FACULDADE
DE TEOLOGIA
TESTEMUNHAS
HOJE
CURSO
LIVRE
PENTATEUCO
CONCEITO
GERAL
O Pentateuco,
(nome que vem do grego e significa “cinco rolos”) também chamado de Livro da
Lei pelos judeus, ou às vezes referido como a Lei de Moisés, este é a famosa
TORAH judaica.
Existem dois
elementos que compõe este conjunto de cinco livros:
(1) História – embora não
seja um compêndio de história, o Pentateuco remonta à origem da raça humana e
fala das regiões pelas quais ela se espalhou.
(2) Lei – Este ponto é
de tal modo proeminente no Pentateuco que recebeu o apelido de Livro da Lei (ou
Torah). O 3º livro - Levítico – é inteiramente composto de leis (especialmente
leis litúrgicas), os outros tem leis e discursos e história misturados. O
Gênesis é o livro que narra os tempos primitivos de Adão a Noé, e de Noé a
Abraão.
As leis no
Pentateuco dizem respeito a todas as relações da vida humana, seja com Deus, ou
seja, com o próximo. Impressionante é que toda a legislação do Antigo
Testamento está contida nestes cinco livros.
Um fato
maravilhoso, e isto é um dos pontos que torna a Bíblia especial, é que os dois
elementos (história e lei) estão expostos como duas linhas de pensamento
fantasticamente combinados, formando um rio único de informações através do
Pentateuco demonstrando um plano e uma unidade admiráveis. A história sem as
leis não é compreensível, nem as leis são inteligíveis à parte da história,
assim se tornam um conjunto único e de uma continuidade singular.
Podemos
classificar os temas de cada um dos cinco livros da seguinte forma:
Gênesis – A fundação da nação hebraica;
Êxodo – O Concerto com a nação hebraica;
Levítico – As leis da nação hebraica;
Números – A viagem para a Terra Prometida;
Deuteronômio – As leis da nação hebraica.
É
importante notarmos que o Pentateuco tem aproximadamente 4000 anos de
existência. Foi escrito durante o período da peregrinação do povo de Deus no deserto do Sinai (ca 1500 anos aC) e é o
legado da formação da raça humana e de um povo de forma extraordinária. São as raízes do povo hebreu, sua identidade,
sua história, seu papel entre as nações da terra e seu futuro.
A
importância primária do Pentateuco é muito mais teológica e não tanto
histórica; a história é o pano de fundo das ações de Deus no fazer surgir uma
nação especial.
É nesta história inicial que Deus se
revela e ensina o que significa ser Israel e servir ao Senhor como Israel. O
tema central do Pentateuco está em Ex
19:4-6
“Vós tendes visto o que fiz: aos egípcios, como
vos levei sobre asas de águias, e vos trouxe a mim. Agora, pois, se atentamente
ouvirdes a minha voz e guardardes o meu pacto, então sereis a minha
possessão peculiar dentre todos os povos, porque minha é toda a terra; e
vós sereis para mim reino sacerdotal e nação santa. São estas as palavras que
falarás aos filhos de Israel.”
Este texto central olha para o passado
e para o futuro – é escatológico em sua essência, transpira glória e esperança.
Conta a história a partir de Abrão, chamado de dentro do paganismo sumeriano
para fundar uma nação que seria uma bênção a todas as nações.
A humanidade, que Deus havia criado em
Sua imagem e semelhança para governar sobre toda a criação havia violado a
sagrada confiança e mergulhou todo o universo em uma ruína caótica de rebelião
moral e espiritual, com trágicas conseqüências no mundo material.
Daí a importância significativa de
Israel – a de anunciar este Deus ao mundo e de ser um povo sacerdotal a todas
as nações, ensinando, pela via prática, o que é seguir a este Deus supremo e
soberano do universo.
Assim Deus proveu o povo de Israel com
uma base histórica e teológica para a sua posição como povo peculiar – isto é o
que quer dizer “minha possessão peculiar”.
A palavra Torah quer dizer “ensino,
instrução”. Daví, o segundo rei da nação hebréia, e o rei segundo o coração de
Deus, expressa esta visão através de um louvor que se constitui no maior poema
composto – o Salmo 119. Todo este salmo gira em torno da maravilha que é a Lei
de Deus, o privilégio de se seguir a Lei de Deus, os seus benefícios e sua
sabedoria.
No Salmo 19.7-8, Daví já nos fornece
com uma visão prévia desta sua compreensão da Lei, quando diz:
A lei do Senhor é perfeita, e refrigera a alma; o testemunho do Senhor é
fiel, e dá sabedoria aos simples.
Os preceitos do Senhor são retos, e alegram o coração; o
mandamento do Senhor é puro, e alumia os olhos.
A importância fundamental e relevância
do Pentateuco para nós hoje está em sua teologia, e não na sua forma literária
ou outros aspectos. Perguntas como:
a)
Que verdade Deus está nos comunicando a
respeito dele mesmo?
b)
O que Deus está revelando a respeito de
Seus propósitos?
c)
O que significava esta revelação para o
Israel do AT e para a igreja do NT?
d)
Qual o significado para o cristão
contemporâneo? E sua igreja?
O grande tema do Pentateuco é a
reconciliação e restauração da humanidade e criação que foram afetadas pela
desobediência humana.
As instituições do Concerto do Sinai,
as leis, os rituais litúrgicos, etc, capacitaram a nação a viver sua tarefa de
serva como povo santo, e através desta santidade atrair a humanidade perdida ao
único Deus vivo e verdadeiro. É apenas neste fundamento teológico-histórico que
podemos entender a missão do povo santo de Deus em Cristo – a igreja, Corpo de
Cristo - nos dias atuais. Disto se deriva o entendimento de que somos um povo
sacerdotal.
Sl 103.17-18
“Mas é de eternidade a eternidade a
benignidade do Senhor sobre aqueles que o temem, e a sua justiça sobre os
filhos dos filhos, sobre aqueles que guardam o seu pacto, e sobre os que se
lembram dos seus preceitos para os cumprirem.”
GÊNESIS – UM PANORAMA
Introdução
Gênesis
é palavra de origem grega, singular, feminina, que significa causa, princípio,
produção, geração, criação, nascimento, origem e ação de tornar-se, em oposição
a ser. Conjunto dos seres criados - a Criação.
GÊNESIS
é o nome do primeiro livro do Pentateuco, o conjunto dos livros que iniciam as
Escrituras Sagradas. Moisés teria organizado o Pentateuco, em sua essência, por
volta do séc. XIV a.C. mas, seu texto foi, gradualmente, completado, por
redatores, posteriores a ele, que o suplementaram.
O
livro de Gênesis é também citado no Novo Testamento, Atos 15, e sua temática
aparece em outros documentos antigos, como o Documento de Mari, um dos mais
antigos documentos existentes sobre as migrações semitas, em direção à Sumer,
na Mesopotâmia. Mari, atualmente, é denominada tell Hariri. No documento citado
há referências a Abraão e Jacó. No entanto as condições apresentadas, leva-nos
a deduzir que a presença dos semitas, na região, era ainda pouco desenvolvida,
no séc. XXVIII a. C., porque as inscrições, em língua suméria, assim como a
estatuária, demonstram que a influência dos semitas, na Mesopotâmia é bem mais
recente (para a questão consultar: P. Jouguet e J.Vandier in Les Premières
Civilizations, Col. Peuples et Civilizations, Paris, 1950, p.115).
Ao tempo do rei Saul, sagrado em
O
Pentateuco estabelece relações entre a história, a lei e a doutrina. Através da
história é explicada a origem do povo de Deus; e através da lei, Israel seria a
nação, através da qual, Deus redimiria o homem. O Gênesis descreve a origem
desta nação, ao mesmo tempo em que a lei será estabelecida, posteriormente,
através do texto do Decálogo, no livro do Êxodo, capítulo 20.
O
texto em Gênesis pode ser dividido em duas partes:
a)
Dos capítulos 1-11, em que são descritas: as origens do mundo e da espécie
humana, a queda do homem e o primeiro homicídio.
b)
Dos capítulos 12-50, em que é descrita a sucessão das gerações de Adão a Noé, e
as de seus filhos, Sem, Cam, Jafté. Sem, seria seu filho mais velho, cujos
descendentes, povoaram a Ásia: Elam, Assur, Arfaxad, Lud e Aram, fundadores de
povos importantes, no povoamento da Ásia, como os elamitas, os assírios e os
arameus. Abraão foi descendente de Arfaxad.
No
Gênesis é relatado o maior espaço de tempo histórico da Bíblia. Seus onze
primeiros capítulos são uma introdução maravilhosa às Escrituras, pois n'Elas
descrevem-se, não somente a Criação do mundo, da natureza e dos os seres vivos,
animais e vegetais, como a do homem, também parte desta Natureza, mas a quem
fôra atribuída uma parcela da Divindade, através de sua alma imortal.
Além
de tudo isto ainda são apresentadas aí, as principais doutrinas teológicas:
a) Dos capítulos 1-11, descreve-se: a origem do mundo, da espécie humana, a queda do homem, e o primeiro homicídio.
a) Dos capítulos 1-11, descreve-se: a origem do mundo, da espécie humana, a queda do homem, e o primeiro homicídio.
b)
Dos capítulos 12-50, descrevem-se: a sucessão das gerações de Adão a Noé - de
Sem , aos descendentes de Abraão, Isaac e Jacó - até a morte de José, portanto
a história daqueles que aceitaram o Deus Único, àqueles, através dos quais,
Deus mostrou-se ao homem.
As Escrituras foram redigidas para todos os homens, em todos os tempos. Desta forma tornou-se necessária uma linguagem que não se restringisse apenas a esta ou aquela cultura ou idioma, mas que fosse acessível a todas as línguas e culturas, em todo tempo.
O
“discurso bíblico” é - tanto no Velho Testamento, como no Novo Testamento -
desenvolvido através de uma linguagem simbólica, em que, o sentido do que se
quer dizer, ultrapassa o da expressão literal das palavras empregadas. Por isso
é que, às vezes, algumas passagens parecem ao leitor, um tanto difíceis, mesmo
um tanto obscuras. Importante é que se compreendam os significados variados, de
conceitos gerais, tais como: morte, vida, corpo, e outros, que são
especialmente encontrados no livro de Gênesis.
É interessante ainda notar-se que o tempo, desde a criação é contado por unidades de sete dias, as semanas, correspondentes às fases do calendário lunar, tipo de cronologia, geralmente ligado aos povos pastoris.
Quanto
ao “Espaço Primordial” terrestre, não se restringe somente ao espaço Palestino.
O Éden, criado por Deus para o homem, achava-se em parte, em região que na
Antigüidade chamava-se Mesopotâmia, que significa “Região entre rios” no caso,
a região hoje chamada Iraque, situada entre os rios Pison, Gion, Êufrates e
Tigris, Gênesis 2.11-14.
