiquem responsáveis, em rodízio, por certos encargos, como
apagar o quadro-de-giz, recolher os cadernos, distribuir material, arrumar a
sala após a aula etc.
3 - ENSINO APRENDIZAGEM
O que pretendemos com este
capítulo é ampliar a discussão da nossa visão sobre o que julgamos ser um
problema central em sala de aula: a opção que o professor faz pelo ensino que
ministra ao aluno ou pela aprendizagem que o aluno adquire, qual a diferença
entre as duas perspectivas e suas conseqüências.
3.1. Qual o significado de
ensinar e de aprender?
Se procurarmos decodificar o
significado de “ensinar”, encontramos verbos como: instruir, fazer saber,
comunicar conhecimentos ou habilidades, mostrar, guiar, orientar, dirigir - que
apontam para o professor como agente principal e responsável pelo ensino.
Já quando falamos em
“aprender”, entendemos: buscar informações, rever a própria experiência,
adquirir habilidades, adaptar-se às mudanças, descobrir significados nos seres,
fatos e acontecimentos, modificar atitudes e comportamentos - verbos que
apontam para o aprendiz como agente principal e responsável pela sua
aprendizagem.
Entendemos que toda e
qualquer instituição de ensino, qualquer que seja seu nível, justamente porque
existe em função do aluno e da sociedade na qual se insere, deverá privilegiar
a aprendizagem de seus alunos sobre o ensino de seus professores. Entendemos
muito bem que aprendizagem e ensino possam estar indissociáveis.
3.1.1. Aprender o quê? Para
quê?
É alta a freqüência com que
os livros de Psicologia Educacional apresentam a proposta a respeito de
objetivos de aprendizagem, segundo a qual há três categorias de aprendizagem
com as quais o educador se preocupa.
Em primeiro lugar, o aluno
pode aprender de um modo cognitivo ou dentro de uma área de conhecimentos; aqui
se encontram as informações de que o aluno dispõe, a generalização destas para
outras situações diferentes, os conceitos e seus inter-relacionamentos, as
soluções para problemas em níveis cada vez mais criativos: o que o aprendiz
conhece e compreende.
Dentro de uma segunda
categoria, o aluno modifica suas atitudes, isto é, os valores que dá ao que
conhece, os sentimentos que experimenta diante de fatos e idéias.
Exemplificando: cognitivamente, o aluno A
sabe como se deve fazer uma pesquisa bibliográfica sobre um tema qualquer; o
aluno B conhece as variáveis
presentes numa situação grupal e compreende seu funcionamento. Atitudinalmente,
o aluno A tem uma atitude negativa
(desvaloriza, não vê significado, não gosta) em relação a pesquisas
bibliográficas; o aluno B tem uma
atitude positiva (acha que é bom, sente-se bem) em relação a sua própria
participação em pequenos grupos.
Há, ainda uma terceira
categoria, a das habilidades, quando o aluno aprende a fazer, a lidar com
alguma coisa. Nosso aluno A pode não
ter desenvolvido a habilidade de realizar pesquisas bibliográficas, a despeito
de saber “teoricamente” todos os passos necessários para isso, ou até nunca ter
posto os pés numa única biblioteca.
Nosso aluno B pode ser capaz
de se desempenhar efetivamente dentro de um pequeno grupo ou não ser
absolutamente capaz de manejar aquelas variáveis que ele conhece, compreende e
valoriza.
Deve ter ficado claro que
nós, professores, lidamos com o que o aluno aprende, não só cognitivamente, mas
também em termos de atitudes e habilidades.
O esquema que se segue,
reúne dentro de uma perspectiva educacional humanista, quatro tendências de
aprendizagem, cada uma incluindo uma resposta mais abrangente ao “para quê”.
3.1.1.1. Primeiro, aquela
tendência que privilegia o desenvolvimento mental (o aspecto cognitivo), com os
seguintes objetivos: que o aluno aprenda a captar e processar informações,
organizar dados, apreender e relacionar conceitos, perceber e resolver
problemas, criar conceitos e soluções.
Utiliza estratégias específicas para desenvolver o pensamento e o
raciocínio de seus alunos.
Esta corrente responde as
exigências do aluno que vem às nossas escolas em busca de informação que o
habilitem a exercer uma profissão na sociedade; responde a solicitações de uma
sociedade que exige profissionais cada vez mais competentes, mais
especializados e mais técnicos.
3.1.1.2. Uma segunda
tendência de aprendizagem privilegia o desenvolvimento da pessoa com os
seguintes objetivos: que o aluno realize o desenvolvimento de sua
sociabilidade, comunicabilidade, cultura, valores, competência profissional,
organização interna, relacionamento com o ambiente e com a sociedade. Procura que se reorganizem os valores, que se
crie um clima onde os sentimentos e os problemas dos alunos venham à tona.
3.1.1.3. Uma terceira linha
de aprendizagem privilegia o desenvolvimento das relações sociais. Entende como
fundamental criar-se uma interação entre o mundo individual e o mundo social,
não apenas o sentido de a sociedade estar subsidiando as necessidades do
indivíduo e da sua família, mas também no sentido de o indivíduo e da sua
família estarem se comprometendo efetivamente com o desenvolvimento da
sociedade.
Entende como exigência do
desenvolvimento de qualquer ser humano que ele aprenda a situar-se
historicamente no tempo e no espaço: estar aberto para captar os fatos, os
acontecimentos que agitam a si mesmo, a sua família, ao seu trabalho, à sua
classe, à sua cidade, ao seu país, ao mundo, à sociedade da qual é membro;
estabelecer e compreender as relações entre esses mesmos fatos e
acontecimentos; relacioná-los com a nossa história; analisar criticamente os
encaminhamentos e soluções apresentadas por seus dirigentes; dentro de suas
condições de profissional e cidadão, participar da vida desta sociedade,
criando uma realidade co-participada.
3.1.1.4. Uma quarta linha de
aprendizagem privilegia o desenvolvimento da capacidade de decidir, o
desenvolvimento de habilidade para assumir responsabilidade social e
política. Lembramos que esta corrente
também se preocupa com os aspectos cognitivo, afetivo e social do aprendiz,
como as demais. Apenas que toma este
último aspecto como a característica sob a qual procura desenvolver os demais.
Entende esta corrente que a
aprendizagem deverá levar o aprendiz a uma nova postura diante dos problemas de
seu tempo e da sociedade, que se caracteriza por criar disposições democráticas
através das quais se substituam hábitos de passividade por novos hábitos de
participação e ingerência.
Conseqüentemente, esta
tendência privilegiará as atividades que permitam aos alunos desenvolver, nos
mais diversos níveis, as habilidades de participação em sua aprendizagem, no
seu curso, na sua escola e assim por diante, nas circunstâncias mais diversas.
3.1.2. Há alguns princípios
comuns de aprendizagem?
Existem alguns princípios
que são comuns a todos os que se preocupam com a aprendizagem do aluno. São
eles:
3.1.2.1. Toda aprendizagem, para que realmente
aconteça, precisa ser significativa
para o aprendiz, isto é, precisa envolvê-lo como pessoa, como um todo (idéias,
sentimentos, cultura, sociedade). Isto exige que a aprendizagem:
a)se relacione com
o seu universo de conhecimentos, experiências, vivências;
b)permita-lhe formular
problemas e questões que de algum modo o interessem, o envolvam ou que lhe
digam respeito;
c) permita-lhe entrar em
confronto experiencial com problemas práticos de natureza social, ética,
profissional, que lhe sejam relevantes;
d)permita-lhe participar com
responsabilidade do processo de aprendizagem;
e)permita-lhe e o ajude a
transferir o que aprendeu na escola para
outras circunstâncias e situações de vida;
f) suscite modificações no
comportamento e até mesmo na personalidade do aprendiz.
3.1.2.2. Toda aprendizagem é pessoal.
Lembremo-nos de que a aprendizagem envolve mudança de comportamento ou de
situação do aprendiz e isto só acontece na
pessoa do aprendiz e pela pessoa do
aprendiz. É um pouco a afirmação do óbvio: “ninguém aprende pelo outro”.
3.1.2.3. Toda aprendizagem precisa visar objetivos
realísticos. Isto é, que possam de fato ser significativos para aqueles
alunos e que possam concretamente ser atingidos nas circunstâncias em que o
curso é ministrado.
3.1.2.4. Toda aprendizagem precisa ser acompanhada de
feedback imediato. Entendemos que a aprendizagem se faz num
processo contínuo e que o feedback é
elemento integrante desse processo, pois deverá fornecer ao aluno e ao
professor dados para corrigir e reiniciar a aprendizagem.
3.1.2.5. Toda aprendizagem precisa ser embasada em um
bom relacionamento interpessoal entre os elementos que participam do
processo, ou seja, aluno, professor, colegas de turma. São características
deste relacionamento o comportamento de diálogo, colaboração, participação, trabalho
em conjunto, clima de confiança, o professor não sendo um obstáculo à
consecução dos objetivos propostos e não sendo percebido como tal.
3.1.3. Em conclusão, como se
caracteriza o papel do professor?
O papel do professor
desponta como sendo o de facilitador da aprendizagem de seus alunos. Seu papel não é ensinar, mas ajudar o aluno a
aprender; não é transmitir informações, mas criar condições para que o aluno
adquira informações; não é fazer brilhantes preleções para divulgar a cultura,
mas organizar estratégias para que o aluno conheça a cultura existente e crie
cultura.
E para facilitar a
aprendizagem de seus alunos, suas perguntas costumeiras, tais como: “que devo
ensinar?”, “como poderei demonstrar que ensinei?”, “como poderei ensinar toda a
matéria que devo?”, serão substituídas por: “que objetivos pretendo que meus
alunos alcancem?”, “quais são as expectativas dos meus alunos ao virem fazer
meu curso?”, “como envolvê-los?”, “que pretendem aprender?”, “que poderei fazer
para facilitar seu desenvolvimento e sua aprendizagem?”
Ao se dispor a responder a
estas perguntas, o professor reconhecerá que toda a realidade humana e social
se encontra num contínuo e rápido processo de mudanças e transformações, quando
não de revoluções, em todos os setores da vida e atividade da comunidade
humana, nos seus valores e nos seus aspectos econômicos, políticos, sociais e
culturais. Por isso, ao mesmo tempo em
que o professor desencadeia o interesse pela pesquisa, indagação e análise de
todos os aspectos da vida humana, entenderá também que a aprendizagem, antes de
tudo, exige uma contínua abertura para modificações, tanto por parte do aluno
como do próprio professor.
3.2. Plano de ensino
3.2.1. O que é um plano de
ensino? Que papel cumpre?
Ao se propor a assumir uma
disciplina, o professor precisa decidir o que pretende que seus alunos aprendam
até o término do período letivo; que conteúdo vai tratar em classe, que parte
vai deixar de lado, por não serem essenciais; que recurso vai usar para
facilitar a aprendizagem dos alunos e torná-la mais significativa; e assim por
diante.
Um plano de ensino,
portanto, é a apresentação, sob forma organizada, do conjunto de decisões
tomadas pelo professor em relação à disciplina que se propôs a lecionar. É feito, portanto, antes do curso se iniciar
efetivamente; não é, porém, uma linha de ação fechada, inflexível; pelo
contrário deve ir-se adaptando à medida que a interação com os alunos vai
ocorrendo, e o feedback resultante indica formas alternativas mais eficientes.
O professor que se
responsabiliza por uma disciplina, comunica-se com chefes de departamento da
instituição, apresentando-lhe seu plano de ensino. É uma maneira de se evitar
duplicação de programações, de se chegar a uma possível integração de disciplinas
e de se evitar que alguns conhecimentos essenciais deixem de ser tratados junto
aos alunos, por nenhum professor ter se proposto a isso.
Em outra instância, o plano
de ensino serve como elemento de comunicação entre professores que lecionem
disciplinas afins.
Também com a própria classe
o professor estabelecerá comunicação se expuser o plano que elaborou, em que
pontos pode ser modificado etc. Uma visão clara de aonde o professor pretende
que os alunos cheguem ao final do curso,
bem como dos meios
que serão utilizados para isso e dos critérios pelos quais a avaliação
será feita, dão aos alunos segurança na sua relação com o professor, bem como
permitem aos alunos fornecerem feedbacks que possibilitem um aperfeiçoamento do
próprio plano de ensino inicial.
3.2.2. Tipos diferentes de
plano de ensino
Um plano de ensino que o
professor pretende para seus alunos durante todo um ano (ou todo um semestre),
determina objetivos próprios para sua área de conteúdo, tais como: as unidades
que compõem o plano de disciplina, considerando-as as mais necessárias; as
estratégias do curso e as formas de avaliação.