Inicialmente
as condições em que vivia o homem, ligavam-no à Natureza, materialmente. Mas,
no entanto, fôra o "sopro divino" que o tornara “alma vivente, à
imagem e semelhança” de Deus, Gênesis 1.26, 5.1, 9.6, 11.7 e Tiago 3.9.
Uma
vez que os seres humanos foram criados à semelhança de Deus, como não o fôra
criatura alguma, homens e mulheres podem, não só refletirem como reproduzirem -
dentro de sua própria condição de criaturas humanas - os santos caminhos de
Deus.
Fomos
criados dentro deste propósito e, num determinado sentido, seremos verdadeiros
“seres humanos”, na medida em que o cumprirmos.
Por
imagem e semelhança, compreende-se:
- A
existência do homem como uma “alma” ou um “espírito”, isto é, como um ser
pessoal, auto-consciente, com capacidade para pensar, conhecer e agir Gênesis
2.7.
-
Ser criatura moralmente correta - qualidade perdida na queda - mas
progressivamente restaurada por Cristo.
-
Ter o domínio sobre o meio ambiente.
- O
corpo humano é o instrumento, através do qual, o homem experimenta a realidade,
expressa-se e exerce o domínio.
-
Ter a capacidade, dada por Deus, de usufruir a vida eterna Efésios 4.24 e
Colossenses 3.1-17.
A condição humana original foi transformada por incapacidade do homem em controlar a tentação da vaidade, e desobedecer a Deus, o que provocou sua “morte”. A “morte de Adão” não foi física, mas significa que o homem perdera sua comunhão com Deus, não por ter ingerido o fruto que lhe fôra proibido, em si, mas pela desobediência explícita a Deus, Gênesis 2.17-23.
Conclui-se que, neste contexto, “morte” corresponde ao afastamento de Deus, e à perda da imortalidade, que só seria restabelecida, através da vinda de Cristo.
Conseqüências:
1. A
consciência do erro, que se manifestou pela vergonha de sua nudez.
4.
Quanto ao homem a imposição de garantir o sustento a si e aos seus à custa de
esforço físico, por seu trabalho.
5.
Quanto à expulsão, teve por objetivo afastá-los da árvore da vida e impedi-lo
que conseguissem a vida eterna, Gênesis 3.23-24. Conclui-se, que neste
contexto, mais uma vez, que “morte” corresponde a afastamento de Deus e perda
da imortalidade, o que só seria restabelecida, através da vinda de Cristo.
“Vagabundo
e fugitivo” - Esta foi a sentença proferida por Deus contra Adão, o que
significa que, sem abrigo ou proteção, foram levados ao nomadismo Gênesis 4.14.
O
livro do Gênesis é o livro inicial não só da Bíblia como também de toda a
história da existência. Gênesis quer dizer começo, origem. Inicia-se com o
primeiro ato da criação.
O título é por demais adequado ao conteúdo do livro, pois
tem a ver com a origem divina de todas as coisas, seja matéria ou energia, vivo
ou inanimado. Implica em que à parte de Deus tudo pode ser rastreado até o
ponto inicial quando os propósitos e obra de Deus vieram a existir. O Gênesis
indica que Deus trouxe à existência “os céus e a terra”.
O sumário da conclusão do Gênesis (46.8-27) se encontra no
Êxodo 1:1-7, e serve como ponte entre os patriarcas e a libertação do êxodo,
ressaltando a continuidade da história do Pentateuco.
O Tema do livro de Gênesis – a criação - é duplo porém numa mesma direção:
a)
A criação do universo e da raça humana;
b)
A criação de um povo sacerdotal para a
raça humana.
- é como se fossem dois trilhos de uma linha de trem, que
começam na criação e terminam na libertação (salvação).
Entretanto, falar-se de começo apenas não é totalmente
satisfatório porque não responde a uma pergunta histórica e teológica
fundamental – por que? Saber o que Deus fez – que criou todas as
coisas no começo – é importante, mas saber por
que Deus atuou na criação e para a redenção é compreender a verdadeira
essência da revelação divina.
O tema do Gênesis centra-se em torno da primeira expressão
comunicadora de Deus ao homem, quando disse: “Frutificai e multiplicai-vos;
enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do
céu e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra”.
Deus deixa claro que Ele criou o homem
e a mulher para abençoá-los para que pudessem exercer o domínio, por parte de
Deus, sobre toda a criação. Foi a desobediência humana que ameaçou o propósito
de Deus para a humanidade na criação. A isto Deus responde chamando Abraão,
através do qual a bênção de Deus iria finalmente triunfar. Esta visão deriva
não apenas do Gênesis em si, mas de uma visão total da teologia bíblica – algo
de fundamental importância para uma verdadeira e saudável compreensão da
revelação de Deus.
O livro é estruturado sob forma de
três grandes seções:
1. a primeira dedicada aos eventos
originais (Gn 1-11) escrita na forma de narrativa poética para facilitar a
transmissão oral;
2. a segunda que se constitui no relato
dos 3 primeiros patriarcas (Gn 12-36; 38) são relatórios acerca destes
ancestrais retidos num registro familiar;
3. a terceira que é a narrativa de José
(Gn 37; 39-50) sendo uma breve história contendo tensões e resoluções.
É de fundamental importância entendermos que o livro do
Gênesis apresenta uma história, na forma de narrativa que abraça uma variedade
de tipos literários, para comunicar clara e eficazmente sua mensagem teológica,
que essencialmente está declarada em Gn 12.2.
O propósito básico do livro era o de dar à nação de Israel
uma explanação de sua existência, quando estavam no limiar da conquista de
Canaã. Moisés, autor profético inspirado por Deus, tinha a tarefa de esclarecer
o seu povo do como e por que Deus os trouxe a existência.
Ele também queria que eles soubessem que sua missão era a de nação sacerdotal,
fruto de um concerto, e como sua situação presente era o cumprimento de antigas
promessas.
Cuidadosa atenção dada aos temas que ligam o Gênesis aos
demais livros do Pentateuco, esclarecem estes propósitos. Deus revelou a Abraão
que lhe seria garantida uma terra – Canaã !2.1,5,7; 13.15); que seus
descendentes deixariam aquela terra por um tempo (15.13); que eles seriam
libertados da terra de seus opressores e retornariam à terra da promessa
(15.16). Esta terra seria deles por todo o sempre (17.8) como sendo um centro a
partir da qual eles seriam uma bênção a todas as nações da terra (12.2-3;
27.29).
José entendeu isto e viu na sua própria viagem ao Egito a
preservação divina do seu povo (45.7-8). Deus o havia enviado para lá para
salvar o povo da extinção espiritual e física (50.20). Viria o tempo no qual
Deus iria lembrar Sua promessa a Abraão, Isaque e Jacó, e os traria de retorno
a Canaã (50.24). Aquí o povo serviria a Deus como agente redentivo, um
catalisador em torno do qual as nações seriam reconciliadas com Deus (Dt 4.5-8;
28.10).
Entretanto, a mensagem teológica do Gênesis vai além da
estreita limitação de apenas Israel. O livro, além de fornecer a razão de ser
de Israel, explica a condição humana que exigia um povo da aliança. Isto é,
desvenda os grandes propósitos criacionais e redentivos de Deus que se
focalizam em Israel como agente da re-criação (conceito da nova criatura) e
salvação.
Lembremos que o propósito eterno e original de Deus,
delineados em Gn 1.26-28, foi ao criar o homem à Sua imagem e semelhança,
abençoá-los de tal forma que pudessem exercer o domínio sobre toda a criação
por parte de Deus – o domínio humano sobre a criação de Deus com a sanção divina.
A queda da raça humana subverteu o objetivo de bênção e domínio de Deus.
O processo de redenção e recuperação da aliança original se
fazia necessário. Isto tomou forma na escolha de Abraão, através de cujo filho
(Israel e em última análise o Messias) os propósitos criacionais divinos
viessem a se realizar. Aquele homem e nação, unidos pela eterna aliança a
Jeová, foram encarregados com a tarefa de serví-lO como modelo de um povo de
domínio e o veículo através do qual um relacionamento salvífico pudesse ser
estabelecido entre Deus e o mundo alienado das nações.
A história mostra que Israel falhou em ser o povo servo, um
fracasso antecipado na Torah (Lv 26.14-39; Dt 28.15-68). A grande lição
teológica vivencial, no entanto, é que os propósitos de Deus não podem ser para
sempre frustrados. O povo de Deus do AT serviu como modelo do Reino do Senhor e
agência através da qual Sua obra reconciliadora na terra poderia ser alcançada
através do Seu povo do NT. A igreja existe agora como Seu corpo para servir como
Israel foi escolhida e redimida para servir.
A teologia do Gênesis está envolta nos propósitos do Reino
de Deus que, a despeito dos fracassos humanos, não pode ser impedido no Seu
objetivo último de demonstrar Sua glória através de Sua criação e domínio.
ÊXODO - UMA VISÃO GERAL
Êxodo quer dizer “saída,
caminho de saída, escape”. Moisés
foi testemunha ocular de quase tudo o que está registrado neste livro, exceção
às primeiras informações, que recebeu da mesma forma que as registradas no
Gênesis. Foi composto como sendo um diário, tendo sido registrado à medida em
que os vários episódios se desenrolaram ao longo do tempo.
É muito difícil decidir-se sobre um tema único que unifique
todo o material variado deste livro.
Segue-se disto que várias abordagens ao livro, seu conteúdo
e estrutura são possíveis. Umas são mais geográficas, outras mais históricas e
outras ainda, mais teológicas.
Uma primeira abordagem centra na parada no Sinai onde o povo
redimido encontra-se com Deus e concorda em associar-se a uma aliança com Ele
como centro teológico. A perseguição de Israel no Egito; o nascimento de
Moisés, seu exílio e retorno ao Egito como líder de Israel; as pragas e a
poderosa saída – o próprio êxodo – todos levam ao clímax do compromisso da
aliança. Da mesma forma, tudo o que vem após – o estabelecimento de métodos de
culto, sacerdócio e tabernáculo – fluem do concerto e permitem o mesmo ser
posto em prática.
Uma segunda abordagem olha a presença de Deus com Israel e
em meio a Israel como tema central. A presença salvadora de Deus com Israel
resulta na sua libertação da escravatura egípcia. A presença continuada de Deus
exige obediência ao compromisso da aliança e de culto.
Uma terceira abordagem focaliza o senhorio de Deus como tema
teológico central. No Êxodo Deus é revelado como sendo Senhor da
história(1.1-7.7), Senhor da natureza (7.8-18.27); Senhor do povo da aliança
(19.1-24.14), e Senhor do culto (25.1-40.38).
Uma abordagem, das mais interessantes, que focaliza um tema
teológico central, é a que divide o livro em duas partes, uma enfocando o nascimento físico (1.1-15.27) e outra o nascimento
espiritual (16.1-40.38) da nação de
Israel. Esta permite ver o paralelo com a grande verdade universal: o
nascimento da raça humana fisicamente e o “novo” nascimento espiritual, o que
também se aplica a cada ser humano individualmente.
Apesar de muitas vezes focalizar-se os 10 mandamentos como
sendo o foco central do Êxodo, esta abordagem leva a grandes falhas de
entendimento teológico da ação de Deus. Uma percepção teológica importante que
se ganha no re-conhecimento de que os caps. 20-23 são um concerto na sua
natureza e não apenas uma lei, não dependendo de comparações com outras leis
antigas da época. O livro do Êxodo não é um tratado legal abstrato e frio. É
muito mais; é lei nascida de uma situação concreta do compromisso com a
aliança de Jeová com a nação de Israel, que Ele mesmo libertou da
escravatura egípcia.
Assim, este livro é a história de dois parceiros de um
tratado – Deus e Israel. O Êxodo relata a narrativa de como Israel se tornou o
povo de Deus e esclarece os termos do concerto pelos quais a nação deveria
viver como povo de Deus.
O Êxodo revela o caráter do Deus santo, fiel, poderoso e
salvador que estabelece uma aliança com Israel. O caráter de Deus é demonstrado
tanto pelo nome de Deus quanto pelos atos de Deus. Deus se designa
primeiramente como o “Eu sou”, que está presente para o Seu povo e atua em seu
favor. Outro aspecto do nome de Deus é a designação de “Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó”, que ilustra Deus como Aquele
que é fiel às Suas promessas aos patriarcas.
Este livro também revela o caráter de Deus através de Seus
atos, preservando a Israel da fome pelo envio de José ao Egito. Os faraós
vinham e iam, mas Deus continuava o mesmo preservando o Seu povo através da
opressão. Deus então resgata e salva, guia e provê, disciplina e perdoa. Uma
grande revelação do caráter amoroso e imutável de Deus.
O êxodo também demonstra o caráter fraco do povo, ao tempo
em que demonstra o plano de Deus olhando para o passado e apontando para um
futuro de promessas cumpridas.
Um ponto alto teológico se encontra no cap. 19.4-6, que
delineia a verdadeira natureza de Israel e seu papel no plano universal de
Deus:
“Vós tendes visto o que fiz aos egípcios, como vos levei
sobre asas de águias, e vos trouxe a mim; agora, pois, se diligentemente
ouvirdes a minha voz e guardardes o meu concerto, então sereis a minha
propriedade peculiar dentre todos os povos, porque toda a terra é minha. E vós
me sereis um reino sacerdotal e um povo santo. Estas são as palavras que
falarás aos filhos de Israel.”
Em resposta o
povo aceitou os termos da aliança com a expressão de 19.8:
“Então todo o povo respondeu a uma voz, e disseram: Tudo
o que o Senhor tem falado, faremos. E relatou Moisés ao Senhor as palavras
do povo.”
Para
que o povo de Israel fosse um reino sacerdotal teria que funcionar como
mediadores e intercessores, pois isto é o coração da função sacerdotal. O que o
concerto do Sinai fez, não foi estabelecer um relacionamento e função, pois
estes há muito já haviam sido definidos. O que a aliança do Sinai realizou foi
definir a tarefa do povo de Deus.
O
povo de Deus foi formado para ser uma nação, levada a uma posição histórica e
teológica onde poderiam aceitar voluntariamente (ou rejeitar) a
responsabilidade de se tornarem instrumento de Deus para bênção de todas as
nações (vide Sl 114.1-2).
Em conclusão, a teologia de Êxodo está enraizada na
servitude. Está centralizada na verdade de que o povo escolhido, libertado da
prisão de um povo hostil pelo poder de Jeová, foi trazido a um ponto de
decisão. O que fariam com a oferta de Deus de torná-los um povo servo há muito
prometido a Abraão? A sua aceitação voluntária a esta oferta generosa os
obrigaria às condições, condições estas declaradas no Livro do Concerto (Ex
20.1-23.33) e no remanescente do mesmo.
LEVÍTICOS - HOLOCAUSTOS, OFERTAS E
SACRIFÍCIOS
O livro de Levítico é o livro da instituição sacerdotal e
litúrgica. Apesar de ser chamado de Levítico – apontando para os levitas (tribo
sacerdotal) não são eles a figura central do livro mas sim o povo de Israel e
Deus. O nome do livro indica apenas que é um manual para o ofício de levita.
O último versículo do livro situa o livro no seu contexto
escriturístico (Lv 27.34): “Estes são os mandamentos (obrigações da aliança) que o Senhor (o Deus da Aliança) ordenou a Moisés (o mediador da aliança), para os filhos de Israel (o povo da aliança), no monte Sinai (o lugar da aliança).”
O tema geral do livro de Levítico é o de comunicar a
tremenda santidade do Deus de Israel e delinear os meios pelos quais o povo
poderia Ter acesso a Ele. Mostra que o abismo que separa o povo de seu Deus só
poderia ser cruzado pela confissão de sua indignidade e de sua sincera adesão
aos ritos e cerimoniais prescritos por Deus como pré-condição do relacionamento
pessoal.
O valor intrínseco do livro de Levítico consiste em 4
realidades:
a)
Levítico é uma revelação do caráter
divino a nós hoje tanto como naquele tempo.
b)
É uma exposição simbólica dos
princípios básicos que são base para o relacionamento entre Deus e os homens,
tão verdadeiro no passado como hoje.
c)
Levítico fornece um corpo de uma Lei
Cível para a teocracia; apesar de alguns detalhes estarem ociosos nos dias
atuais, os seus princípios permanecem válidos e deveriam nortear as legislações
de hoje.
d)
O livro é um tesouro de ensinos
tipificados e simbólicos. As maiores verdades espirituais estão entesouradas
aqui como símbolos vívidos. É uma pré-revelação da pessoa e obra de Jesus
Cristo.
Com estes fatos em mente vamos ao nosso primeiro estudo de
uma série de 3 sobre o Levítico. Estudaremos aqui a parte referente aos
holocaustos, ofertas e sacrifícios (caps. 1 a 7), que se estudados com detalhes oferecem
uma fascinação irresistível, e uma seção sobre o sacerdócio (caps. 8 a 10) que é de interesse
insuperável.
As Ofertas – detalhadas nos caps. 1 a 5 e as leis que as regulamentam nos caps. 6
e 7. Havia 5 tipos de ofertas, divididas em 2 grupos: as 3 primeiras eram
ofertas de “cheiro suave” (oferta queimada ou de holocausto; oferta de
manjares e oferta de paz ou sacrifício pacífico) eram voluntárias, e as 2 seguintes que eram “compulsórias”
(oferta de expiação pelo pecado e oferta de expiação de culpas - transgressões)
. Estas ofertas são riquíssimas em significado espiritual, apontando para o
sacrifício supremo e multifocal do sacrifício de Cristo no Calvário. As ofertas
de cheiro suave tipificam Cristo nas Suas próprias perfeições meritosas.
As ofertas compulsórias (de cheiro não suave) tipificam Cristo
suportando os deméritos do pecador. As ofertas de cheiro suave falam daquilo
que a oferta de Cristo significa para Deus; enquanto que as ofertas
compulsórias falam do que o sacrifício de Cristo significa para nós – e é em
conexão com estas que encontramos nove ocorrências da expressão “e lhes será perdoado”.
Vejamos alguns aspectos distintivos destas ofertas:
Oferta de holocausto ou queimada: tipifica Cristo “oferecendo-se a Si mesmo sem mácula a
Deus”. É um prenúncio de Cristo na Cruz do Calvário, não tanto no sentido de
carregar nossos pecados, mas no sentido de cumprir
a vontade de Deus (conforme Sua oração no Getsêmane).
Oferta de manjares:
tipifica a perfeita humanidade de Cristo. A ênfase está na vida que estava
sendo oferecida – estabelece a perfeição de caráter que outorga a esta oferta o
seu valor inexprimível.
Oferta de paz (sacrifício pacífico): fala da comunhão
restaurada resultando da perfeita satisfação alcançada em Cristo. Deus é
propiciado e o homem é reconciliado – há paz!
Oferta de expiação pelo pecado: tipifica Cristo como aquele que carregou nossos pecados –
“feito pecado por nós” (2 Cor 5.21).
Oferta de expiação de culpas ou transgressões: note-se culpas no plural! Tipifica Cristo como Expiador,
fazendo restituição (expiação) pelas ofensas causadas pelos nossos atos
errados.
Observemos a ordem destas ofertas. No estudo sobre o Tabernáculo (Êxodo)
verifica-se que os móveis estão na ordem inversa da aproximação humana. Deus
começa com a Arca do Santo dos Santos, movendo para fora, de Sí para o homem. A
mesma seqüência é seguida nestas ofertas levíticas. Deus começa pela oferta de
holocausto e termina com a oferta de expiação de culpas. Ele termina onde nós
começamos. Se considerarmos estas ofertas na sua ordem inversa verificamos que
elas correspondem exatamente à ordem de nossa apreensão espiritual de Cristo –
a primeira coisa que vemos na cruz de Cristo ao despertarmos como crentes
salvos é o perdão de nossas transgressões; e assim por diante!
Na segunda parte, a que se refere aos Sacerdotes
(caps. 8 a
10), A idéia é que se o relacionamento entre os redimidos (nós) e seu santo
Deus é para ser mantida, então tem que haver não apenas um sacrifício (caps. 1-7), mas também um sacerdote (. 8-10); ao lado da absolvição da culpa tem que haver a mediação! Isto também aponta para Cristo
como sendo o nosso Sumo Sacerdote (Heb 10.19-21) – que fala do caminho VIVO por
causa da ressurreição.
Aqui temos no Cap.8 a CONSAGRAÇÃO dos sacerdotes – são separados
para Deus; no cap.9 temos a MINISTRAÇÃO quando os sacerdotes iniciam seus
ofícios de servir; e no cap.10 a VIOLAÇÃO desta consagração, quando
Nadabe e Abiú oferecem “fogo estranho”.
Belíssima ilustração da consagração temos no cap.8 onde
vemos a ordem da consagração (vs 1
a 13) seguidas da BASE da consagração – o sangue
(vs 14-36).
Notemos que Aarão foi ungido antes da morte do sacrifício e seus filhos após a morte do sacrifício. Sem o derramamento do sangue Aarão e
seus filhos não podiam estar juntos na unção – apontando para Cristo estando só
no Calvário. Após o derramamento do sangue, Moisés unge Aarão e seus filhos com ele. Isto tipifica Cristo e Sua casa
sacerdotal – unidos em ministério sacerdotal; assim estamos todos diante de
Deus pela virtude de um só e mesmo sacrifício.