Além do plano de disciplina,
o professor faz, para cada aula ou agrupamento de duas ou três aulas, um plano
de unidade. Este plano de unidade prevê cada comportamento que se espera do
aluno, enquanto objetivo daquela aula; cada atividade, cada exigência, cada
produto a ser avaliado e quais os critérios dessa avaliação; todo o material a
ser providenciado - e assim por diante.
3.2.3. Como elaborar um roteiro
de plano de disciplina?
3.2.3.1. Identificação
Em primeiro lugar, sob forma
de cabeçalho, coloca-se a identificação do plano. Esta identificação inicial
tem o papel de tornar mais rápida e mais fluente a comunicação entre o
professor, e os alunos ou outros professores. A identificação torna possível
que o plano de disciplina seja um documento a ser consultado no futuro. Por
outro lado, uma análise conjugada das outras partes do plano com os dados
oferecidos no item da identificação permite um julgamento sobre a adequação de
suas decisões.
3.2.3.2. Objetivos e sua
relação com os objetivos do plano de curso
Os chamados objetivos
educacionais devem dizer de forma clara qual a função daquela disciplina no
conjunto do curso, para quais aprendizagens concorre, de que forma contribui
para o aluno poder conseguir os objetivos propostos, o que se espera que os
alunos tenham apreendido após estudarem aquela disciplina.
3.2.3.3. Tema (Conteúdo
Programático)
Em terceiro lugar,
explicita-se qual o tema que será tratado. Explicita-se qual o tema de cada
unidade e sua duração aproximada.
3.2.3.4. Estratégias
As estratégias indicam os
tipos de atividades que serão organizadas pelo professor, visando a que o aluno
alcance os objetivos acima explicitados. Estas atividades serão mais detalhadas
e especificadas em cada unidade.
3.2.3.5. Avaliação do
desempenho do Aluno, do Professor e da programação oferecida
Quanto à avaliação do
desempenho do aluno no curso, explicita-se o que será feito para verificar se o
aluno está realizando aquilo que dele se esperava, qual a distribuição
cronológica dessas atividades de avaliação (sua freqüência), como o professor
expressará ao aluno os resultados da avaliação, que possibilidades terá o aluno
de completar ou modificar resultados apresentados pelo professor, que
atividades de recuperação serão oferecidas ao aluno que dela necessitar.
3.2.4. Como elaborar um
plano de unidade?
Com as mesmas advertências
feitas com relação ao roteiro de plano de disciplina, apresentamos abaixo um
roteiro para a elaboração de um plano de unidade.
3.2.4.1. Identificação -
Para preencher a identificação sugerimos:
a) Disciplina
b) Tema
c) Unidade:
1ª, 2ª, etc.
d) Duração
3.2.4.2. Objetivos
Os objetivos da unidade
deverão dizer claramente a que ponto da aprendizagem o aluno deve chegar ao fim
daquela unidade, o que se espera que os alunos tenham aprendido após realizarem
aquela unidade de trabalho.
3.2.4.3. Principais
conceitos e bibliografia
No plano da unidade é muito
útil fazer uma relação dos principais conceitos com que o aluno deverá lidar
durante a unidade.
Quanto à bibliografia,
especificar detalhadamente os textos a serem lidos na unidade, incluindo o
número de páginas, bibliografia básica e complementar, etc.
3.2.4.4. Estratégias
A parte das estratégias
deverá descrever as atividades organizadas pelo professor, para o aluno
realizar dentro da sala de aula, e que facilitarão a consecução dos objetivos
da unidade; quais serão as atividades que o aluno deverá realizar fora de
classe e atendendo a quais objetivos da unidade.
3.2.4.5. Avaliação
A avaliação deverá
esclarecer o que se espera do aluno para considerar que cumpriu o proposto na
unidade, o que será observado e analisado, através de que instrumentos, quem o
fará, com que grau de freqüência, com que grau de rigidez, para que se possa
determinar se o aluno está ou não conseguindo alcançar os objetivos propostos
na unidade, e que caminhos alternativos de recuperação pode seguir, se houver
necessidade.
3.3. Objetivos do plano de
ensino
3.3.1. Objetivos de um plano
de ensino
Entendemos por objetivos de
um plano de ensino metas definidas com precisão, indicando aquilo que um aluno
deverá ser capaz de fazer como conseqüência de se ter desempenhado
adequadamente nas atividades de uma disciplina.
Os objetivos, dentro de um
plano de ensino, servem para direcionar a ação do professor e,
conseqüentemente, facilitar a aprendizagem do aluno.
3.3.2. Vantagens de redigir
objetivos
3.3.2.1. Do ponto de vista
do professor
Ajuda o professor à “colocar
para fora” e a organizar suas próprias idéias sobre o ensino daquela disciplina
que se propôs a dar, inclusive com clareza e precisão.
A redação dos objetivos
torna mais claros os objetivos educacionais com os quais o professor
compactuou.
São os objetivos que vão
nortear a escolha dos métodos, materiais e situações de ensino, bem como das
formas e instrumentos de avaliação da aprendizagem do aluno.
Tendo o professor
relacionado objetivos no seu plano de ensino, poderá se preocupar com cada um
deles; isso permitirá ao aluno o desenvolvimento de diferentes potencialidades.
Outra vantagem é que aumenta
também a probabilidade de que o professor não estará avaliando aprendizagens
que não eram pertinentes à disciplina ou, pelo menos, não eram do conhecimento
do aluno. Freqüentemente o aluno se sente “atraiçoado” pelo professor, que o
repreende ou reprova com base em itens dos quais o aluno nem sempre suspeitava
que “contavam” no curso.
A redação de objetivos
permite que os vários professores responsáveis pela formação daquele grupo de
alunos entrem num acordo, de tal modo que as diversas aprendizagens necessárias
a eles sejam todas alcançadas, e sem repetições.
A vantagem de redigir
objetivos reside na facilidade de comunicação sobre a disciplina. Comunicar-se apenas sobre conteúdo ou
estratégias utilizadas, ou avaliação da aprendizagem adotada, não permite ir
além de descrições sem conseqüências, porque estão faltando os critérios de
análise que são oferecidos pelos objetivos do curso.
Um certo professor usa
excursões a fábricas como estratégia de aula; como poderemos opinar sobre sua
eficácia, se não soubermos para que o faz? Outro professor menciona que seus
alunos, ao final de cada unidade, entregam por escrito uma auto-avaliação e o
conjunto dessas auto-avaliações é que, ao final do ano, determina a aprovação
ou reprovação dos mesmos; daí, perguntamos: o que você alcança com isso? Qual é
o seu objetivo? Um terceiro professor
relata que baseia todo o seu curso de Economia em busca e análise de notícias
de jornal e indaga: será isso produtivo?
Não é possível responder, a não ser que o professor deixe claro, também,
ao que sua disciplina deve levar o aluno.
3.3.2.2. Do ponto de vista
do aluno
Conhecendo os objetivos, o
aluno dispõe de uma orientação sobre o que fazer nas aulas; conseqüentemente,
pode, em primeiro lugar, desenvolver sua confiança no professor, o que tem como
resultado um clima propício à aprendizagem; e pode também concentrar seus
esforços naquilo que é de fato importante naquela disciplina, sem ficar
dispersando, gastando tempo e energia, à-toa.
Os objetivos funcionam como
um critério para o próprio aluno perceber seus progressos na disciplina.
São instrumentos de
incentivo para o aluno, no sentido de que este, cada vez mais, se responsabilizará
pela própria aprendizagem, abandonando atitudes de apatia e inatividade; em uma
palavra, favorecendo aprendizagens significativas.
3.3.3. Dificuldades de
redigir objetivos
Em primeiro lugar, redigir
objetivos é um trabalho que se desenvolve em ritmo lento e cujos efeitos não se
fazem sentir de imediato, mas em longo prazo.
Exigem do professor fé na sua eficácia, criatividade, habilidade,
conhecimento e paciência.
Em segundo lugar, redigir
objetivos é um trabalho “de gabinete”, “uma redação solitária”, em oposição à
atividade em sala de aula.
Um terceiro problema é que,
ao dispor de uma relação de objetivos para seu curso, o professor está exposto
a críticas, seja de colegas e de alunos, seja de representantes da instituição
e da comunidade.
Por último, os objetivos
especificados para um curso podem parecer remotos, abstratos; há probabilidade
maior de que essa percepção ocorra exatamente nos alunos mais fracos; assim,
conhecer os objetivos de uma disciplina, ou de uma unidade, pode tornar-se
absolutamente inócuo.
3.4. Conteúdo de disciplina
O conteúdo possui uma
relevância toda especial; em geral, é o conteúdo da disciplina que define o
plano, o exercício, a avaliação, a escolha dos professores e sua contratação, a
importância e a atualidade da mesma disciplina.
Em síntese: de modo geral, uma disciplina vale pelo conteúdo que aborda,
aprofunda, discute. Professores para
ministrá-la são selecionados e contratados pelo domínio teórico e experiencial
que possuem sobre seu conteúdo, e é comumente aceita a crença de que “quem sabe
o conteúdo daquela disciplina sabe transmiti-lo e sabe ensinar”.
3.4.1. Critério que deve
presidir à escolha e definição do conteúdo de uma disciplina
Embora o conteúdo seja de
suma importância para presidir uma disciplina, o mesmo não é o ponto inicial
donde partimos para definir todos os demais elementos que compõem o processo de
aprendizagem. Os objetivos do processo de aprendizagem, os objetivos daquela
disciplina dentro do conjunto do mesmo processo e aquele ano ou semestre são
critérios que devem ser utilizados para se determinar o conteúdo. Isto é, dependendo dos objetivos propostos,
os conteúdos são escolhidos, revistos, atualizados, modificados, de tal forma
que facilitem o alcance daqueles objetivos.
Afirmamos que a ordem lógica
com uma postura educacional se inicia pela definição dos objetivos de uma
aprendizagem; só depois o professor se utiliza de sua situação de especialista
no assunto e passa a decidir sobre os pontos ou tópicos que melhor se adaptarão
ao curso, encarados como instrumentos para ajudarem o aluno a conseguir aqueles
objetivos.
3.4.2. Quem deve participar
da escolha e definição dos conteúdos?
Uma equipe formada por
professores que lecionam a mesma disciplina para várias turmas (quando houver
esta situação), pelo chefe de disciplina, pelo chefe do departamento, por
professores de disciplinas que precedem ou seguem aquela disciplina quando se
trata de assunto seqüencial, ou pré-requisito, e por alunos.
O primeiro a participar da escolha
e definição do conteúdo de uma disciplina deverá ser o próprio professor de
classe que vai ministrá-la, pois é ele quem vai desempenhar diretamente junto
ao aluno a função de trabalhar com aquele conteúdo.
Acreditamos, porém, que o
professor deverá fazê-lo numa situação de equipe com outros colegas. Sem dúvida que, desta equipe, e com as mesmas
finalidades, participará o chefe ou coordenador da disciplina, quando houver.
Há, no entanto, ainda uma
outra circunstância a ser considerada: se a disciplina lecionada faz parte de
uma seqüência de conteúdos, é fundamental que esta equipe seja enriquecida com,
pelo menos, um representante das disciplinas que ministram o conteúdo anterior
a ela e um representante das disciplinas que a seguem. Isto evitará problemas
como o de presumir que o aluno já tenha estudado este ou aquele assunto, quando
de fato não o fez, e reconstruir o novo conteúdo sobre bases falsas; ou como o
de repetir mais uma vez aspectos já estudados anteriormente; ou como o de
omitir um conteúdo que será necessário para estudo dos conteúdos subseqüentes.
O chefe do departamento,
como aquele que possui uma visão do conjunto do curso (seus objetivos,
disciplinas, orientações etc.), para o qual aquele departamento contribuirá com
esta determinada disciplina, também deveria participar da escolha e definição
do conteúdo mais adequado daquela disciplina.
A participação dos alunos,
sem dúvida, é fundamental também. Dentre os alunos, o monitor pode dar uma
contribuição destacada, na sua qualidade de ex-aluno daquela disciplina.
3.5. Estratégias para a
aprendizagem
3.5.1. Até que ponto é
importante falar sobre estratégias?
Não é por dominar com
destreza as mais variadas estratégias que o professor se constitui num
eficiente orientador para a aprendizagem do seu aluno. É necessário que seja
capaz também de dominar, em extensão e profundidade, o conteúdo a ser absorvido
pelo aprendiz; e é necessário que integre ao processo de aprendizagem o próprio
processo de avaliação, como um outro elemento facilitador para o aluno, junto
com as estratégias. E, principalmente, é imprescindível que o professor saiba
por que transmitir tal matéria, usando tais estratégias e tais processos de
avaliação podem ser útil para o desenvolvimento de um profissional, cidadão e
ser humano - no caso, o seu aluno.