Isto deveria acender em nós a consciência de que os
mediadores ordenados por Deus (santos sacerdotes) estão imbuídos da
continuidade do ministério da intercessão, modelado por Moisés, aperfeiçoado em
Cristo, e continuado por nós.
Leis,
Proibições e Sacerdócio
No estudo anterior focalizamos os Sacrifícios e o
Sacerdócio. Neste segundo estudo sobre Levítico, nos caps. 11 a 17, focalizamos a parte
que cabe ao POVO e o lugar do ALTAR.
As leis e proibições constantes nos caps. 11 a 16, referem-se à questão
da pureza – pureza do Povo!
Esta pureza tinha que ser interna e externa – pois o Deus com quem se
relacionariam era um Deus santo e puro! Neste caso pureza e limpeza são
sinônimos perfeitos e aqui no Levítico são considerados assim.
O propósito desta parte é “fazer a diferença entre pureza e
impureza” (11.47) e de “separar os filhos de Israel de sua impureza” (15.31).
Nisto reside o imperativo categórico relativo ao serviço sacerdotal – o de
purificar (16.30).
Os assuntos tratados são:
-
alimento puro (11) – questões de dietas;
-
corpo puro (12-13.46) – nascimento de filhos, doenças (lepra), asseio;
-
roupa pura (13.47-59) – tratamentos dos trajes;
-
casa pura (14.33-57) – higiene habitacional;
-
contatos puros (15) – higiene e preservação sexual;
-
nação pura (16) – purificação nacional pelo sacrifício expiatório.
O primeiro – Alimento Puro – se referia à vida animal, pois
nem todos os animais eram apropriados para consumo. Apesar de que princípios de
higiene estavam envolvidos indiretamente, a lição maior a ser aprendida era
porque Deus é santo Seu povo também tem que ser santo (puro) – 11:44,47. A
santidade (ou separação) do povo era para ser ilustrada pelos seus hábitos
alimentares distintos.
O segundo – Corpo Puro – era um exemplo da diferença entre
pureza ritualística e impureza visto na impureza associada com o nascimento de
crianças. Comparação com a legislação do cap.15 esclarece que a impureza é
originária das liberações do corpo associadas com o nascimento e não o
ato do nascimento em si mesmo. Por que estas liberações corpóreas são
consideradas impuras não é perfeitamente claro. Mas sugere-se que a perda de
fluidos corpóreos, em especial sangue, poderia significar o início de morte,
estado de impureza última (máxima). Ainda neste tópico, considera-se as diversas
manifestações de doenças infecciosas da pele (corpo) como sinal de impureza. De
todas as doenças na bíblia nenhuma é mais séria do que aquelas muitas vezes
(embora sem precisão) chamadas de lepra. Pela lista variada de prescrições de
cura entende-se que apontam para uma variedade de diferentes afecções. Mas a
questão da purificação é primordial.
O terceiro ponto – Roupa Pura – é uma conseqüência imediata
do ponto anterior em função da possibilidade do perigo de contágio. Daí o
tratamento adequado do vestuário do doente e por extensão de sua casa.
O quarto ponto – Casa Pura – é o seguimento natural do ponto
anterior (roupa pura), em que as partes afetadas da casa deveriam ser
imediatamente reparadas, ou até mesmo a destruição (derrubamento) da casa toda
em casos extremos.
O quinto ponto – Contatos Puros – tem a ver especificamente
com as emissões de fluídos do órgão sexual masculino por razões de doenças,
fluxo menstrual e outros tipos de emissão de fluídos femininos (incluindo
sangue). Não que estes fluídos fossem necessariamente inerentemente impuros, ma
simbolizam impureza e por isto tem que ser purificados por um ritual apropriado
e sacrifício afim de que a santidade do povo de Deus possa ser assegurada e
mantida.
Finalmente (cap.16) a questão da Nação Pura – a necessidade
do Dia da Expiação – o maior ato de purificação, pois envolvia toda a nação!
Este era o único dia no qual o sumo sacerdote entrava no Santo dos Santos da
tenda. Neste dia o sumo sacerdote oferecia sacrifício por si mesmo, para depois
oferecer sacrifício pelo povo, e expulsava então um bode (daí “bode
expiatório”) do acampamento como símbolo da remoção do pecado da comunidade.
Seguindo-se a uma oferta de queima (holocausto) o acampamento era purificado de
todo sangue e restos animais através de cerimoniais da banhos e queimas do lado
de fora do acampamento. O escritor de Hebreus utiliza o quadro dos animais
queimados fora do arraial como uma ilustração de Cristo sofrendo fora das
muralhas de Jerusalém (Hb 13:11-12).
Aprendemos, através de regulamentos extremamente práticos do
dia-a-dia do povo de Israel, que havia uma intrínseca necessidade de separação
entre o puro e o impuro. Deus havia chamado Israel para ser um povo separado
para serviço sacerdotal (Ex 19.5-6). Entretanto, Israel era constantemente
tentado a se conformar aos padrões dos povos vizinhos do Egito e de Canaã (Lv
18.3). As leis do puro e impuro testemunham da ”separação” de Israel do mundo e
lembrar este povo de Deus de que Não pode haver comprometimento dos padrões
divinos. O Senhor havia responsabilizado diretamente a Aarão a fazer distinção
entre o santo e o profano (10.10). Os caps. 11 a 15 fornecem os exemplos
disto.
Alguma coisa era pura ou impura apenas na medida em que o
Deus soberano a declarava assim, isto em linha com Seu próprio critério
inescrutável e santidade inerente. Temos que entender que a partir da santidade
perfeita e absoluta de Deus partem estes critérios cujo critério último é para
nós inescrutável, pois somos limitados, imperfeitos e impuros! Apesar de nos
parecerem muitas vezes arbitrários, estes valores e categorias deixam claro que
a santidade é essencialmente um assunto da discreção divina. O Deus soberano
criou estes critérios com finalidade educacional para nós.
Israel fora convocada para ser santa nação (santo
significando separado), por isto era tanto mais necessário que os sacerdotes
fossem santos e puros, que em um certo sentido seriam os mediadores dos
mediadores. Isto se aplica a nós se considerarmos que somos um sacerdócio santo
em Cristo, que é nosso Sumo Sacerdote.
O Altar –
(cap.17) – Não podemos fugir de notar que nesse capítulo apenas, de forma muito
enfática, temos 5 vezes indicação do lugar estipulado para sacrifício – o
Tabernáculo / altar. O significado é muito simples: há só UM lugar e apenas um,
que Deus, na Sua soberana graça, elegeu para se encontrar com pecadores
penitentes – a Cruz, da qual o altar à porta do tabernáculo era um tipo! Nenhum
outro sacrifício! Nenhum outro sacerdote! Nenhum outro altar! Isto aponta
diretamente para Atos 4.12!
Costumes,
Penas e Festas
O assunto do livro de Levítico – Comunhão através da santificação – permite olharmos o livro em duas
grandes partes: a primeira centrada nas Bases
da Comunhão – Sacrifício, que estudamos nas duas lições anteriores. A
Segunda grande parte: O Andar na
Comunhão – Separação, enfocaremos agora (caps.18-27).
Esta parte de Levítico pode ser subdividida em 4 seções:
1.
Regulamentos referentes ao Povo
· Proibições sexuais
· Admoestações gerais
· Sanções penais
2.
Regulamentos referentes aos Sacerdotes
· Práticas proibidas
· Pessoas proibidas
· Ofertas proibidas
3.
Regulamentos referentes às Festas
· O conjunto de estações anuais
· O óleo e o pão
· A penalidade da blasfêmia
4.
Regulamentos referentes á Terra (Canaã)
· O ano sabático e do jubileu
· Alternativas da aliança
· Consagrações e dízimos
Observamos que nesta parte do livro, que trata da vida de
comunhão com Deus, a Expressão “Eu sou Jeová” aparece quase 50 vezes!
Isto em si mesmo expressa a razão básica da insistência por parte de Deus, na
santidade de Seu povo.
A primeira seção, referente à conduta do povo (18-20), consiste de regulamentos
morais para o povo como nação. Inicia-se esta parte por uma introdução formal e
um encerramento formal. As proibições não se constituem em um código de conduta
sexual exaustivo, mas é direcionado contra as violações mais grosseiras da
castidade, que eram chocantemente prevalecentes entre as nações vizinhas.
Demonstra que, tanto naqueles dias quanto hoje em dia, nada é mais vital do que
proteção adequada das relações matrimoniais e familiares. Os elos matrimoniais
e as relações familiares são santas para Deus e os cristãos deveriam se
levantar em sua defesa! Nenhuma flexibilidade ou relaxamento que ponha em risco
a proteção moral de toda a comunidade pode ser permitida. Isto também é válido
nos dias atuais.
Na segunda parte (21-22) a questão da conduta dos sacerdotes é tratada. Se o povo deveria
ser santificado para o Senhor, quanto mais os sacerdotes! Tal como o
Tabernáculo era organizado em uma estrutura tripla – o átrio exterior, o lugar
santo, e o Santo dos Santos – assim a nação também foi estruturada de maneira a
lhe corresponder – a congregação, os sacerdotes, e o sumo sacerdote. À medida
em que cada parte do Tabernáculo se tornava sucessivamente mais santa, assim
também deveria acontecer com a nação – a santificação de Israel era para
alcançar o sua expressão culminante na pessoa do sumo sacerdote, que por esta
razão usava uma coroa com a inscrição “Santo
ao Senhor”. Da mesma maneira em
que Deus conferia ao sacerdote determinados privilégios
exclusivos e especiais, a partir de sua escolha, família, tribo, os sacerdotes
deveria por isto serem marcado por uma extrema santidade; e para assegurar isto
, mais regulamentos de conduta foram dados. Resumem-se estes regulamentos em práticas, pessoas e sacrifícios proibidos.
O sacerdote deveria ser separado de tudo o que é profano afim de não dessecrar
o lugar santo e a santidade divina. Esta secção do livro de Levítico fala de
maneira muito enfática ao povo de Deus hoje. Há muita necessidade de uma
santidade mais verdadeira e autêntica entre nós, nós os que fomos constituídos
um sacerdócio santo em Cristo!
A terceira parte trata das Festas (23). Aqui temos as 5 festas sazonais do ano hebreu. A Festa
da Páscoa (também chamada de festa dos pães ázimos), a Festa do Pentecostes
(chamada também de festa das semanas ou dos primeiros frutos), a Festa das
Trombetas, o Dia da Expiação, e a Festa dos Tabernáculos (chamada também festa
do ajuntamento).
Todas estas cindo festas, ou estações determinadas, tinham
em comum o fato de que eram ocasiões de sábados especiais, todas eram momentos
de santa convocação, congregavam-se
para culto e gratidão.
N realidade estas 5 festas são sete ao todo: as duas outras
– a do Ano Sabático e a do Ano Sabático do Jubileu, são encontradas no cap.25.
Assim vemos um sistema fantástico de ciclo de sete: o sétimo dia, o sétimo mês,
o sétimo ano e 7 vezes 7 anos. Assim Deus forneceu um perfeito sistema de
relembrar a santidade divina, através dos 10 sabáticos:
1.
O Sábado semanal
2.
O primeiro dia dos pães ázimos
3.
O sétimo dia dos pães ázimos
4.
O pentecostes
5.
O primeiro dia do sétimo mês
(trombetas)
6.
O dia da expiação (10º dia do sétimo
mês)
7.
O 1º dia da Festa dos tabernáculos
8.
O 8º dia da festa dos tabernáculos
9.
O
ano sabático (7º ano)
10.
O sabático de jubileu.
O propósito destas “estações determinadas“ e observâncias
mensais era a de reconhecer que toda colheita e outras bênçãos são provenientes
de Deus; que todo novo ano e todo novo mês deveriam ser dedicados ao Senhor da
ceara; que a terra pertencia a Deus e que era ocupada apenas por causa de Sua
bondade.
Todas as festas tem um significado simbólico espiritual para
o novo testamento e exemplificamos apenas 2: a Páscoa, que era a celebração do
livramento da escravidão, fala da salvação!
Pentecostes (pente = 50; 50 dias após a Páscoa), que era a festa do
encerramento da colheita – justamente no dia do início da igreja do Senhor;
justamente 50 dias após a ressurreição de Cristo! Assim todas as festas tem seu
significado Neotestamentário.
Por último a Terra (25-27) -
Nada menos do que 30 vezes nestes 3 capítulos há referência a Terra
demonstrando que Deus quer que Seu povo entenda bem e se preocupe com aquilo
que é dado graciosamente por Deus para nossa vida! Deveríamos levar mais a
sério nossas possessões como sendo de fato uma dádiva divina como privilégio
estendido a nós!
Nenhuma motivação maior para integridade pessoal e de
comunhão pode ser encontrada do que a de Levítico 11:45.
“Eu sou o Senhor, que vos fiz subir da terra do
Egito, para ser o vosso Deus, sereis pois santos, porque eu sou santo”.
NUMEROS - ESTATÍSTICA, DISCIPLINA E OFERTAS
O
estudo do livro de Números pode se tornar extremamente interessante, a despeito
das muitas contagens, se tivermos em mente a estrutura histórica e geográfica
do livro relativo ao desempenho espiritual do povo. É impressionante notarmos
como a história acontece em função da obediência e fé, ou desobediência e falta
de fé do povo. Consequentemente o livro ensina as gerações posteriores que a
conformidade com a aliança traz bênçãos, mas a rejeição da aliança traz
tragédia e lamento.
O
livro de Números também documenta a organização efetiva das tribos em uma
estrutura comunitária religiosa e política discernível, em preparação para a
conquista e ocupação de Canaã.
Para
melhor percebermos esta fantástica montagem histórica e geográfica de cunho
espiritual, vejamos como o relato é estruturado:
A
primeira parte – caps 1 a
14 – diz respeito à geração antiga (a que morreu, saiu do Egito e não entrou em
Canaã) e transcorre no trajeto entre o Sinai e Cades, havendo aqui uma primeira
contagem, uma instrução e uma peregrinação;
Na
segunda parte – caps 15 a
20 – temos o período de Transição, a peregrinação no deserto;
Na
terceira parte – caps 16 a
36 – vemos a nova geração (a que nasceu no deserto e entrou em Canaã sem
conhecer o Egito) transcorrendo no trajeto entre Cades e a planície de Moabe,
há aqui uma nova contagem, uma nova instrução e uma nova peregrinação.
Chama
a atenção que há duas gerações (a que saiu do Egito e não entra em Canaã, e a
que nasce no deserto e entra em Canaã sem conhecer o Egito) o que leva a duas
contagens (censos) a duas jornadas e a duas instruções! Mais impressionante
ainda é que a quantidade de pessoas que saíram (603.550) do Egito é praticamente a mesma que a
quantidade de pessoas que entra (601.730) em Canaã – demonstrando que Deus
realmente substituiu uma geração por outra quantitativamente e
qualitativamente! Lembramos que foi a primeira geração que falhou na entrada em
Canaã (no 2º ano após o Êxodo) resultando na peregrinação no deserto que tinha
a finalidade de substituir a geração infiel e de pouca fé.
Há
um profundo valor teológico nesta história e relatos de Israel, e isto
corroborado em diversas passagens no NT, chamando a nossa atenção para o fato
de que isto é para nós uma lição (veja I Coríntios 10:1-12) onde destacamos o
v.11 – “Ora, tudo isto lhes acontecia
como exemplo, e foi escrito para aviso nosso, para quem já são chegados os fins
dos séculos”.
Os
primeiros 4 capítulos estão em 2 pares: o primeiro conjunto assim -
1 -
contagem dos adultos masculinos;
2 -
distribuição das tribos;
Demonstrando
uma organização que tinha finalidade militar pois revela o potencial da força
combatente do povo.
O segundo conjunto desta maneira :
3 -
contagem dos levitas masculinos;
4 -
distribuição das tarefas levíticas;
este
segundo grupo tinha a função especial de administração do serviço especial de
culto a Deus.
Assim temos a organização, a partir do centro
do acampamento, do Tabernáculo (peça central), os mais próximos eram os levitas
guardando a entrada do Tabernáculo, e as tribos “leigas” mais distantes com
finalidade de proteção geral, tendo a tribo de Judá na posição de liderança de
todo o contingente. Esta organização reforça a preservação da pureza do
Tabernáculo! Do mesmo modo deve ser preservada a pureza do Templo que não é
feito por mãos humanas - o nosso corpo!
Os
demais capítulos até o cap.10 dizem respeito a preservação da santidade do lugar
do Tabernáculo e da pureza do povo de Deus o que pode ser visto na bênção
Aarônica (6:24-27. Temos também as provisões para a manutenção de toda a
estrutura orientada por Deus, culminando nas instruções de celebração da Páscoa
e do levantar acampamento para marcha.
As seguir, nos caps 10 a 14 temos o relato de que,
quase 2 anos após a saída do Egito, o povo estava com saudades do Egito e da
comida deliciosa de lá. Moisés, abatido com a carga da liderança solitária,
conversa com Deus e o Senhor lhe provê com 70 líderes cheios do Espírito para
assistí-lo na função de anciãos. Este fato enfurece a irmã de Moisés (Míriam) e
o seu irmão Aarão. Ambos expressam suas desaprovações, considerando que os seus
prestígios haviam sido diminuídos, e assim desafiam a verdadeira capacidade
profética de Moisés. O resultado foi um castigo severo sobre os dois, uma vez
que Deus falava pessoalmente com Moisés, abertamente e não através de visões e
sonhos (12:5,8). O sinal disto foi demonstrado quando Moisés restaura sua irmã à
pureza litúrgica e ritual.
Não sendo suficiente estes incidentes,
acontece outro! Na proximidade da terra de Canaã, Deus manda que Moisés envie
12 espias (entre eles Josué e Calebe) para avaliarem a terra e trazerem
relatórios. A terra era rica e fértil mas a maioria (dez deles) argumentava que
não podia ser conquistada – rejeitaram a dádiva de Deus! Mais uma vez a
liderança de Moisés estava em questão, chegando o povo ao ponto de exigir sua
renúncia em favor de alguém que os levasse de volta ao Egito (14:4-10). Como se
não bastasse Deus também estava testando Moisés ameaçando destruir o povo.
A
resposta de Moisés é algo de extraordinário e ecoa até hoje como uma das
maiores provas de fé e confiança e conhecimento de Deus. O argumento de Moisés
foi o de que se Israel falhasse na entrada em Canaã – a Terra Prometida – o
mundo inteiro veria Jeová como sendo um Deus não confiável. Deus haveria de
perdoar o povo por causa de Seu próprio Nome que estava em jogo. É neste ponto
que temos um dos relatos mais rígidos e ao mesmo tenros que há na Bíblia – Deus
se move ao ouvir Moisés e seu argumento, mas a justiça não podia ser abolida. É
aqui então que Deus anuncia a Moisés que esta geração não viveria para ver
Canaã. Apenas Josué e Calebe, que confiaram na promessa e no poder de Deus
foram os que pessoalmente colocaram os pés na terra que manava leite e mel
(14:36-38).
Após
isto o povo foi levado ao norte apenas para ser confrontado com os Amalequitas
e Canaanitas para serem derrotados, começando assim a sua peregrinação errante
pelo deserto do Sinai e Negev.
Aprendemos
que é primordial o guardar da pureza pessoal e comunitária – moral e física –
do povo que se chama pelo nome de Deus mantendo-se separado daquilo que é do
mundo (representado pelo Egito) e é fundamental que guardemos a fidelidade à
aliança que Deus selo com seu povo – no nosso caso em Jesus Cristo ,
expresso pelos princípios que governam o Reino de Deus declarados no Sermão da
Montanha que se encontra em Mateus capítulos 5 a 7.
Amigo
leitor, diante deste quadro, qual é a tua opção de vida? Qual é o caminho que
você está trilhando? Você está olhando para as coisas deste mundo ou está com
os olhos fixos em Jesus
Cristo , autor e consumador da fé salvadora?
Que
Deus o ilumine e abençoe na meditação para responder a estas perguntas
Designação e Leis
Estamos
no meio do livro de Números. Em apenas 6 capítulos o livro cobre 38 anos de
história, comparados com os 14 capítulos anteriores referentes a menos de 2
anos de história do povo! Este período pode ser considerado como uma suspensão
no desenvolvimento da história de Israel. É um período de castigo em que Deus irá eliminar
toda uma geração inteira por causa da desobediência e falta de fé dos 10
emissários e do povo.
Este
período se inicia após o incidente de Cades onde se dá a expressão da falta de
fé em Deus, e termina no ano da morte de Aarão (cap. 20). Sabemos que apenas
dois personagens entrara na terra prometida, Calebe e Josué, que assume a
liderança em lugar de Moisés, dá continuidade à obra de levar o povo e lidera a
entrada através do Jordão na altura de Jericó.
Deste
modo o livro de Números se torna o livro do progresso suspenso. Isto nos faz
pensar nas diversas igrejas e crentes individuais que andam pela vida como se
tivessem sua história suspensa. Não crescem, não apresentam frutos e não há
desenvolvimento espiritual. Na realidade, como no caso de Israel, este período
é marcado por um constante fracasso na confiança em Deus e um retorno parcial –
é literalmente o que se poderia chamar de “sobrevivendo,
dadas as circunstâncias”.