3.5.2. O que se entende pelo
termo “estratégia”?
Estratégias são os meios que
o professor utiliza em sala de aula para facilitar a aprendizagem dos alunos.
Constituem-se numa arte de decidir sobre um conjunto de disposições, de modo a
favorecer o alcance dos objetivos educacionais pelo aprendiz.
O termo “estratégias” inclui
o que normalmente se chama de metodologia de sala de aula, de técnicas de
ensino, de técnicas pedagógicas, de métodos didáticos. Incluem toda a organização
de sala de aula que vise facilitar a aprendizagem do aluno; abrangem a
arrumação dos móveis na classe, o material a ser utilizado, seja um simples giz
e lousa, seja textos, perguntas ou casos, seja complicado recurso audiovisual,
sejam excursões a locais fora da escola. Incluem todas as atividades que serão
pedidas aos alunos, e as do professor que serão necessárias para complementar,
iniciar, organizar ou sintetizar essas atividades dos alunos, tendo em vista
sua aprendizagem.
3.5.3. Há alguma proposta
para redação da parte referente às estratégias do plano de unidade?
O planejamento de
estratégias de aprendizagem envolve previsões minuciosas por parte do
professor. Não é uma parte do plano a
ser descartada com rapidez, nem se pode “deixar mais ou menos previsto na
cabeça e na hora vejo o que acontece”. O que pode acontecer é um desvio dos
objetivos. E é para evitar isso que se planeja, não é? Um planejamento falho
desta parte pode impedir que se transmita o conteúdo, mesmo que o professor o
domine em nível de excelência, ou prejudicar o alcance de outros objetivos de
ordem não apenas cognitiva.
3.5.4. Por que variar as
estratégias no decorrer de um curso? há perigo de se cair num exagero de
variações?
As estratégias escolhidas
pelo professor favorecem (ou não) o dinamismo das aulas.
As estratégias são um forte
elemento de atuação sobre a motivação dos alunos. Uma das maneiras de se tentar controlar a
motivação é propor os objetivos aos alunos; mostrando-lhes aonde poderão
chegar, cria-se neles a necessidade de chegar lá. Outra maneira é o que se pede
dos alunos no decorrer das aulas; assim eles se sentirão mais ou menos
envolvidos; mais ou menos responsáveis, mais ou menos participantes, mais ou
menos capazes para aprender.
A variação das estratégias
permite que se atenda a diferenças individuais existentes no grupo de alunos da
classe. Ou seja, alunos com diferentes estilos de aprendizagem terão suas
oportunidades de estabelecer aprendizagens mais significativas no decorrer do
curso; se uma única maneira de dar aulas é escolhida, sempre os mesmos alunos
serão favorecidos e sempre os mesmos serão prejudicados, e Isto não por um
“defeito” pessoal dos alunos, mas porque, como a pesquisa em psicologia
atualmente comprova, cada um de nós tem estilos próprios.
Além disso, a variação das
estratégias favorece o desenvolvimento de diversas facetas dos alunos; por
exemplo, se um curso todo é dado sob forma de aulas expositivas, não estará
desenvolvendo a habilidade de trabalhar em grupo, de se expressar, de resolver
problemas, apesar de estar desenvolvendo muito a capacidade de receber
informações, de ouvir.
Para o professor a variação
na maneira de dar aulas traz vantagens; também para ele o curso se torna
dinâmico. Desafiador, na medida em que exige renovação, informação sobre
estratégias, flexibilidade e criatividade ao dar as aulas e avaliação da
eficiência das decisões tomadas ao planejar.
O exagero de variações,
transformando-se o curso numa espécie de feira de estratégias, um desfile
improfícuo, que pode, ao invés de facilitar a aprendizagem, gerar confusão na
cabeça do aluno, apresentando-se o curso para este como uma colcha de retalhos,
é perigoso. O parâmetro, repetimos mais uma vez, são os objetivos; as
estratégias devem ser apenas
meios facilitadores para alcançá-los. Se
o professor dispõe dos seus planos, aula a aula, uma revisão deles, de tempos
em tempos, permite que tenha uma visão de conjunto e analise se está repetindo
ou variando demais as estratégias; e claro que o feedback recolhido dos alunos
é outra valiosa fonte para essa análise.
Um perigo adicional é o do
professor se decidir por estratégias que não domina em nível da habilidade,
cujos detalhes desconhece, que não sabe como “fechar” ou, principalmente,
quando não tem uma consciência clara de que objetivos a estratégia tem maior
probabilidade de favorecer.
4 - ESTRATÉGIAS PARA APRENDIZAGEM
Encarando as estratégias
mencionadas a seguir como meios que facilitam aos alunos o alcance dos
objetivos de aprendizagem e não como fórmulas fechadas, intocáveis, o professor
pode se inspirar nelas para criar as maneiras mais adequadas para sua classe,
sua disciplina, para si mesmo e para as condições de que dispõe na sua escola.
4.1. Debate
4.1.1. Descrição
O debate é um procedimento
de ensino que se apóia em leitura e estudo prévio sobre o assunto em foco e
desenvolve-se no processo de exposição oral das idéias, pelos participantes do
grupo, mediado pela atuação do professor.
Quando a idéia em debate
inclui posições antagônicas, e conhecido o grau de envolvimento e participação
dos alunos, o professor pode dividir a classe em dois subgrupos, que se
responsabilizarão por defender ou por combater a idéia em debate. Decorridos
alguns minutos, as posições podem ser trocadas, dando oportunidade a quem
defendeu de atacar e a quem atacou, de defender.
Na EaD, o debate pode
ocorrer na lista de discussão ou no Fórum, uma ferramenta construída no
ambiente virtual de ensino com essa finalidade. Os participantes redigem suas
opiniões e as enviam para a lista ou para o Fórum, conforme orientado pelo
professor. Da mesma forma que no debate presencial é importante ouvir
atentamente cada manifestação. Neste caso será necessário ler e compreender a
posição dos colegas de curso.
4.1.2. Objetivos de ensino
a)Preparar-se
previamente para a discussão, fundamentando conceitos e organizando
informações.
b)Expor
idéias, reflexões, vivências, experiências em relação a um assunto estudado.
c) Ouvir
ou ler o relato de experiências, opiniões, impressões dos demais participantes
do grupo.
d)Argumentar
e defender posições, respeitando opiniões alheias e fazendo respeitar as suas.
e)Trocar
de papéis, defendendo idéias organizadas pelo grupo a que pertence, mesmo que
não expressem suas convicções pessoais.
f) Trabalhar
com perspectivas diferentes, ampliando a compreensão de um tema ou assunto.
g)Respeitar
e fazer respeitar regras e limites.
O debate pode ser uma
situação de aprendizagem em que o aluno atinge objetivos de caráter conceitual
(informação, atualização e aquisição de novas idéias ou argumentos),
procedimental (ouvir e expressar idéias e argumentos) e atitudinal (atenção,
respeito, empatia, solidariedade).
4.1.3. Atribuições do
professor
Para que o debate possa ser
utilizado com sucesso, o professor precisa:
a)Selecionar
um tema adequado à realização do procedimento.
b)Dominar,
de forma ampla e profunda, o assunto a ser debatido.
c) Orientar
a preparação prévia dos alunos, fornecendo indicações bibliográficas, sugerindo
leituras e pesquisas.
d)Enunciar
claramente as regras a serem seguidas e os intervalos de tempo a serem
observados.
e)Dispor
as cadeiras de modo que todos os participantes possam ver e ser vistos, no
decorrer do debate.
f) Estimular
a participação de todos os alunos, evitando atitudes monopolizadoras da
palavra, por parte de alguns, e o silêncio de outros.
g)Promover
a mediação atenta, respeitando e fazendo respeitar o tempo de participação de
cada um, e garantindo a atenção e o respeito às opiniões dos participantes.
h)Estimular
a cooperação, pela análise contínua das contribuições e pelo elogio aos
participantes.
i) Organizar
as contribuições, a fim de construir conclusões, ainda que parciais e
provisórias, para que no encerramento da atividade não permaneçam questões sem
resposta.
j) Avaliar
o procedimento de ensino utilizado, os resultados obtidos e a participação do
grupo no debate. Registrar suas impressões sobre o preparo, o envolvimento e a
participação dos diferentes alunos, compondo, com essas informações, um
relatório de avaliação continuada.
4.1.4. Papel do aluno
O aluno, da mesma maneira
que o professor, é responsável pelo sucesso na utilização desse procedimento de
ensino e, portanto, deve:
a)Preparar-se
para o debate, realizando leitura da bibliografia indicada, além de novas
investigações. Suas leituras e descobertas devem ser anotadas na forma de
tópicos, contendo idéias principais e reduzindo o texto estudado a algumas
afirmações ou negações, ou na forma de um esquema.
b)Participar
ativa e atentamente do processo de discussão, expressando opiniões e posicionamentos,
e ouvindo os colegas.
c) Analisar
as contribuições dos colegas, incorporando-as às próprias idéias, quando
possível.
d)Registrar
novas idéias, construídas no decorrer do debate, para consideração ou
esclarecimento posterior. Registrar as conclusões construídas e as respostas
obtidas para suas questões pessoais.
4.2. Dramatização
4.2.1. Descrição
A dramatização ou
"desempenho de papéis" é um procedimento de ensino que objetiva a
representação de uma situação do cotidiano, fato ou fenômeno social, pelos
alunos. Pode ser espontânea ou planejada e, em geral, apóia-se no desempenho de
papéis da realidade. Na dramatização planejada, os alunos preparam a
representação, elaborando os personagens e discutindo os papéis que vão
desempenhar. Na dramatização espontânea, os alunos participam sem elaboração
prévia das situações encenadas.
Esse procedimento de ensino ainda
não se aplica à EaD, em função das ferramentas e modalidades de comunicação
disponíveis nos dias atuais.
4.2.2. Objetivos de ensino
A dramatização é um
procedimento de ensino que possibilita ao professor e aos alunos:
a) Caracterizar
e analisar de forma abrangente as situações do cotidiano.
b) Expressar-se
com clareza, expondo idéias, sentimentos e percepções, em linguagem verbal e
não-verbal.
c) Desenvolver
a observação e a criatividade.
d) Desenvolver
a empatia e a solidariedade, no desempenho de papéis sociais e profissionais
diferentes.
e) Analisar
situações de conflito e disputa, trabalhando com valores.
f) Envolver-se
ativamente no processo de construção de novos conhecimentos.
A dramatização, utilizada
como procedimento de ensino, pode constituir oportunidade de aprendizagem na
qual o aluno atinge objetivos de caráter conceitual (informação, idéias),
procedimental (representação de papéis, relacionamento interpessoal, auto-consciência,
expressão de idéias e posições) e atitudinal (empatia, respeito, sensibilidade,
solidariedade).
4.2.3. Atribuições do
professor
Usar dramatização em sala de
aula requer que o professor se preocupe em:
a)Preparar
os alunos para a atividade a ser realizada, estimulando a participação daqueles
considerados mais tímidos.
b)Selecionar
a situação, fato ou fenômeno a ser trabalhado na dramatização.
c) Orientar
a discussão dos subgrupos e a construção dos papéis, no caso de dramatização planejada.
d)Definir
a duração da cena e os objetivos a serem alcança dos nas situações a serem
dramatizadas.
e)Estimular
o registro das observações realizadas no decorrer da dramatização, como
personagem ou como platéia.
f) Avaliar
a participação e o envolvimento do grupo na atividade realizada, e de cada
aluno, em particular, registrando essas informações no processo de avaliação
continuada.
g)Sistematizar
os aspectos principais trabalhados, resumindo-os com a participação dos alunos.
4.2.4. Papel do aluno
A dramatização requer a
participação ativa e dedicada dos alunos. Orientados adequadamente sobre os
objetivos de ensino da atividade, eles devem:
a)Definir
com clareza sua forma de participação.
b)Contribuir
na elaboração do personagem e na construção da situação a ser dramatizada.
c) Envolver-se
de modo integral na situação em foco, a fim de estimular a análise e a
compreensão mais ampla do tema em estudo.
d)Registrar
suas idéias, impressões, sensações, de modo que tenham condições de
socializá-las com os demais alunos e com o professor.
4.3. Ensino com pesquisa
4.3.1. Descrição
Ensino com pesquisa é um
procedimento que requer a orientação direta do professor, no processo de
elaboração da pesquisa. É muito mais do que determinar que os "alunos
façam pesquisas", caracterizadas pela busca em bibliografia escrita ou
virtual das informações pretendidas e pela transcrição ou impressão gráfica dos
achados. É uma atividade de ensino que demanda tempo e dedicação dos
envolvidos, na produção de conhecimentos.
Esse procedimento de ensino
também pode ser conhecido por método da descoberta, que, da mesma forma requer
uma atitude reflexiva por parte do aluno e a assistência contínua do professor.
De um modo ou de outro, ele
pode ser utilizado com vantagens na EaD, quando o professor orienta o trabalho
de pesquisa individual ou de pequenos grupos por meio de correio eletrônico (e-mail).
Ao final do processo, os trabalhos produzidos podem ser apresentados em
ferramenta específica (tarefa) ou enviados pela lista de discussão a todos os
alunos. Segundo determinação do professor, em função dos objetivos de ensino, a
discussão das pesquisas pode ser geral, com todos os relatórios discutidos
simultaneamente, ou particular, quando cada pesquisa é analisada por todo o
grupo de alunos.
4.3.2. Objetivos de ensino
O ensino com pesquisa
propicia ao professor e aos alunos uma oportunidade de:
a) Buscar e coletar as informações necessárias
à realização do estudo.
a)Treinar
a capacidade de observação, investigação e reflexão.
b)Trabalhar
com fontes diversificadas de informação, como revistas, livros, fotos, filmes,
letras de música.
c) Transitar
por diversos ambientes educativos, como biblioteca, videoteca, hemeroteca,
sites na Internet, entre outros.
d)Selecionar
as informações pertinentes, organizá-las e empregá-las na elaboração do estudo.
e)Trabalhar,
de forma cooperativa, com os outros componentes do grupo de pesquisa, quando
esse trabalho se realizar em subgrupos.
f) Desenvolver
ou aperfeiçoar o sentimento de autoconfiança, em relação às habilidades
cognitivas.
g)Registrar
suas conclusões, redigindo um relatório científico.
h)Preparar
uma apresentação oral, síntese do relatório da pesquisa.
i) Comunicar,
com clareza, os resultados obtidos.
O ensino com pesquisa,
embora demande tempo e dedicação do professor, é uma situação de aprendizagem
na qual o aluno realiza transformações de ordem conceitual (coleta, seleciona,
organiza, relaciona e registra informações), procedimental (observação,
manuseio de fontes e documentos diversos, utilização de diferentes ambientes
educativos, registro e expressão oral) e atitudinal (cooperação,
autoconfiança).
4.3.3. Atribuições do
professor
Para trabalhar dessa
maneira, no processo ensino-aprendizagem, o professor precisa:
a)Esclarecer
a seus alunos a forma de realização da pesquisa - bibliográfica ou de campo -,
enfatizando que se trata de oportunidade de produção de novos conhecimentos.
b)Orientar
com clareza a escolha do tema e os objetivos da investigação.
c) Quando
a classe for numerosa, formar subgrupos, delegando a cada um deles um aspecto
da investigação, como um desdobramento do problema da pesquisa.
d)Descrever
um plano de pesquisa e exemplificar as ações a serem realizadas.
e)Orientar
passo a passo o processo de investigação e a elaboração do relatório.
f) Agendar
a apresentação dos relatórios dos subgrupos.
g)Coordenar
as apresentações, estimulando a participação dos alunos e a solução de dúvidas
e eventuais divergências.
h)Estimular
o registro das conclusões dos subgrupos, como passos no processo de construção
do novo conhecimento.
i) Coordenar
a avaliação do processo e dos produtos obtidos, da participação individual e do
desempenho coletivo. Propor ainda aos alunos a avaliação do desempenho do
procedimentos.
j) Registrar
as informações coletadas na observação direta, nos relatórios, na apresentação
final, de cada aluno e dos grupos, no processo de avaliação continuada.
4.3.4. Papel do aluno
O aluno, envolvido nesse
procedimento, precisa assumir formalmente suas responsabilidades no processo de
produção de conhecimento. Para tanto, deve:
a)Identificar
as características e etapas da elaboração de uma pesquisa.
b)Participar
ativamente na definição do tema a ser investigado.
c) Buscar
as informações necessárias à investigação, selecionando, organizando e
utilizando o material disponível.
d)Formular
hipóteses, compará-las e socializá-las com os demais componentes do subgrupo.
e)Buscar
orientação do professor no decorrer da realização do trabalho.
f) Elaborar
o relatório final, em cooperação com os participantes de seu grupo.
g)Preparar
a apresentação, com o grupo, usando a síntese das idéias principais.
h)Apresentar
seu relatório à classe, esclarecendo dúvidas e dispondo-se à discussão.
i) Assistir
à apresentação dos demais relatórios de pesquisa da classe, perguntando sempre
que necessário.
j) Registrar
os aspectos relevantes das pesquisas apresentadas.
4.4. Ensino por projetos
4.4.1. Descrição
O ensino por projetos
organiza-se com base em um problema concreto, presente na realidade do aluno,
que pede a busca de soluções práticas. Em parte, é semelhante ao ensino com
pesquisa, na fase de coleta e organização de informações, na consulta a fontes
e no trânsito por espaços educativos. No entanto, o ensino por projetos não
finaliza com um relatório de pesquisa, mas com a elaboração de uma proposta de
intervenção na realidade, um projeto.
Na EaD, tem sido freqüente a
utilização de ensino por projetos. É uma forma de trabalho em Educação que
permite, mesmo a distância, mobilizar habilidades e interesses dos
participantes do grupo, envolvendo-os coletivamente na construção de uma
proposta de intervenção na realidade.
4.4.2. Objetivos de ensino
De modo semelhante ao ensino
com pesquisa, o ensino por projetos requer tempo e dedicação do professor e dos
alunos e estabelece condições para:
a)Desenvolver
o raciocínio diante de problemas propostos pela realidade imediata.
b)Selecionar
e coletar as informações necessárias ao entendimento do problema.
c) Observar,
investigar, refletir e propor alternativas de solução.
d)Trabalhar
com fontes diversificadas de informação em diversos ambientes educativos.
e)Relacionar
conhecimentos de áreas diferentes, em seus aspectos teóricos e práticos.
f) Trabalhar,
de maneira cooperativa, com seu grupo de projeto.
g)Desenvolver
a autoconfiança e a criatividade, na busca de soluções originais para o problema
em análise.
h)Prever
tarefas necessárias, elaborar plano de ação, delegando e assumindo
responsabilidades.
i) Registrar
as conclusões, descrevendo o processo de intervenção na realidade.
j) Preparar
uma apresentação oral, síntese do relatório do projeto e roteiro de
intervenção.
k) Comunicar,
com clareza, as ações propostas, discutindo as e acatando as sugestões
pertinentes.
O ensino por projetos requer
períodos mínimos de dois a três meses para sua realização e grande dedicação
por parte de professores e alunos. Constitui uma situação de aprendizagem na
qual o aluno atinge objetivos conceituais (produz novos conhecimentos, diante
de uma situação real), procedimentais (elabora processos de investigação e
busca de solução) e atitudinais (coopera, respeita e valoriza o seu trabalho e
o de seus colegas).
4.4.3. Atribuições do
professor
As atribuições do professor
ao utilizar o ensino por projetos são muito semelhantes àquelas enumeradas no
ensino com pesquisa.
Como visto, para que a
atividade se realize, será necessário ao professor:
a)Orientar
os alunos na escolha do projeto.
b)Quando
a classe for numerosa, formar subgrupos, orientando-os na seleção dos
subprojetos.
c) Elaborar,
com os alunos, um plano de trabalho, enumerando as tarefas a serem cumpridas.
d)Orientar
o processo de investigação e a elaboração do projeto.
e)Auxiliar
os alunos na execução do projeto.
f) Agendar
a apresentação dos projetos dos subgrupos.
g)Coordenar
as apresentações, estimulando a participação dos alunos com contribuições aos
projetos.
h)Coordenar
a avaliação do processo e dos projetos realizados, da participação individual
e do desempenho coletivo. Propor ainda aos alunos a avaliação do desempenho do
professor, considerando que sua orientação direta é fator decisivo para o
sucesso do procedimento.
i) Registrar
as informações coletadas por observação direta, no desenvolvimento dos
projetos, e pela apresentação final, de cada aluno e dos grupos, no processo de
avaliação continuada.
4.4.4. Papel do aluno
No ensino por projetos, a
atividade do aluno é fundamental. Desse modo, ele deve corresponder às
responsabilidades assumidas nesse processo de produção de conhecimento. Para
tanto, precisará:
a)Escolher
um projeto pelo qual se interesse efetivamente.
b)Buscar
e fornecer ao grupo as informações necessárias à investigação, selecionando,
organizando e utilizando o material disponível.
c) Discutir
com o grupo as tarefas necessárias à elaboração do projeto, assumindo-as e
delegando-as.
d)Buscar
orientação do professor no decorrer da realização do trabalho.
e)Elaborar
o plano de intervenção, em cooperação com os participantes de seu grupo.
f) Preparar
a apresentação, com o grupo, na forma de síntese das idéias principais.
g)Apresentar
seu projeto à classe, esclarecendo dúvidas e acolhendo as contribuições
pertinentes.
h)Assistir
à apresentação dos demais projetos da classe, perguntando e colaborando sempre
que necessário.
i) Registrar
os aspectos relevantes dos projetos apresentados.
4.5. Estudo de caso
4.5.1. Descrição
O estudo de caso é um
procedimento de ensino que se apóia na apresentação aos alunos de uma situação
real ou simulada, relativa ao tema em estudo, para análise e encaminhamento de
solução. Corresponde a um método de trabalho no qual os alunos têm a
oportunidade de aplicar conhecimentos teóricos a situações práticas. A situação
pode ser trazida aos alunos, pelo professor, na forma de uma notícia de jornal
ou revista, de um filme, ou de relato descritivo.
Em EaD, esse procedimento é
utilizado da mesma maneira que no ensino presencia!. Inclui a apresentação do
caso, a elaboração de propostas de solução baseadas na teoria estudada e a
posterior apresentação e discussão das soluções construídas, em fórum ou lista
de discussão. Também pode ser trabalhado em subgrupos, incluindo uma discussão
prévia e reservada dos membros do grupo, na troca de e-mail, antes da
apresentação ao conjunto dos participantes.
4.5.2. Objetivos de ensino
O professor, ao utilizar
esse procedimento de ensino, enseja uma oportunidade aos alunos para:
a)Retomar
conhecimentos teóricos elaborados no decorrer do trabalho na disciplina.
b)Aplicar
esses conhecimentos às situações reais ou simula das apresentadas para estudo.
c) Analisar
uma situação real ou simulada, com a responsabilidade de propor
encaminhamentos.
d)Trabalhar
com fontes diversificadas de informação em diversos ambientes educativos.
e)Discutir
com o grupo-classe as propostas de solução individual, acolhendo idéias
semelhantes e respeitando as diferentes.
O estudo de caso é um
procedimento de ensino que possibilita aos alunos realizar aprendizagens de caráter
conceitual (revisão teórica), procedimental (construir soluções para o
problema, aplicando a teoria estudada) e atitudinal (posicionar-se
favoravelmente na busca de soluções, ter autoconfiança, respeito, cooperar).
4.5.3. Atribuições do
professor
Nesse procedimento de
ensino, cabe ao professor realizar algumas atividades preparatórias, como:
a)Decidir
se o trabalho será realizado individualmente ou em subgrupos.
b)Definir
os objetivos de ensino a serem atingidos e os conteúdos a serem retomados.
c) Escolher
o caso a ser estudado: um fato, documentado, ou uma situação composta pelo
professor.
d)Planejar
as etapas de realização do trabalho, definindo o tempo necessário, em cada uma
delas.
e)Reservar,
se necessário, recursos de ensino (vídeo e TV) para apresentação do caso.
E outras, no decorrer do
trabalho dos alunos:
a)Orientar
os alunos sobre o desenvolvimento da atividade.
b)Apresentar
o caso a ser estudado.
c) Orientar
a análise da situação, a busca ao referencial teórico e, se for o caso, a
discussão nos subgrupos.
d)Recomendar
o registro das soluções obtidas e a revisão dos aspectos teóricos, se
necessário.
e)Coordenar
a apresentação das soluções dos alunos ou dos subgrupos, mediando a discussão e
promovendo esclarecimentos.
f) Avaliar
o desempenho dos alunos no decorrer da atividade, reorientando a aprendizagem
sempre que se fizer necessário.
4.5.4. Papel do aluno
Para trabalhar com estudos
de caso, os alunos precisam:
a)Entender
claramente os passos da atividade a ser realizada.
b)Apropriar-se
da situação apresentada, seja ouvindo o relato, lendo a notícia, assistindo ao
filme.
c) Realizar
a análise diagnóstica da situação em estudo.
d)Reunir
as informações necessárias para solucionar o caso apresentado.
e)Propor
alternativas de solução, registrando-as e relatando-as aos colegas de classe.
f) Ouvir
as propostas elaboradas pelos colegas, questionando e discutindo quando
necessário.
g)Registrar
atentamente todo o processo, revendo a teoria em caso de dúvida.