Nesta
seção do livro são dados mais alguns regulamentos ao povo; muitos líderes se
rebelam contra Moisés; são formalizadas as responsabilidades dos sacerdotes e
levitas e finalmente surge a nova geração que então é recenseada.
Aprendemos
algumas verdades fundamentais: quando o povo reclama contra Deus e critica Moisés, eles são severamente punidos: mais de
14000 pessoas morrem como resultado desta rebelião. Como resultado da rebelião
do Corá, o próprio Corá, Datan e Abiram, juntamente com suas famílias morreram,
juntamente com 250 falsos sacerdotes. O princípio teológico do Reino de Deus se
faz sentir: se permitimos dissatisfação e descontentamento a permanecer em
nossas vidas, isto poderá facilmente levar a um desastre espiritual e social.
Deveríamos nos conter de criticar líderes e reclamarmos dos mesmos.
Talvez
o incidente de maior impacto em termos de relacionamento pessoal com Deus seja
o incidente que ocorreu com Moisés. Moisés diante do povo rebelde por causa da
falta de água, queimando de ira, fere a rocha ao invés de falara a ela conforme
a orientação de Deus. Este pecado de Moisés é descrito como uma falha em
respeitar a santidade de Deus (27:14). O ato intempestivo de Moisés resultou em
bênção para o povo – água abundante – mas uma maldição para Moisés: repreensão
e exclusão da Terra Prometida! De acordo com o Salmo 106:32, Moisés sofreu
pelos pecados do povo.
Podemos
derivar algumas conclusões teológicas dos eventos deste livro:
1.
A sabedoria e fidelidade de Deus
fornecem razão para esperança nas situações mais tenebrosas da vida.
2.
A história depende da liderança de Deus
e da obediência humana, não de estatísticas militares ou expectativas humanas.
3.
A teimosia humana em rebelar-se tem que
encarar punição.
4.
Até mesmo líderes fiéis tem que estar
na expectativa de punição pela desobediência.
5.
O povo de Deus precisa de uma
organização adequada e liderança para poder realizar a missão dada por Deus.
6.
Culto adequado é uma marca de
identidade do povo de Deus.
7.
Deus sempre tem um futuro para Seu povo
que a sua rebelião não pode destruir.
Para
os que estão em posição de liderança existe aqui uma lição preciosa: nenhum
líder é indispensável para Deus. No entanto, tal como Moisés e Aarão perderam a
participação no momento da vitória porque, num momento de ira e raiva,
desobedeceram a detalhes da instrução de Deus., também os líderes de hoje devem
aprender a lição do autocontrole e contenção emocional. Nenhum líder cresce ao
ponto de estar acima e além da necessidade de confiar e obedecer a Deus. Deus
prepara novos líderes para substituir os desobedientes e descontrolados. Nisto
aprendemos também que Deus recompensa os líderes fiéis e obedientes.
O
livro de Números conclama os líderes do povo de Deus de hoje a atitudes e posturas
de fidelidade a Deus, mesmo se tiverem que conduzir um povo ou rebanho rebelde
e mesmo quando as suas decisões vão contra o ponto de vista da maioria!
Lembremos que Deus não é democrata e espera que os Seus líderes confiem e
obedeçam.
Aprendemos
que o livro de Números é um livro de esperança para um povo com uma história de rebelião.
A
história de Deus é uma história de esperança para o futuro, uma chamada para a
última vitória frente a derrota.
Amado
aluno, você também é convocado a uma vida de revisão, obediência e fidelidade
como princípios de compromisso de vida com Deus a despeito do que possa
acontecer por causa deste seu compromisso.
Que
Deus o abençoe e ilumine afim de que você possa crescer e brilhar neste mundo
em trevas.
Os Fatos Ocorridos
Que
o senhor, Deus dos espíritos de toda a carne, ponha um homem sobre a
congregação, o qual saia diante deles e entre diante deles, e os faça sair e os
faça entrar; para que a congregação do Senhor não seja como ovelhas que não têm
pastor. (Nm 27.16-17)
Na
realidade poderíamos chamar esta parte do livro de Números de “A Nova Geração”
– trajeto de Cades até as planícies de Moabe. Toda uma nova movimentação se
inicia; novas expectativas e novos desafios e uma nova esperança.
Esta
parte pode ser dividida em três divisões:
a. A nova jornada (21
a 25),
b. A nova contagem (26 a 27), e
c.
A nova instrução (28 a 36).
Esta
segunda jornada toma apenas o tempo de 5 (cinco) meses, pois o povo deixa o
monte de Or cerca de um mês após a morte
de Aarão (que aconteceu no 5º mês do 40º ano) e chegaram nas planícies de Moabe
no 11º mês do mesmo ano, momento em que Moisés inicia seu grande desafio a Israel, e
que constitui o livro de Deuteronômio.
Nesta
Segunda jornada vemos que o povo continua a enfrentar desafios à fé: primeiro
Moisés buscou permissão do rei de Edom para passar pela estrada do rei, petição
esta que lhe foi negada. Como resultado Moisés enfrentou os canaaneus de Arad,
o que resultou em uma sólida vitória dos israelitas. Encorajados assim,
aceleraram o passo para a Terra Prometida. Ainda assim persistiam em rebeliões
de tempos em tempos, e finalmente alcançam Moabe. A sua chegada causou grande
preocupação aos inimigos de Israel. O rei dos Amorreus tentou sustar o avanço
do povo de Deus mas sem sucesso. O rei Og, de Basam, tentou o mesmo e
igualmente sofreu uma derrota. Deste modo finalmente Moisés e o povo se
encontram nas planícies de Moabe, imediatamente ao leste da Terra que Deus
prometera a Abraão que lhes daria.
Porém, antes de chegarem à Terra de Canaan,
teriam que enfrentar obstáculos que só poderiam superar mediante confiança e
fidelidade a Deus ao tempo em que
exerceriam a obediência ao mandado divino.
O
primeiro obstáculo era de natureza externa ao povo: a ameaça da maldição de
Balaão (22:2-24:25), maldições estas que foram transformadas, cada uma delas,
em grandes bênçãos por parte de Deus para o Seu povo. Assim o plano diabólico
de Balaque de amaldiçoar Israel resultou no oposto – uma magnífica demonstração
das bênçãos de Deus sobre o Seu povo e, através deles, sobre todo o mundo.
Aprendemos que se deixarmos as oposições e confrontos nas mãos de Deus Ele
mesmo as transformará em bênçãos para nós e nossos familiares e descendentes.
O
segundo obstáculo era de natureza interna do povo: a ameaça de se comprometerem com os padrões morais e
sexuais dos moabitas. A licenciosidade do culto a Baal logo os atraiu para as
suas armadilhas. Apenas o zelo de Finéias, filho do sumo sacerdote Eleazar,
preveniu a apostasia geral. Com sua espada matou os líderes desta rodada de
imoralidade, onde milhares de israelitas
pereceram em virtude da praga enviada por Deus. Isto nos mostra o quão rápido
nos desviamos para as coisas que o mundo oferece e nos esquecemos de Deus, isto
é apostasia. Foi exatamente isto – a apostasia - ou seja, o desvio dos padrões
de Deus para padrões mundanos – que a Bíblia fala que aconteceria nos últimos
tempos. Fiquemos alerta para esta tendência humana de flertar com as coisas que
Deus deplora.
O
que Números nos ensina para hoje? Os princípios do poder e graça divinos podem
vencer o fracasso da fé imperfeita, mas que esteja em desenvolvimento. Estes
ensinos são de máxima importância para todos que levam a sério a autoridade do
ensino do Espírito Santo.
Do
livro de Números podemos aprender que:
1.
a despeito de nossa rebelião, Deus irá
cumprir Seus propósitos e promessas;
2.
apesar de Deus permanecer fiel às Suas promessas, Ele punirá uma geração
infiel;
3.
a punição vinda de Deus pode nos
preparar para tarefas maiores;
4.
a presença fiel e sábia de Deus é o
centro de toda vida;
5.
fé em Deus resulta em necessidades
físicas;
6.
temos que respeitar líderes ordenados,
mas também saber que líderes infiéis também encaram os atos disciplinares de
Deus;
7.
culto é a atividade principal do povo
de Deus e deveria ser planejado e organizado adequadamente; e
8.
esperança é a palavra duradoura de
Deus, que motivará o Seu povo mesmo através dos períodos mais tenebrosos da
história.
A
vida na terra (prometida) é vida com Deus (35:34). O povo de Deus tem que saber
como responder a Deus com gratidão e cultos regulares. Líderes de culto têm que
ser escolhidos e preparados. Por causa da preparação no deserto, o sacerdócio
sobreviveu desastres nacionais, tais como o próprio exílio, e preparou uma
liderança para Israel, mesmo quando os líderes políticos não eram mais
disponíveis.
Assim
também nós hoje – as nossas igrejas, como pequenos povos de Deus – devemos
preparar líderes para o culto, líderes que possam nos dirigir mesmo quando toda
outra liderança não seja mais confiável.
Olhemos
pois para o autor e consumador da fé – Jesus Cristo – e nos esforçar para não
vacilarmos e comprometermos a santidade de Deus e com isto nosso testemunho.
DEUTERONÔMIO - OS ENSINOS
Consideramos
a primeira etapa de três divisões do livro de Deuteronômio, isto é, os
capítulos de 1 a
11.
O
nome Deuteronômio quer dizer “Segunda Lei” ou “Repetição da Lei”. Isto se fez
necessário porque a geração que recebera e ouvira a exposição da Lei Sinaítica
já não existia mais. Uma nova geração estava no amanhecer da entrada na Terra
Prometida. Deste modo esta nova geração tinha a necessidade de ouvir a
exposição renovada da Lei e ouvir o recontar da história do surgimento do povo
e da própria Lei. Paralelamente com esta renovada apresentação da história e
Lei de Deus, incluiu-se um desafio para decisão diante da obra de Deus (o que
será visto na terceira parte deste estudo).
É um
livro caracteristicamente de transição,
transição marcada por 4 tipo áreas distintas, e que são:
a.
uma transição para uma nova geração
(a velha, do Sinai já havia desaparecido),
b.
que irá ter uma nova possessão
(uma peregrinação sem terra para uma ocupação nacional de Canaã),
c.
caracterizado por uma nova
experiência (casas em vez de tendas, fixação em vez de peregrinação,
alimento variado em vez de dieta desértica), e, finalmente,
d.
uma nova revelação de Deus – Seu
amor (6.5), repetida mais 4 vezes e reafirmada por Jesus aos fariseus (Mat
22.37), que é a base do toda a Lei!