4.6. Estudo dirigido
4.6.1. Descrição
O estudo dirigido, como o
nome indica, é um procedimento de ensino por meio do qual o aluno executa um
trabalho proposto e orientado pelo professor, de preferência, em sala de aula.
Apoiado na leitura de um texto, artigo ou capítulo de livro e em um roteiro de
estudos previamente elaborado pelo professor, o aluno trabalha ativamente,
realizando leitura e interpretação do texto, análise e comparações, sínteses e
avaliações.
A qualidade dos resultados
obtidos nessa forma de ensino depende em grande medida do roteiro de estudos.
Ele pode ser semelhante a um questionário, com perguntas e respostas diretas,
baseado apenas na memorização de informações. Mas, se elaborado com outros
objetivos, pode abranger amplo conjunto de atividades mentais.
Considerando o interesse em
propiciar um contato mais intenso do aluno com o material, o roteiro de estudo
deve incluir atividades que favoreçam a construção e a reconstrução dos
conhecimentos disponíveis, como:
a)Identificar
palavras desconhecidas e buscar seus significados.
b)Localizar
idéias ou conceitos essenciais, indicados pelo professor.
c) Elaborar
esquema ou mapa de conceitos.
d)Formular
perguntas ao texto, que poderão ser utilizadas em discussão posterior.
e)Elaborar
outras interpretações ou conclusões diferentes daquelas apresentadas pelo
autor.
f) Redigir
justificativa para as posições assumidas pelo autor. Preparar síntese ou
resenha, a ser utilizada em debate posterior, presencial ou em lista de
discussão.
g)Escrever
uma carta para o autor, concordando ou discordando de suas idéias centrais.
Esse procedimento de ensino
é muito utilizado em EaD, desde a época em que ela se fazia exclusivamente por
meio de apostilas em papel, no início do século XX. No entanto, na EaD apoiada
na Web, esse procedimento ainda pode e deve ser utilizado, desde que o roteiro
de estudos proposto pelo professor seja elaborado de modo que abranja um
conjunto maior de habilidades mentais, e
não apenas a memorização. E,
especialmente nos cursos a distância, esse procedimento de ensino deverá ser
complementado pelo debate, que se fará em lista de discussão ou pela
apresentação de síntese ou resenha, na forma de tarefa, seguida ou não de
discussão. Nesse caso, é fundamental estabelecer interação entre
professor-aluno e aluno-aluno após a conclusão do estudo dirigido, a fim de
avaliar se os objetivos de ensino estão sendo atingidos por meio desse
procedimento.
4.6.2. Objetivos de ensino
Considerando que alguns
textos a serem trabalhados no processo ensino-aprendizagem requerem maior
dedicação dos alunos, utilizar o estudo dirigido pode lhes proporcionar a
oportunidade de:
a)Ler,
de forma atenta e orientada, os textos e autores indicados.
b)Desenvolver
habilidade de leitura e reflexão, a ser aplicada em diferentes situações de
busca e aquisição de novos conhecimentos.
c) Aperfeiçoar
o repertório vocabular, familiarizando-se com novas palavras e expressões e
investigando sinônimos.
d)Aprofundar
a compreensão do texto, com base na leitura de seu contexto: características do
autor, época e motivo da publicação, entre outros.
e)Construir
progressivamente um referencial teórico que subsidie a percepção e a explicação
da realidade e, por decorrência, a elaboração de textos acadêmicos.
O estudo dirigido é um
procedimento de ensino que, empregado com parcimônia e clareza de objetivos,
pode proporcionar aos alunos a oportunidade de atingir objetivos conceituais
(aquisição, aprofundamento e atualização de informações), procedimentais
(habilidade de leitura, de interpretação de textos, de busca de sinônimos e
significados, de elaboração de sínteses, de questões, entre outras) e
atitudinais (respeito pelo trabalho, dedicação, interesse).
4.6.3. Atribuições do
professor
Muitas são as tarefas do
professor quando pretende utilizar o estudo dirigido como procedimento de
ensino. Entre elas, algumas a serem realizadas previamente, como:
a)Formular
claramente os objetivos de ensino para a atividade a ser realizada,
considerando que o estudo dirigido pode ser utilizado como procedimento de
ensino para promover ampliação de informações, aprofundamento, atualização,
revisão, entre outros. Em função dos objetivos, organizar-se-ão as demais
tarefas.
b)Realizar
a seleção adequada do material a ser lido, que deve ser compatível com os
objetivos do estudo dirigido, com as possibilidades imediatas de compreensão
dos alunos e com o tempo disponível para a realização da leitura.
c) Identificar
as fontes bibliográficas para o estudo ou preparar as cópias do material a ser
lido.
d)Organizar
o roteiro de estudos a ser utilizado pelos alunos, definindo as instruções com
clareza e determinando as tarefas a serem executadas.
Outras atribuições do
professor serão cumpridas no decorrer da atividade, como:
a)Orientar
os alunos, esclarecendo-os sobre os objetivos de ensino do estudo dirigido a
ser desenvolvido.
b)Indicar
as fontes bibliográficas para o estudo ou fornecer as cópias do material a ser
utilizado.
c) Apresentar
o roteiro de estudos a ser obedecido.
d)Definir
o tempo necessário para a realização da atividade. Vale lembrar que esse
procedimento de ensino deve ser utilizado em sala de aula, sob a supervisão
direta do professor, embora possa ser empregado também na forma de exercícios
domiciliares e em EaD.
e)Atender,
na medida das solicitações, às questões propostas pelos alunos, esclarecendo e
orientando. Quando se tratar de questão
decorrente, interromper a atividade e orientar de forma coletiva o conjunto de
alunos.
f) Concluída
a atividade individual, promover uma situação de socialização dos
conhecimentos, sob a forma de trabalho em grupo, em duplas ou debate no
grupo-classe.
4.6.4. Papel do aluno
Esse procedimento de ensino
tem sido identificado, de modo geral, como uma situação de aprendizagem que não
requer grande esforço intelectual do aluno. Essa compreensão está diretamente
relacionada ao tipo de roteiro de estudos trabalhado. Quando o roteiro proporciona
condições, o aluno trabalha ativamente, organizando e aprofundando informações,
efetivamente se apropriando de novos conhecimentos. Para tanto, será preciso:
a)Dispor
do material indicado e necessário à realização da atividade: textos,
dicionário, roteiro.
b)Compreender
com clareza e segurança as recomendações do roteiro.
c) Trabalhar
de forma dedicada, respeitando a proposta e o trabalho dos colegas, sem
movimentos ou ruídos desnecessários.
d)Executar
as atividades propostas no tempo determinado, registrando suas indagações,
conclusões, esquemas, questionamentos, entre outros.
e)Socializar
suas anotações, em debate ou lista de discussão, quando solicitado pelo
professor.
4.7. Estudo do meio
4.7.1. Descrição
O estudo do meio
caracteriza-se pela possibilidade de investigação interdisciplinar de fenômenos
da realidade natural e social do aluno. Nesse sentido, pelas próprias
características do objeto de estudo, requer a integração dos componentes
curriculares, por meio de objetivos e conteúdos de ensino, no trabalho a ser
realizado, e o emprego de procedimentos de ensino com pesquisa, como
observação, entrevistas, levantamento bibliográfico, entre outros.
Quando se considera que o
meio natural e social que circunda e "contém" o aluno (o professor, a
escola...) não é objeto de estudo de uma única disciplina ou área, nem está
totalmente desvendado, explicado, entendido..., o estudo do meio ganha um novo
sentido. Ele não é propriamente uma saída ou excursão da escola, menos ainda um
passeio... Também não é tarefa exclusiva desse ou daquele professor, mas
atividade coletiva a ser construída pela equipe escolar, apoiada no projeto
pedagógico da escola.
Dessa forma, o estudo do
meio precisa ser planejado com base em objetivos de ensino bem definidos,
garantindo o envolvimento da equipe escolar, dos alunos e de seus pais e
responsáveis. Deve ser executado de maneira séria e comprometida, e seus
resultados devem ser divulgados amplamente. Todo o processo deve ser avaliado
pelos participantes, não só em termos dos resultados obtidos, mas também dos
custos e esforços empenhados. Em especial na Educação básica, os familiares dos
alunos devem ser informados com clareza dos objetivos de ensino do
procedimento, a fim de não o confundir com mais um "passeio ou
excursão".
4.7.2. Objetivos de ensino
O estudo do meio propicia ao
aluno as condições para:
a)Tomar
contato direto com a realidade natural ou social, localizando, descrevendo e
analisando o fenômeno identificado como objeto de estudo em seus múltiplos
aspectos (geográfico, histórico, social, político, econômico, cultural...).
b)Buscar,
selecionar, classificar e organizar informações, construindo novos
conhecimentos relativos ao objeto de estudo, por meio de contato direto
(observação do fenômeno, coleta de amostras) e de experiências práticas
(observação de procedimentos, entrevista com profissionais, visita a ambientes
diferenciados).
c) Registrar,
documentar e relatar as experiências e os contatos realizados.
d)Aprofundar
a investigação bibliográfica, recorrendo a novas fontes e autores.
e)Identificar
e utilizar formas diferenciadas de documentação, registro e divulgação de
conhecimentos (fotos, gravação em áudio e vídeo).
f) Compreender
a construção do conhecimento como processo pessoal, apoiado em interesse e
atitude individual, que se realiza em ambiente de cooperação e solidariedade.
g)Identificar
a necessidade do emprego de métodos de pesquisa científica na construção de
novos conhecimentos.
O estudo do meio é um
procedimento de ensino que se apóia no trabalho coletivo de professores e alunos.
Proporciona experiências de aprendizagem em que o aluno atinge objetivos
conceituais (reorganiza conhecimentos diante da realidade), procedimentais
(prepara e executa processos de investigação: visita, observação, entrevista) e
atitudinais (respeita o fenômeno observado, valoriza o seu trabalho e o de seus
colegas, coopera).
4.7.3. Atribuições do
professor
O professor responsável pela
coordenação da proposta de estudo do meio deve estimular o envolvimento e a
participação de seus colegas, dos alunos e familiares e da equipe escolar. Será
necessário garantir a adesão de todos, por meio da mais ampla compreensão dos
objetivos de ensino, para viabilizar o sucesso do procedimento.
As atribuições do(s)
professor(es) podem ser divididas em quatro conjuntos principais, quais sejam:
a)Planejamento
do estudo do meio, que requer a definição do objeto de estudo, dos aspectos a
serem considerados e dos
b)procedimentos
de investigação necessários. Nessa fase, professores e alunos definirão os
objetivos de ensino a serem atingidos, as formas de trabalho a serem
realizadas, os recursos e investimentos necessários e as normas de conduta a
serem observadas.
c) Execução
ou realização do estudo do meio, que corresponde à etapa em que professores e
alunos estão em campo, em pleno desenvolvimento da atividade. Os professores
devem estar atentos e próximos dos alunos, observando sua atitude, esclarecendo
dúvidas, auxiliando o registro.
d)Organização
e divulgação dos resultados. Nessa etapa, os alunos trabalham em subgrupos, sob
a supervisão direta dos professores, selecionando, organizando e interpretando
as informações recolhidas. A essa altura, os professores podem indicar novas
leituras e aprofundamento bibliográfico, se julgarem pertinente e necessário à
elaboração do relatório. Também é atribuição dos professores organizar a
apresentação dos relatórios, que pode ser em forma de exposição oral, painel,
mural, jornal, entre outras.
e)Avaliação
do processo. Sob a responsabilidade direta dos professores, e com ampla
participação dos alunos, a avaliação do processo busca verificar se os
objetivos de ensino enunciados para o trabalho foram atingidos. Além desses,
importa identificar outras aprendizagens realizadas e habilidades
desenvolvidas. Ainda é o momento de investigar os eventuais insucessos ou
pontos falhos do processo, visando formular hipóteses para sua ocorrência e
alternativas para a superação, em novas oportunidades.
4.7.4. Papel do aluno
A utilização desse
procedimento de ensino pode proporcionar oportunidades de aprendizagens amplas
e enriquecedoras para o aluno.
Desse modo, ele deve:
a)Participar
ativamente do processo de planejamento do estudo do meio, com idéias e
sugestões.
b)Envolver-se
na execução das atividades previstas, contribuindo para seu sucesso.
c) Respeitar
as normas estabelecidas, os colegas e os professores, concentrando seus
esforços no desenvolvimento da investigação.
d)Auxiliar
a sistematização dos resultados obtidos, a busca de fundamentação teórica
necessária e a apresentação do relatório.
e)Participar
do processo de avaliação do trabalho realizado, identificando acertos e erros,
buscando alternativas de superação e assumindo responsabilidades.
4.8. Seminário
4.8.1. Descrição
Entre as inúmeras formas de
trabalho em grupo, o seminário é das mais freqüentes entre as menções de alunos
e de professores, em especial, no ensino superior. No entanto, o procedimento
de ensino a que se referem não é propriamente aquele entendido por seminário,
mas uma maneira de dividir as responsabilidades de trabalho com os conteúdos de
ensino entre os alunos. Nesses casos, um aluno ou grupo de alunos recebe a
incumbência de apresentar para a classe, em data previamente determinada, um
tema a ser pesquisado ou uma síntese de um capítulo de livro. Na prática,
corresponde a uma substituição do trabalho do professor pelo trabalho do aluno,
da aula expositiva do professor pela apresentação pouco fundamentada e
vacilante do aluno. Com certeza, um método de trabalho em sala de aula que gera
más lembranças e pouco ou nenhum conhecimento...
Seminário, em sentido
genérico, designa um evento destinado à socialização de conhecimentos ou de
variados aspectos de um mesmo tema, de natureza semelhante a congressos,
encontros nacionais e internacionais, e outros.
Em sentido específico,
seminário é um procedimento de ensino que se constrói com base no ensino com
pesquisa, realizado em subgrupos, e no debate dos aspectos
investigados, de maneira integrada ou complementar, sob a coordenação do
professor. Esse procedimento distingue-se daquelas práticas usualmente
conhecidas por essa denominação, em primeiro lugar pelo processo de
investigação do tema, que é o mesmo para todos os grupos, e realiza-se por meio
de pesquisa, em vez de os conhecidos fichamentos e resenhas de capítulos. Em
segundo lugar, pela forma de apresentação dos trabalhos, em debate de pontos
convergentes, divergentes ou complementares.
Com algumas adaptações, é um
procedimento de ensino que pode ser utilizado em EaD, desde que os grupos
trabalhem seus temas específicos, por meio de e-mail ou lista de
discussão, por um tempo determinado e, na seqüência, participem da discussão do
tema proposto para o seminário, utilizando a lista ou o fórum.
4.8.2. Objetivos de ensino
O seminário possibilita
reunir as qualidades de dois outros procedimentos de ensino estudados, o ensino
com pesquisa e o debate, refinando-os em seus aspectos favoráveis ao
desenvolvimento do aluno. Portanto, o debate realiza-se com maior e melhor
fundamento e a pesquisa ganha mais significado no processo de debate e socialização
de conhecimentos.
De modo amplo, é possível
afirmar que o seminário propicia a professor e alunos condições para:
a)Investigar
em amplitude e profundidade uma questão, buscando entendê-la sob diferentes e
renovadas perspectivas.
b)Analisar
de maneira crítica e reflexiva os resultados de sua investigação (ou de seu
grupo), em confronto com aqueles apresentados pelos outros grupos da classe.
c) Trabalhar
cooperativamente, buscando e socializando informações, discutindo e
confrontando hipóteses e opiniões.
d)Debater,
com fundamento, aspectos diversificados de uma questão ou problema.
e)Participar
ativamente, respeitando as contribuições dos diferentes grupos e participantes.
O seminário é uma situação
de aprendizagem que possibilita ao aluno realizar transformações de ordem
conceitual (coleta, seleciona, organiza, relaciona e registra informações),
procedimental (leitura, pesquisa bibliográfica, registro e expressão oral) e
atitudinal (cooperação, autoconfiança).
4.8.3. Atribuições do
professor
Embora a ação dos alunos
seja preponderante nesse procedimento de ensino, muitas são as atribuições
reservadas ao professor. Elas podem ser divididas em duas fases principais, que
se referem à preparação e à apresentação. Na fase de preparação, o professor
precisa:
a)Definir
com clareza os objetivos de ensino a serem atingidos.
b)Identificar
os conteúdos a serem trabalhados.
c) Selecionar
o tema a ser investigado, bem como os subtemas, de acordo com os objetivos e
conteúdos de ensino definidos.
d)Selecionar
a bibliografia, em diferentes graus de complexidade e aprofundamento, a ser
indicada aos alunos.
e)Esclarecer
aos alunos a forma de realização do trabalho: a investigação, a apresentação e
a avaliação.
f) Orientar
o trabalho, construindo com os alunos um roteiro de pesquisa e auxiliando na
localização e utilização dos recursos bibliográficos necessários.
g)Elaborar
o cronograma de realização da pesquisa e de apresentação e discussão dos
resultados.
h)Acompanhar
os trabalhos dos subgrupos, observando o desempenho e a participação dos alunos
e os produtos elaborados.
Concluída a fase de
pesquisa, o professor tem de viabilizar a apresentação dos trabalhos e a
realização do debate. Nesse sentido, ele deve:
a)Organizar
o ambiente de sala de aula, selecionando ou solicitando a indicação dos debatedores.
b)Coordenar
as apresentações, direcionando o processo, questionando, esclarecendo e
sintetizando, quando necessário.
c) Garantir
o respeito e a solidariedade, a participação e a cooperação.
d)Formular
questões amplas e relativas ao tema central, a serem respondidas no debate.
e)Estimular
a reflexão crítica e o aprofundamento dos estudos.
f) Observar
a participação individual e coletiva de seus alunos, quer estejam no papel de
debate dores ou de platéia.
g)Avaliar,
com a colaboração dos alunos, o trabalho realizado, verificando os objetivos de
ensino e o grau de envolvimento dos participantes, e identificando aspectos
positivos e negativos, além de alternativas de superação.
4.8.4. Papel do aluno
Da mesma forma que para o
professor, as tarefas do aluno são diversificadas. De início, os alunos devem:
a)Responsabilizar-se
pelo sub-tema determinado.
b)Reunir
a bibliografia necessária à investigação.
c) Ler
e estudar, aprofundando sua compreensão do sub-tema.
d)Organizar
e sistematizar as idéias principais do assunto estudado.
e)Preparar-se
para a realização do seminário, esclarecendo dúvidas e divergências.
Na fase de apresentação dos
trabalhos, os alunos têm de participar ativamente do debate. Para tanto, devem:
a)Apresentar
relatório por escrito do sub-tema estudado, com cópias para cada participante.
b)Expor,
de maneira clara e objetiva, as idéias essenciais estudadas.
c) Assistir
atentamente à exposição dos colegas.
d)Buscar
os esclarecimentos necessários à compreensão dos diferentes enfoques da questão
em estudo.
e)Debater
os diferentes aspectos do tema e as questões formuladas pelo professor,
argumentando e contra-argumentando, buscar respostas e encaminhar conclusões.
f) Participar
da avaliação do seminário, contribuindo na identificação de dificuldades e
propondo alternativas de solução.
4.9. Solução de problemas
4.9.1. Descrição
A solução de problemas é um
procedimento de ensino baseado na apresentação de uma situação-problema aos
alunos, que deve ser resolvida, individualmente ou em subgrupos, utilizando os
conhecimentos disponíveis ou novos conhecimentos, construídos por meio de
pesquisas.
De forma semelhante ao
ensino com pesquisa, a solução de problemas também é uma variação do método da
descoberta, porque requer uma atitude reflexiva do aluno e o acompanhamento
direto e contínuo do professor. Na mesma medida, assemelha-se ao ensino por
projetos porque propõe a busca de soluções práticas para um problema concreto,
que, agora, pode ser fictício.
Esse procedimento é bastante
útil em EaD, em situações educativas que envolvem grupos numerosos e com graus
diversificados de compreensão dos conteúdos de ensino, porque permite promover
o aprofundamento de estudos na medida da necessidade individual de cada aluno
ou subgrupo.
Nesse caso, o processo de
busca de solução para o problema pode ser individual ou coletivo e as respostas
podem ser apresentadas e confrontadas em lista de discussão. Ao final do
processo, o professor pode elaborar uma síntese das soluções apresentadas, indicando
acertos e reorientando eventuais equívocos.
4.9.2. Objetivos de ensino
Trabalhar utilizando solução
de problemas pode propiciar aos alunos condições de:
a)Participar
ativamente na organização e reorganização de conhecimentos antigos e na
construção de novos.
b)Desenvolver
habilidades de raciocínio lógico e reflexão crítica.
c) Aplicar
conhecimentos teóricos às situações práticas apresentadas na forma de
situações-problema.
d)Desenvolver
a responsabilidade pelo processo de conhecimento, estimulando a iniciativa e a
busca de novas informações.
e)Identificar
a necessidade de formular hipóteses e testá-las no decorrer do processo de
construção de soluções.
f) Planejar
etapas e ações na busca da solução do problema apresentado.
g)Responsabilizar-se
pelo processo de construção de conhecimento individual e coletivo.
A solução de problemas não é
um procedimento de ensino rápido, nem fácil de ser realizado. Requer, no
mínimo, o tempo necessário à reorganização do conhecimento e à busca de novas
informações e a disposição do professor em orientar esse processo de descoberta.
No entanto, proporciona condições para realizar objetivos conceituais
(organização, relação e registro de informações diante de um problema
concreto), procedimentais (busca de novas informações, formulação e testagem de
hipóteses, elaboração de um plano de ação) e atitudinais (responsabilidade,
cooperação, autoconfiança).
4.9.3. Atribuições do
professor
O professor deve considerar
que o aluno vai se mostrar mais envolvido e desafiado pelo procedimento quanto
melhor compreender o que se espera dele. Desse modo, deve preocupar-se em:
a)Definir
a forma de realização do procedimento: individual ou em subgrupos.
b)Selecionar
problemas que, da perspectiva do aluno, sejam significativos, isto é,
relacionados com sua experiência pessoal, desafiadores e adequados ao seu
desenvolvimento intelectual.
c) Apresentar
os problemas de maneira clara, relacionando aos objetivos de ensino a serem
atingidos e aos conhecimentos construídos previamente.
d)Estimular
os alunos a definir fases para o enfrentamento do problema, formulando
hipóteses, coletando dados, testando hipóteses, confrontando resultados, entre
outros.
e)Fornecer
indicação bibliográfica, quando julgar oportuno, estimulando o aprofundamento
teórico.
f) Acompanhar
os processos desenvolvidos pelos alunos, estimulando-os a descobrir
alternativas de solução e reorientando ou encorajando os alunos ou grupos menos
estimulados.
g)Orientar
os alunos para realizar o registro de seu processo de busca de solução para o
problema.
h)Organizara
apresentação, para a classe, das soluções encontradas, proporcionando condições
de análise e reflexão sobre cada uma delas.
i) Realizar
a avaliação do processo e dos produtos finais, identificando acertos e
equívocos e formulando alternativas de superação.
4.9.4. Papel do aluno
O aluno, por sua vez,
precisa trabalhar ativamente na solução do problema, reproduzindo uma atividade
que, embora execute no cotidiano, agora requer fundamentação teórica. Desse
modo, deve:
a)Procurar
entender com clareza a situação-problema, estabelecendo relações com
conhecimentos e experiências anteriores.
b)Buscar
a fundamentação teórica necessária.
c) Formular
um plano para enfrentamento do problema, definindo e testando hipóteses.
d)Registrar
os caminhos percorridos na busca da solução.
e)Preparar-se
para a apresentação de suas alternativas de solução.
f) Participar
atentamente da apresentação de seus colegas, confrontando suas soluções com
aquelas apresentadas, questionando e refletindo.
g)Avaliar
seu percurso individual na busca de solução e seu compromisso e participação na discussão das
soluções apresentadas.
4.10. Trabalho em grupos
4.10.1. Descrição
O procedimento de ensino
conhecido por trabalho em grupos é muito utilizado, desde a Educação infantil e
séries iniciais do ensino fundamental até nos cursos de pós-graduação, tanto no
ensino presencial como no virtual. E isso porque, de certa maneira, essa
modalidade de trabalho em Educação recupera a forma habitual de trabalho na
vida, no cotidiano, no ambiente doméstico e na atuação profissional, e
constitui excelente oportunidade de troca e cooperação entre indivíduos com
idades, objetivos e interesses semelhantes.
São inúmeras as modalidades
de trabalho em grupo. Entre elas, algumas já foram descritas neste texto. No
entanto, independentemente da modalidade utilizada, vale considerar os
objetivos de ensino que orientam a atividade educativa. Há formas de trabalho
em grupo que podem ser desenvolvidas em curtos intervalos de tempo, como os
pequenos grupos que realizam uma mesma tarefa (por exemplo: apresentação, formular
perguntas ou responder a uma mesma pergunta) ou pequenos grupos com tarefas
diferentes (por exemplo: responder a perguntas diferentes, sintetizar
parágrafos diferentes de um mesmo texto); grupos de cochicho, que resolvem uma
questão em pouco tempo, trocando idéias.