Este
amor vem de gerações anteriores, pois no cap 4.37 Deus diz: “E, porquanto amou a teus pais, não somente
escolheu a sua descendência depois deles, mas também te tirou do Egito” ,
princípio este que o povo de Israel infelizmente não entendeu e que, nós hoje,
também não compreendemos muito uma vez que não nos detemos em apropriarmo-nos
dos princípios de vida do Reino de Deus. Para a maioria é mais fácil viver de
acordo com leis e normas e não princípios, pois estes nos responsabilizam
diretamente pelo nosso andar.
Estes
primeiros 11 capítulos, que constituem a primeira parte deste livro, formam o
que se chama de seção de Retrospectiva,
os demais formam a parte Prospectiva
do livro. Esta primeira parte, a da Retrospectiva, permite ao povo da transição
olhar para trás e para frente, ponderando a ação de Deus sobre ambos. O povo
deveria lembrar, refletir e resolver; daí
nós temos retrospectiva e reflexão. Os capítulos 1 a 3 são uma “revisão do modo
de vida desde o Sinai” e os caps 4
a 11 são uma revisão da “Lei do Sinai”. Isto nos ensina
que também devemos olhar para trás, refletir, e depois, olhar para frente e
decidir, e assim poderemos sempre dar honra e glória a Deus pelo feito e
confiar em Deus pelo que está à frente. Por isto o salmista escreve (Sl 90.12)
“Ensina-nos a contar os nossos dias de
tal maneira que alcancemos corações sábios”. Percebemos que os princípios
de conduta e atitude no Reino de Deus estão firmados desde os primórdios da
história do povo de Deus.
A
Mensagem Central desta parte de Deuteronômio é a fidelidade divina. Isto é demonstrado na revisão da vida desde o
Sinai: Jeová tem sido (passado) e sempre será (futuro) fiel às Suas promessas, Seus propósitos e Seu povo! Isto se
constitui num fundamental princípio da nossa fé e confiança em Deus – Ele nunca
falha!
Temos
também nesta parte do livro um fato básico, que na realidade está por baixo de
tudo o mais, e com o qual vai o comando básico da Lei declarado no 6:4-6
“Ouve, ó Israel; o Senhor nosso Deus é
o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda
a tua alma e de todas as tuas forças. E estas palavras, que hoje te ordeno,
estarão no teu coração”
É importante notarmos que o próprio
Jesus Cristo nos afirma que este é o pronunciamento fundamental e o “primeiro
da Lei” (Mc 12.29-30). Notemos ainda que ele é Ordenado e deverá estar (permanecer) em nosso coração.
A
estrutura desta parte de Deuteronômio é a seguinte:
1.
1:1-5 = O
contexto da Aliança; leva a memória do povo a um tempo 38
anos antes – no Sinai.
2.
1:6-4:43 = O
1º sermão: Aprendendo da história do povo de Deus;
a.
1.6-3.29 = Falhas e
vitórias no caminho da Terra Prometida – importante revisão para reconhecimento
da ação de Deus na história.
b.
4.1-40 = Guardar os
mandamentos de Deus; evitar a idolatria; maravilhar diante dos atos salvíficos
de Deus.
c.
Estabelecendo as Cidades Refúgio –
fundamental instrumento de preservação do povo e demonstração da misericórdia
divina.
3.
4.44 – 6.25 =
Princípios Básicos da Aliança;
a.
4.44-49 = Introdução
que situa a Aliança no contexto entre o Êxodo do Egito e a conquista do
território além do Jordão.
b.
5.1-21 = O coração da
Aliança: os 10 mandamentos – nunca anulados no contexto bíblico.
c.
5.22-33 = O papel
desempenhado por Moisés como Mediador da Aliança – exemplo de Cristo como
Mediador da Nova Aliança.
d.
6.1-25 = O princípio
mais fundamental: O amor completo e exclusivo a Deus.
4.
7.1-11.32 =
Princípios auxiliares da Aliança.
a.
7.1-26 = A total
destruição dos canaaneus – nenhuma aliança ou casamentos eram admitidos. Isto
era necessário para que Israel permanecesse a salvo da idolatria e das
abominações praticadas por este povo.
b.
8.1-9.6 = Jeová como
fonte das bênçãos em Canaã, demonstrado no passado através da providência do
maná, do não envelhecer e gastar das sandálias e do não inchar dos pés (8.2-5)
c.
9.7-10.11 =
Moisés como Mediador da Aliança e Intercessor – lembrança dos incidentes de
rebelião do povo e das várias vezes em que Moisés funciona como intercessor diante de
Deus e como isto resultou no renovo da aliança Sinaítica.
d.
10.12-22 = Amor a Jeová
e amor aos desamparados – a fidelidade e amor a Deus não podem estar
divorciados desta mesma demonstração aos desamparados.
e.
11.1-32 = Obediência
como prova do amor a Deus – o amor tem que se manifestar e, em termos da
aliança, isto tinha que ser demonstrado com obediência.
Desta
maneira, a primeira parte do livro de Deuteronômio nos apresenta uma
extraordinária revisão dos atos de Deus na história, como o povo surge –
planejado por Deus – e como Moisés funciona como uma ilustração vívida de
Cristo diante da nova geração (a geração da Aliança da Graça).
Vemos
aqui também a necessidade primordial de darmos exclusividade a Deus em nossas
vidas e isto afeta tudo o que pensamos, fazemos ou dizemos. Todo o nosso ser,
viver, pensar, cultuar, falar, relacionamentos, etc. devem Ter Deus Jeová como
centro exclusivo de tudo e o próximo como beneficiário da nossa postura.
Assim,
e só assim, as bênçãos eternas de Deus fluirão sem fim em e através de nossas
vidas.
As Festas e As Leis
Olha desde a tua santa habitação, desde
o céu, e abençoa o teu povo de Israel, e a terra que nos deste, como juraste a
nossos pais, terra que mana leite e mel. Neste dia o Senhor teu Deus te manda
observar estes estatutos e preceitos; portanto os guardarás e os observarás com
todo o teu coração e com toda a tua alma. (Dt 25.15-16)
Esta segunda seção do estudo sobre
Deuteronômio, abrangendo os cap. 12
a 26, cobre uma parte central do livro e que é peculiar
quanto ao seu conteúdo e propósito, tratando das Festas e das Leis que o povo
deveria manter e seguir. A primeira parte (caps 12 a 16.17) trata dos recursos
e das ameaças ao culto do Deus Uno (lembrando que o povo de Israel era, na
época, o único povo com uma religião monoteísta). A segunda parte (caps. 16.18 a 26) trata das
“distintivas” do povo de Deus (o que destaca o povo de Deus dos demais povos).
Ao
analisarmos as diferentes subdivisões desta parte notamos o seguinte:
I.
Recursos e
Ameaças ao Culto do Deus Uno
(12.1- 16.17)
a.
O Santuário Central (12.1-28) – sendo
Deus um Deus Uno e único, o local para Sua adoração também tinha que ser único
e central – seria o lugar da habitação de Seu nome.
b.
Deuses pagãos e falsos profetas
(12.29-13.19) – o povo de Deus era proibido de adotar práticas de culto dos
povos nativos, à luz da realidade da Unicidade de Deus e do Seu culto.
c.
Preocupação distintiva por animais
puros e impuros (14.1-21) – isto era para reforçar o fato de que o povo tinha
que se conformar com as definições de pureza de Deus mesmo.
d.
Ofertas de corações agradecidos
(14.22-29) – demonstrando o tipo de atitude interior que Deus espera de Seu
povo escolhido, protegido e abençoado, tributo indispensável para um
relacionamento com Deus.
e.
Preocupação distintiva pelos pobres e
oprimidos (15.1-18) – instituindo uma forma prática de demonstrar a
misericórdia e perdão de Deus.
f.
Ofertas e Festas do Santuário Central
(15.19-16.17) – estas eram demonstrações das várias formas de dependência e
relacionamento do povo com Deus. Em especial estavam 3 festas: a da Páscoa
(livramento), a de Pentecostes (suprimento e proteção) e a dos Tabernáculos
(comunhão e unidade).
II.
As Distintivas
do Povo de Deus (16.18 – 26.19)
a.
Oficiais do Reino que amam a justiça e
são Fiéis à Palavra de Deus (16.18-18.22) – prevendo o desenvolvimento da
história de Israel, Deus assenta as bases para a escolha e prática dos
governantes bem como dos profetas através dos quais haveria da falar ao povo em
épocas posteriores.
b.
Distintiva da Lei Cível (19.1-21) – Uma
vez que o povo de Israel se constituíam em uma comunidade religiosas, e isto
por completo, mas ainda vivendo sob as contingências humanas e naturais, Deus
colocou uma provisão para que a Sua justiça e misericórdia não viessem a ser
manchadas – instituindo as Cidades Refúgio.
c.
A Conduta da Guerra Santa (20.1-21.24)
– como a nação escolhida estava para se envolver em guerras de conquista e de
defesa contra povos que se opunham visceralmente a Deus e Seus governo, algumas
diretivas foram postuladas afim de que o povo de fato alcançasse as vitórias
previstas. Desta maneira a escolha dos militantes e estruturamento estratégico
militar vieram diretamente de Deus, e o povo deveria se enquadrar nas mesmas.
Isto porque as guerras eram de Deus com um cunho totalmente espiritual.
d.
Mais distintivas da Lei Cível
(21.15-22.4) – aqui Deus trata dos assuntos matrimoniais e familiares, tão
necessários para uma sociedade estabilizada e com valores sólidos para uma
educação de filhos segundo os ditames morais e espirituais do Reino de Deus.
e.
A Pureza distintiva (22.5-23.18) – esta
parte trata do assunto já tantas vezes abordado – o da manutenção da santidade
daquilo que tem a ver com Deus, o Deus Santo de toda santidade – reflexo de
todos os ensinos da Lei Sinaítica e dos ditames encontrados no livro do
Levítico.
f.
Relações interpessoais distintivas
(23.19-25.19) – aqui Deus estabelece todas as implicações morais e éticas do
relacionamento social de um povo que deveria viver de acordo com uma aliança
feita para a vida baseada na fé. Fica patente nesta parte a diferença interior
e exterior de um povo que se chama pelo nome de Deus!
g.
Reafirmação da Aliança no Culto
(26.1-15) – este é um aspecto memorial. Assim que o povo entrasse na Terra
Prometida deveria instituir uma prática de culto, através de determinadas
festas especiais, para reconhecer a provisão sobrenatural de Deus para
manutenção de vida do povo – era a expressão máxima de gratidão.
h.
Interlúdio exortativo e narrativo
(26.16-19) – após a declaração de um longo corpo de estipulações, o povo foi
ordenado a obedecê-las de todo coração e de toda alma (26.16). A essência era a
manutenção de uma comunhão santa e sagrada, que deveria expressar louvor e
honra ao Senhor dos senhores e da ceara.