Essas atividades podem ser
complementadas pela discussão geral ou pelo debate, pela realização de painéis
ou grupos de observação e grupos de verbalização (GO-GV), no grupo-classe.
Novamente trabalho em grupo, porém com a participação de todos os alunos. Nessa
fase, a coordenação do professor ou de um aluno indicado para a tarefa será
necessária, no sentido de garantir a oportunidade de contribuição para todos.
Outras formas de trabalho em
grupo, como o ensino com pesquisa, ensino por projetos, estudo do meio,
requerem um tempo maior para sua execução; no entanto, permitem alcançar maior
número de objetivos de ensino e desenvolver variadas habilidades.
Na EaD, o trabalho em grupo
é um procedimento de ensino bastante utilizado porque permite estabelecer
interação efetiva no processo de produção conjunta de novos conhecimentos entre
os alunos, no subgrupo e no grupo-classe, apesar da distância
física, no tempo e no espaço. Os
grupos são formados e trabalham com troca de e-mail ou na lista de
discussão. Em alguns casos, pode haver uma ferramenta especifica do ambiente
virtual, denominada Fórum, para a realização dos trabalhos em grupos.
4.10.2. Objetivos de ensino
Trabalhar em grupos, no
processo de construção de conhecimentos, pode propiciar a alunos e professores
a oportunidade de:
a)Procurar
solução ou resolver questões em conjunto com outros alunos.
b)Discutir
e debater, trocar idéias e opiniões, contribuindo para a realização da tarefa,
de maneira integrada.
c) Praticar
a cooperação entre alunos, com facilidades e dificuldades semelhantes ou
equivalentes.
d)Tornar
mais direta e rápida a comunicação entre iguais, proporcionando um ambiente de
estudo e trabalho descontraído e criativo.
e)Desenvolver
a habilidade de trabalhar com os colegas, aprendendo e ensinando e, ao mesmo
tempo, participando.
f) Respeitar
e observar o respeito a cada componente do grupo, em suas contribuições.
g)Valorizar
o trabalho em equipe no ambiente escolar e no espaço profissional.
O trabalho em grupos, pela
proximidade e participação ativa dos alunos, independentemente da dinâmica e da
combinação de procedimentos adotada, proporciona situações de aprendizagem nas
quais podem ser atingidos objetivos conceituais (investigação, produção de
novos conhecimentos), procedimentais (comunicação oral e escrita, discussão) e
atitudinais (respeito, cooperação, solidariedade).
4.10.3. Atribuições do
professor
A primeira e mais importante
atribuição do professor ao propor e realizar trabalhos em grupo é orientar os
alunos, com clareza, a respeito da atividade que devem realizar. Desse modo,
será necessário:
a)Definir
os objetivos de ensino a serem atingidos.
b)Selecionar
a modalidade de trabalho em. grupo a ser utilizada e conhecê-la em detalhe.
c) Formar
os grupos de alunos ou pedir que se formem aqueles já habituais, lembrando que
o "grupo ideal" deve ter em torno de cinco componentes. Se o
professor considerar necessário formar novos grupos para a atividade que
pretende realizar, deve informar esse fato aos alunos e assumir a orientação
do processo. Ele pode numerar os alunos, de acordo com o número de grupos que
pretende ter em sala e então reuni-los conforme o número atribuído (exemplo;
todos os alunos que receberam o número um formam o grupo um, e assim por
diante).
d)Comunicar
detalhadamente a tarefa a ser realizada pelo grupo; objetivos a serem
alcançados, forma de trabalho, produto esperado e tempo de duração da
atividade.
e)Orientar
a distribuição de funções entre os componentes do grupo, de modo que, no
mínimo, um deles observe o prazo de realização, outro faça anotações e um
terceiro coordene as atividades.
f) Acompanhar
a execução da atividade, aproximando-se dos grupos e participando, se
necessário, das discussões que realizam, esclarecendo e reorientando. A
proximidade do professor, reafirmando com sua presença os objetivos do
trabalho, auxilia o aluno na prática do respeito ao colega e à tarefa a ser
realizada.
g)Observar
o andamento dos trabalhos, verificando se as conclusões estão sendo anotadas
por, pelo menos, um dos componentes do grupo.
h)Observar
a participação, as atitudes e as habilidades de cada integrante dos grupos. O
professor pode realizar pequenas anotações sobre essas contribuições, a fim de
compor seus registros de avaliação contínua.
i) Cuidar
para que todos os grupos encerrem a atividade recebendo relatórios ou
anotações. Esse material deve ser submetido à apreciação do professor antes da
atividade de apresentação à classe e, se necessário, deve ser modificado pelo
grupo, sob a orientação do professor.
j) Programar
atividade de apresentação, seguida ou não de debate, das conclusões formuladas
em cada grupo.
4.10.4. Papel do aluno
Considerando as atribuições
do professor, parece que não resta muito ao aluno. Isso não é verdade.
a)Informar-se
amplamente sobre os objetivos a serem atingidos, a natureza da atividade a ser
realizada, os produtos esperados e o tempo disponível.
b)Cooperar
na formação do grupo e na definição de papéis e responsabilidades.
c) Formular
idéias e opiniões com clareza e objetividade, sem monopolizar a atenção ou
dispersar o interesse dos colegas, com assuntos paralelos.
d)Ouvir
atentamente as opiniões e os comentários dos colegas, integrando-os ao
registro dos trabalhos do grupo.
e)Discordar
e discutir sem desrespeitar os colegas, argumentando e contra-argumentando com
o objetivo de garantir a clareza das idéias em debate.
f) Respeitar
as opiniões divergentes e acatar a decisão que representar a opinião da maioria
dos componentes do grupo.
g)Cumprir
suas responsabilidades, conforme determinado pelo grupo na divisão de tarefas.
h)Criticar
e aceitar ser criticado, no sentido de melhorar o desempenho de cada aluno e do
grupo.
i) Participar
ativa e dedicadamente na apresentação das conclusões do grupo à classe,
contribuindo sempre que necessário.
j) Assistir
às apresentações dos outros grupos com atenção, incorporando novos
conhecimentos àqueles já elaborados.
k) Registrar,
sempre que possível, as conclusões a que o trabalho permitiu chegar, sejam
individuais, do subgrupo ou do grupo-classe.
4.11. Aula expositiva
4.11.1. Descrição
A aula expositiva é um dos
procedimentos de ensino mais conhecidos e utilizados e, de certo modo, dispensa
descrição. Em geral, baseia-se na apresentação oral de um tema, pelo professor,
e pode contar com maior ou menor participação dos alunos, dependendo da
proposta e dos objetivos de ensino. Além disso, a aula expositiva pode estar
apoiada em recursos de ensino, como esquemas, gráficos, sinopses, anotada no
quadro-de-giz, em cartazes, em transparências, entre outros.
Na EaD, a aula expositiva
ocorre nas situações de vídeo e teleconferência, com maior freqüência. Nos dois
casos, a possibilidade de interação professor-aluno é bem reduzida: na
videoconferência, em virtude da assincronia, ou seja, a aula pode ter sido
gravada em momento diferente daquele em que está sendo apresentada; e na
teleconferência, em decorrência do elevado número de espectadores, que pode
provocar eventuais dificuldades ou atrasos na comunicação, quando ocorrer por
telefone, fax ou correio eletrônico (e-mail).
4.11.2. Objetivos de ensino
A aula expositiva pode ser
utilizada nas situações em que o professor pretende propiciar aos alunos
condições de:
a)Compreender
de forma ampla e geral um novo tema de estudo, quando são apresentadas as
idéias introdutórias ao assunto, organizados esquemas e sumários. Na seqüência,
outros procedimentos de ensino deverão ser empregados, de modo que promova o
aprofundamento necessário ao estudo.
b)Sintetizar
o assunto estudado por meio de outros procedimentos de ensino, identificando os
aspectos essenciais, de maneira resumida. Nesse caso, a aula expositiva, como
oportunidade de elaboração da síntese final, pode contar com a participação
ativa dos alunos, que já terão produzido conhecimentos sobre o assunto.
c) Atualizar
as informações disponíveis ou solicitar as explicações necessárias sobre o
assunto em estudo, quando o professor esclarece aspectos cuja compreensão
pareça mais difícil ou divulga informações de acesso mais restrito.
A aula expositiva oferece
oportunidade para o aluno realizar aprendizagens de caráter conceitual
(aquisição e atualização de informações, esclarecimento de dúvidas, elaboração
de sínteses), procedimental (ouvir e perguntar, anotar, elaborar esquemas) e
atitudinal (respeito e atenção).
4.11.3. Atribuições do
professor
O sucesso da aula expositiva
depende quase exclusivamente do professor, tanto para a sua preparação como
para o desenvolvimento.
Em relação à preparação, o
professor deve:
a)Definir
claramente os objetivos de ensino da aula, considerando as características e as
necessidades dos alunos.
b)Planejar
com cuidado a seqüência das idéias a serem apresentadas, as perguntas e os
exemplos a serem utilizados.
c) Elaborar
o esquema ou sumário a ser transcrito no quadro-de-giz ou equivalente.
d)Preparar
outros recursos básicos, como fotos, recortes, transparências, lembrando-se de
que devem conter apenas os elementos mínimos necessários para ilustrar e
complementar a exposição oral.
e)Reservar
os equipamentos necessários ou verificar sua presença e a forma de utilização
no espaço onde será realizada a aula expositiva.
No que se refere à
realização da aula expositiva, o professor deve:
a)Comunicar
com clareza o tema e os objetivos de ensino da aula, relacionando-os a aulas
anteriores.
b)Despertar
a atenção dos alunos para o tema a ser tratado com uma questão, o relato de um
fato, o comentário de uma notícia, entre outros, de modo que mobilize
conhecimentos e experiências anteriores dos alunos.
c) Respeitar
o ritmo da classe em relação à participação, com comentários ou questões, e em
relação à possibilidade de anotar idéias e esquemas apresentados.
d)Apoiar
a apresentação em recursos visuais preparados previamente e em comentários e
questões formuladas pelos alunos, dirigindo-se a eles pessoalmente.
e)Utilizar
linguagem não-verbal - gestos, expressão facial -, variando o tom de voz e
movimentando-se pelo espaço da sala de aula.
f) Avaliar
continuamente a disposição dos alunos, levando em conta que sua participação na
aula expositiva não é tão passiva quanto se pode pensar, mas requer atenção e
disponibilidade para a atividade intelectual.
g)Evitar
de se irritar com interrupções ou distrações dos alunos, considerando-as
desrespeito ou desinteresse.
h)Controlar
cuidadosamente o tempo de duração da aula, evitando ultrapassar 15 ou 20
minutos de exposição contínua. Lembre-se de que assistir a uma aula expositiva
pode ser muito cansativo.
i) Ao
final da apresentação, enfatizar idéias essenciais e estabelecer a sua relação
com as próximas atividades a serem desenvolvidas.
4.11.4. Papel do aluno
No contexto da aula expositiva,
o aluno deve se envolver ativamente no processo de construção de seu
conhecimento, com base em informações que estão sendo apresentadas pelo
professor,
segundo suas escolhas e
prioridades, e que deverão ser apropriadas pelo aluno, apoiado em suas
experiências e conhecimentos anteriores.
Para garantir a adequada
utilização desse procedimento de ensino, espera-se que o aluno:
a)Dedique
atenção à exposição e procure relacioná-la com outros conhecimentos ou
informações disponíveis.
b)Evite
se distrair com atividades paralelas ou comentários alheios ao conteúdo da
aula.
c) Busque
esclarecimentos, interrompendo o professor, sempre que necessário.
d)Contribua
com exemplos ou informações pertinentes e relevantes.
e)Procure
anotar as idéias essenciais, sem se preocupar demasiadamente em copiar tudo o
que o professor diz ou escreve.
5 - PROCESSO DE AVALIAÇÃO
Avaliar, para muitos de nós,
é uma das atividades pedagógicas mais difíceis de realizar em nosso trabalho,
um verdadeiro espinho atravessado em nossa garganta.
Quando começamos a pensar
sobre avaliação, ou nos defrontamos com a situação concreta de avaliar nossos
alunos, comumente perguntas como estas nos assaltam: “Como é que vou dar a
prova?”, “Quando vou aplicar uma prova?”, “Que aspectos ou pontos vou
avaliar?”, “Quantas notas vou dar?”, “Que tipo de prova vou fazer?”, “Que
importância tem esta avaliação?”, O que é importante numa avaliação?”, “Para
que vou avaliar?”, “Que técnica de avaliação vou utilizar?”
5.1. Pontos que permitem uma
visão de conjunto do processo de avaliação
5.1.1. O
processo de avaliação está relacionado com o processo de aprendizagem. Quando
professor e aluno estão empenhados em conseguir uma aprendizagem, é fundamental
e imprescindível que ambos possam contar com um conjunto de dados e informações
que lhes digam se a aprendizagem está sendo conseguida ou não, se estão
caminhando em direção ao conjunto terminal pretendido, ultrapassando os pontos
intermediários de forma sucessiva e cumulativa, ou se desviando dele. E, como conseqüência dessa constatação,
professor e aluno tomam a decisão de se manterem na reta e progredirem ou de
redirecioná-la, para que a aprendizagem seja completamente estabelecida.
5.1.2. O
processo de avaliação deve ser pensado, planejado e realizado de forma coerente
e conseqüente com os objetivos propostos para a aprendizagem. Os objetivos a
alcançar são os critérios definidores do processo de avaliação: quer dizer, são
os objetivos que dizem “o que avaliar”, “de que forma avaliar”, “qual técnica
ou instrumento utilizar para avaliar”, “o que registrar e de que forma”, “como
discutir o aproveitamento da atividade” e “qual o encaminhamento” a ser
combinado com o aluno, tendo em vista o reiniciar do processo de aprendizagem.
Este momento de avaliação permite ao professor perceber se têm claros os seus
objetivos de aprendizagem ou não. Estará
preocupado em avaliá-los ou o que faz é expor um certo conteúdo durante algumas
aulas e depois realizar provas para poder dar uma nota?
5.1.3. O
processo de avaliação, para acompanhar o processo de aprendizagem, é contínuo.
Sabemos que a aprendizagem, comumente, se faz de forma contínua, cumulativa e
evolutiva ou em ritmo ascendente em direção ao objetivo proposto. E, justamente para que possa se concretizar,
ela tem necessidade de contar com um instrumento de retroalimentação
(feedback), um processo de avaliação, que seja contínuo, realizado durante o
processo de aprendizagem. Esta colocação distancia-se diametralmente daquela
que entende a avaliação como uma atividade que se realiza ao final do semestre
ou do ano para se verificar se o aluno aprendeu ou não ao término daquele
espaço de tempo, quando o professor realiza um julgamento do aluno, para dar
seu veredicto: foi aprovado ou reprovado.
5.1.4. A avaliação, como um
processo contínuo, permite um contínuo reiniciar do processo de aprendizagem,
até atingir os objetivos finais. Para que a avaliação se constitua num processo
contínuo, é condição básica que, em todas e cada uma das atividades previstas e
realizadas, aluno e professor se informem sobre sua aproximação ou não dos
objetivos propostos. Esta informação dirá se a atividade foi realizada
adequadamente, e então se pode passar para a atividade seguinte; ou se foi
realizada inadequadamente ou não foi realizada simplesmente e, então, algo
precisa ser feito antes da atividade seguinte, ou até conjuntamente com ela
para que os objetivos possam ser atingidos. Um plano de aprendizagem
adequadamente elaborado, incluindo, portanto um processo contínuo de avaliação,
levará o aluno à consecução dos objetivos e, por conseguinte, à aprovação
final. Esta conseqüência contradiz aquela crença de que “o professor é bom
porque reprova grande número de alunos de sua classe” ou de que “o ensino
ministrado em tal disciplina é de tão alto nível que grande parte da turma não
consegue aprender e é reprovada”.
5.1.5. O
processo de avaliação deverá estar voltado para o desempenho do aluno. Isto é,
para a atividade do aluno enquanto realiza ou não que foi planejado, e se o
realiza adequada ou inadequadamente. Esta afirmação questiona o modo de ser de
muitos professores que, a partir de sua experiência, se dizem capazes de
identificar logo ao início do curso, decorridas as primeiras semanas, os que
“não querem nada com nada”. E a partir destas primeiras impressões rotulam seus
alunos e os classificam definitivamente numa ou noutra categoria, permitindo
que esta classificação condicione daí para frente seu relacionamento com eles.
E as conseqüências desses julgamentos à priori são bem conhecidas: os alunos
“julgados bons” ou “sérios” têm praticamente garantida sua aprovação, porque
até mesmo seus erros ou suas faltas serão relevados, e os “julgados malandros”
ou “que não querem nada com nada” terão que lutar e muito contra uma quase
certa reprovação. Quando falamos que o processo de avaliação deverá estar
voltado para o desempenho do aluno, queremos dizer que é importante
acompanhamos seu desenvolvimento, a partir do desempenho concreto em cada uma
das atividades e procurarmos o máximo de objetividade para colaborarmos com a
revolução do próprio aluno em direção aos objetivos.
5.1.6. O
processo de avaliação deverá incidir também sobre o desempenho do professor e a
adequação do plano. Um processo de aprendizagem resulta da inter-relação de,
pelo menos, três elementos: um aprendiz - que procura adquirir o aprendizado de
alguma coisa; um orientador ou preceptor, cuja função é a de colaborar para que
o aprendiz consiga seu intento; e um plano de atividades, que apresente
condições básicas e suficientes que, sendo realizadas, permitam ao aprendiz
atingir seu objetivo. Assim sendo, o processo de avaliação que procura oferecer
elementos para avaliar se a aprendizagem está se realizando ou não, deve conter
em seu bojo uma análise não só do desempenho do aluno, mas também do desempenho
do professor e da adequação do plano aos objetivos propostos. Com efeito,
muitos casos de não aprendizagem se explicaram e se explicam não por um
desempenho inadequado do aluno, mas por uma falta de preparação do professor, sua
improvisação, falta de planejamento, falta de flexibilidade na aplicação de um
plano, desconhecimento ou não aplicação de técnicas pedagógicas adequadas aos
objetivos propostos, por comportamentos preconceituosos do professor. Outras vezes, a falha se encontra no próprio
plano: este por vezes inexiste, por vezes existe, mas não está adequado às
condições físicas daquela classe ou às condições culturais e intelectuais
daquela turma, ou às condições de tempo e calendário, ou aos imprevistos que
sempre surgem. O que vale dizer: a avaliação da consecução ou não de uma
aprendizagem deve recair sobre estes três aspectos: o desempenho do aluno, o
desempenho do professor e a adequação do plano.
5.1.7. Em
todo processo de avaliação requer-se uma capacidade de observação e de registro
por parte do professor e, se possível, por parte do aluno também. Como já
dissemos anteriormente, o processo de aprendizagem é dinâmico e, em geral,
ascendente em direção aos objetivos propostos.
Não se trata, porém, de um movimento ascendente linear. Ele se compõe
também de desvios e retrocessos. Todavia, sempre exige, por parte do professor,
uma cuidadosa observação (e sabemos que esta é uma habilidade que precisa ser
treinada), sobretudo do que se relaciona com a aprendizagem, bem como uma troca
de idéias entre professor e aluno para encaminhamento posterior, que tanto
poderá servir para que o aluno se desenvolva mais e mais rapidamente, como para
que ele ou o professor corrijam determinadas falhas em seus desempenhos, ou o
plano seja melhor adaptado.
5.1.8.
Dependendo de seus participantes, podemos ter apenas uma hetero-avaliação ou
contar também com a auto-avaliação. Além do já exposto, pensamos também que,
para a consecução eficiente de uma aprendizagem, é de fundamental importância
que, além da hetero-avaliação (avaliação realizada pelo professor), o aluno
possa desenvolver sua capacidade de auto-avaliação. Capacidade esta que requer todo um trabalho
do professor e aluno para que seja adquirida e desenvolvida: ou seja, exige o desenvolvimento
de habilidades como a de observar-se a si mesmo, comparar e relacionar seu
desempenho com os objetivos propostos, honestidade pessoal para reconhecer
tanto seus sucessos como suas falhas evitando aquelas “celebérrimas desculpas”
para seus erros e mais ainda aquela voz corrente: “auto-avaliação é a
oportunidade que o aluno tem para se defender dos ataques que o professor vai
fazer”. Trata-se de uma atividade que precisa ser aprendida, treinada e
realizada. Trata-se de uma atividade que para ser realizada com eficácia supõe
a existência de um clima de cooperação e confiança entre professor e aluno; mas
que, acontecendo, se constitui num dos instrumentos mais preciosos para que o
aprendiz tome consciência do processo de aprendizagem e assuma sua participação
no mesmo.
5.2. Técnicas que podem ser
utilizadas num processo de avaliação do desempenho do aluno
5.2.1. Prova discursiva,
dissertação ou ensaio
a)Conceituação: O
professor apresenta questões ou perguntas ou temas para serem respondidos ou discorridos
pelo aluno com grande liberdade e espontaneidade. O estudante livremente
formulará, organizará, abreviará ou ampliará as respostas ou dissertações. A única restrição à resposta está no verbo
constante das instruções: compare, confronte, identifique, apresente argumentos
a favor e/ou contra, dê exemplos, relacione, sintetize, defina, critique,
sugira...
b)Avalia:
Cabedal de conhecimentos; lógica nos processos mentais; justificação de
opiniões; organização de idéias; capacidade de síntese; capacidade de
selecionar, relacionar, organizar idéias; clareza de expressão; soluções
criativas; atitudes, preferências.
c) Limitações: A
partir de várias pesquisas realizadas, sabe-se que a subjetividade influencia
muito na avaliação de provas deste tipo; número limitado de questões abrangendo
uma amostra limitada de matéria; pela sua aparente facilidade de preparação,
favorecem a improvisação por parte do professor; em geral só há feedback para o
aluno se sua resposta estava certa ou errada, perdendo-se a riqueza de encaminhamentos
sobre outros aspectos da aprendizagem que ela poderia estar medindo.
5.2.2. Prova oral,
entrevista
a)Conceituação: A
prova oral constitui-se de perguntas e respostas orais. As perguntas em geral
são previamente planejadas e rigidamente seguidas, podendo, no entanto, sofrer
variações de acordo com as respostas do aluno.
A partir dessas respostas, o professor pode avaliar o conteúdo cognitivo
em si, bem como inferir a respeito de atitudes.
b)Avalia:
Profundidade e extensão dos conhecimentos; todos os itens indicados na prova
discursiva; opiniões, julgamentos, apreciações, tendências; habilidade de se
expressar oralmente.
c) Limitações:
Grande grau de subjetividade no atribuir uma nota; as incompatibilidades e as
simpatias entre examinador e examinando exercem papel importantíssimo; as
reações dos alunos são contraditórias: há os que ficam totalmente bloqueados e
os que se sentem perfeitamente à vontade, o que influencia o comportamento e as
respostas deles; seu valor está nitidamente relacionado com a aptidão do que a
conduz.
5.2.3. Prova objetiva
São formas de provas que,
além de possibilitar maior cobertura da matéria, satisfazem ao mesmo tempo o
critério de objetividade, definido como a qualidade de uma prova para permitir
que examinadores independentes e qualificados cheguem a resultados
idênticos. Vejamos alguns tipos de
questões, os mais comumente formulados.
A prova objetiva poderá se
formar com as chamadas questões de lacunas, que servem para medir conhecimento
e são formadas por frases incompletas, cujo espaço em branco pode ser
preenchido apenas por uma interpretação.
Exemplo: O ano em que o primeiro transplante de rim bem sucedido teve
lugar foi...
Poderá ainda a prova
objetiva constituir-se com questões falso-verdadeiro, que servem para medir:
identificação de relação de causa e efeito; distinção de opiniões;
conhecimentos de fatos específicos. Exemplo: Os objetivos da aprendizagem podem
ser agrupados em três categorias: conhecimentos, habilidades e atitudes (V ou
F).
Outra forma, talvez a mais
comum, de se elaborar uma prova objetiva é utilizar questões de múltipla
escolha, que se estruturam de diversas maneiras. Estas são as mais usadas:
a)Escolha
simples: mede conhecimentos. É a forma mais comum da questão de
múltipla-escolha. Consiste, basicamente, em uma sentença incompleta ou em uma
pergunta, seguida por certo número de respostas possíveis (opções), entre as
quais o aluno deve escolher a correta.
Exemplo: Dentre as causas que têm levado a agricultura comercial
brasileira a expandir-se, ressalta-se:
- o
papel que ela continua tendo como o setor mais importante da economia
nacional;
- o
projeto em curso de integração
nacional, fundado exclusivamente na expansão da economia agrícola;
- o
crescimento dos mercados consumidores internos e externos de alimentos e
matérias-primas de origem agrícola;
- a
elevação geral do salário
real da população, que tem levado o setor agrícola a se
modernizar;
- a
participação proporcionalmente crescente dos produtos agrícolas tropicais
na pauta geral da exportação brasileira.
a)Escolha
múltipla: mede conhecimentos. Este tipo é adequado quando se pretende
apresentar uma situação caracterizada por mais de uma resposta correta; o aluno
deve identificar as respostas corretas de acordo com um código apresentado nas
instruções.
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