Notamos
que primeiro Deus lida com os aspectos concernentes ao culto que o povo deve
prestar a Deus – os recursos que Deus coloca à disposição do povo para
utilização na celebração de um culto que era e deveria continuar a ser
diferenciado de modo distintivo de todas as demais práticas de culto
existentes. Deus, o Deus Uno e Santo, requer uma liturgia e uma preparação bem
como pureza especiais e perfeitas. Assim Deus mesmo se incumbe da orientação e
instrução quanto à prática do culto e quanto a postura interior de cada pessoa
que participasse dos cultos.
Da
mesma forma, e no mesmo contexto, Deus se preocupa com as ameaças possíveis e
reais existentes à celebração dos cultos que Deus estava instruindo Seu povo. A
questão dos deuses pagãos ou ídolos, juntamente com seus falsos profetas, que
poderiam influenciar negativamente o povo, o culto e a atitude de cada um com
este respeito.
Na
Segunda parte Deus trata de mostrar ao povo de como ele – o povo – é distinto
(diferenciado) dos demais povos na terra. Eles possuíam uma Lei distinta de
origem distinta; as guerras, todas elas, seriam guerras santas e por isto
deveriam ser conduzidas de modo distinto dos demais povos. O povo de Deus
deveria ser marcado por uma conduta de pureza que os distinguiria das demais
culturas e religiões existentes. E finalmente o povo de Deus deveria ter
padrões de relacionamento interpessoal distinto dos demais ovos e culturas.
Como
nós devemos ser marcados hoje de uma qualidade de atitude e valores morais
distintivos que de fato e verdadeiramente reflitam a santidade de alguém que se
chama por filho do Deus vivo em Cristo?
Os Eventos
As coisas encobertas pertencem ao
Senhor nosso Deus, mas as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para
sempre, para que observemos todas as palavras desta lei. (29.29)
Nesta
última parte do estudo de Deuteronômio (Caps 27-34), veremos os fatos e eventos
finais das semanas e meses que antecedem a entrada na Terra Prometida sob a
liderança de Josué, sucessor de Moisés.
Esta
parte se divide em 4 divisões principais, que avaliaremos com alguns detalhes:
1.
Maldições e
Bênçãos da Aliança (27.1-28.69) – esta parte reflete o
aspecto das sanções em caso de quebra de pontos da aliança com Deus.
a.
A reunião em Siquém (27.1-10) = um
cerimonial de bênçãos e maldições deveria acontecer após a conquista de Canaã,
nas proximidades de Siquém, lugar onde os patriarcas haviam tido encontros com
Deus – este seria o primeiro lugar de culto e de lembrança da Lei.
b.
Maldições conseqüentes da desobediência
de estipulações específicas da Aliança (27.11-26) = uma disposição especial
havia sido prevista para este cerimonial que lidava com casos específicos de
violações da aliança.
c.
Bênçãos advindas da obediência geral da
Aliança (28.1-14) = esta parte promete prosperidade física e material,
reafirmando o propósito de Deus de exaltar Israel como povo santo, condicionado
à sua obediência espiritual.
d.
Maldições advindas da desobediência da
Aliança (28.15-68) = Esta Segunda lista de maldições é cerca de 3 vezes maior
que a lista de bênçãos! Ameaça com a perda total das bênçãos de prosperidade
física e material, mostrando ainda as conseqüências políticas e sociais –
Israel, ao invés de povo exaltado, se tornará povo servil, escravo. Voltariam
às condições pré-êxodo.
2.
Renovo do
Compromisso com a Aliança (29.1-30.20)
a.
Relembrando os atos salvíficos de Deus
(29.1-9) = é uma recitação dos atos e fatos que marcaram a história durante os
primeiros anos de peregrinação.
b.
Uma antecipação da rebelião de Israel,
do Julgamento de Deus seguido da graça divina sobre os arrependidos
(29.10-30.10) = é uma visão profética da infidelidade futura do povo e da graça
redentora de Deus que será exercida em futuro distante.
c.
Grande desafio da escolha: seguir a
Deus e viver, ou rebelar e morrer (30.11-20) = o povo é colocado diante de uma
decisão vital antes da entrada na Terra Santa, decisão esta que deveria ser
relembrada a cada instante de desafio na vida do povo.
3.
O Futuro da
Aliança (31.1-29)
a.
Deus é o único e verdadeiro líder de
Seu povo (31.1-8) = apesar de não haver um compromisso formal, esta nova
geração se comprometeu em seguir e obedecer a aliança dada e feita com seus
pais.
b.
A palavra de Deus é para ser lida e
relembrada (31.9-13) = uma provisão para o futuro que inclui um sucessor
mosaico, Josué, como mediador da aliança bem como executor da lei.
c.
Provisão divina para o futuro: um
líder, um cântico, um Livro da Lei (31.14-29) = a provisão futura, além de um
líder, incluía um cântico com o propósito de lembrar a nação do compromisso
feito com a aliança, e um registro da lei afim de que as gerações futuras
pudessem conhecer a vontade de Deus.
4.
Cântico de
Moisés e Conclusão Ministerial
(31.30-34.12)
a.
Apresenta um hino extraordinário de
exaltação a Deus, recontando a história dos atos de Deus criando o povo
(31.30-32.43).
b.
Um interlúdio narrativo, antecipando a
morte de Moisés, o ato final de Moisés abençoando o povo (33.1-29) e a morte de
Moisés.
De
um modo geral o livro de Deuteronômio nos traz a um entendimento mais profundo
do nosso relacionamento com Deus e Sua Palavra. Este livro nos mostra os
seguintes pontos:
a.
Deus é soberano sobre a história,
natureza e nossas vidas. Não devemos colocar nada, nenhuma coisa, instituição
ou pessoa numa posição que esteja competindo com Seu senhorio;
b.
Deus nos ama o suficiente para nos
mostrar como entrar em um relacionamento com Ele pela fé;
c.
Deus dá em abundância para prover para
as necessidades de Seu povo;
d.
Deus deseja e quer que Seu povo esteja
somente e totalmente devotado a Ele. Nada deve impedir o relacionamento entre
Deus e nós. Qualquer coisa que o faça é considerado idolatria;
e.
Devemos amar a Deus com a totalidade de
nosso ser e compartilhar este amor com outros – família e vizinhos;
f.
Deus escolheu a nós, pela Sua graça,
para sermos um povo especial e singular que deve refletir a Sua natureza no
mundo;
g.
Deus nos deu orientação (através de Sua
Palavra) de como seguir e cumprir o propósito de sermos testemunhas de Seu
caráter;
h.
Deus abençoa aqueles que O obedecem e
julga aqueles que Lhe desobedecem.
Fica
claro que a obediência é o caminho da vida necessário para que a comunidade de
Deus (o corpo de Cristo) mantenha a unidade, a pureza e o testemunho eficaz.
Qualquer outra coisa interrompe esta comunhão fortalecedora e é considerado
pecado ou rebelião. Mas lembremos que tudo isto está baseado na experiência do
amor redentivo de Deus – a experiência da redenção nos leva a firmarmos este
acordo de Aliança com Deus – no nosso caso na pessoa de Cristo – também aqui na
base de Seu amor redentor provado no livramento de cada um.
Jamais
perderemos em sermos fiéis e obedientes aos mandamentos divinos uma vez que já
fomos libertos e aguardamos bênçãos ainda maiores em futuro próximo – isto
Paulo expressa quando diz “manter os
olhos fixos no autor e consumador da nossa fé.” (Heb 12.2).
Seja
você também encorajado a manter firme os teus propósitos de obediência e
fidelidade a Deus em Cristo Jesus, e serás vitorioso para a glória do Senhor
que nos salvou.
CONCLUSÃO
Nesta
última lição sobre o Pentateuco iremos olhar o livro (ou livros) como um todo.
Os 5 livros do Pentateuco têm os seus nomes oriundos do latim (da Septuaginta
grega) e que indicam o conteúdo geral dos mesmos: Gênesis: significa Origem; Êxodo:
significa sair; Levítico: refere-se ao sistema levítico ou sacerdotal; Números:
representa a contagem (censo) da população; Deuteronômio: é a segunda lei
(repetição). A divisão entre os livros em geral indica uma mudança na direção
do conteúdo, assim: Gênesis, Êxodo e Números são os livros essencialmente
históricos, enquanto que Levítico e Deuteronômio são livros de instrução
específica.
O
Gênesis é um livro, a rigor, separado dos demais, pois relata toda a história
da raça humana e dos Patriarcas. A história do povo de Israel começa em Êxodo,
e é a partir deste livro que temos toda a história de Israel, especificamente
falando. Na realidade poderíamos dizer que Gênesis é a história da criação da
raça humana e o estabelecimento das raízes do povo de Israel através dos
patriarcas. Os demais livros são a história da formação do povo de Israel,
pois termina antes de sua entrada na Terra Prometida. O estabelecimento final e
definitivo da nação só acontece com Josué.
A
divisão entre Êxodo e Levítico é marcada pela finalização da construção do
Tabernáculo (Ex 35-40) e a inauguração do culto litúrgico oficial (Lv 1-10).
Números é a história da partida final do Sinai e a preparação para a entrada em Canaã. Deuteronômio
fica como que separado dos outros anteriores pois é o livro que contém os
maiores sermões da toda a Bíblia. O primeiro sermão de Moisés (Dt1-30) cobre os
30 primeiros capítulos do livro. São os sermões Mosaicos preparatórios para a
entrada em Canaã sob o comando de Josué.
É claro que dentro de cada livro há assunto suficiente para subdivisões
mais específicas e que estudamos nos nossos encontros anteriores.
Notamos
também que a enorme quantidade de leis no Pentateuco é elaborada e fornecida
sob forma de pregação – é e Lei sermônica (ou pregada). Também observamos um
outro gênero literário que é o do cântico! O povo de Israel é um povo do
cântico! Eles cantavam em tempos de vitória (Ex 15), no trabalho (Nm 21:17-18),
em tempos de batalha (Nm 21:14-15,27-30) e no culto (Nm 6:22-26; Dt 32:1-43). Somente
disto aprendemos que o povo de Deus, do qual fazemos parte pela graça que nos
foi dada em Cristo Jesus ,
é para ser um povo que canta, canta sempre e em todas as circunstâncias! Isto
porque Deus está sempre conosco!
Quanto
aos temas temos o seguinte cenário: os primeiros 11 caps de Gênesis apresentam
Deus como Criador, o surgimento do pecado, o aumento da população mundial e o
juízo de Deus sobre o mundo. Os demais caps do Gênesis apresentam os temas da
eleição, aliança, promessa, fé e providência.
Apesar
do Pentateuco ser chamado de Lei ou Torá, a lei propriamente dita ocupa
apenas uma pequena parte do texto todo. Os 10 Mandamentos, que freqüentemente
são chamados de Lei, não são lei no sentido técnico, pois não possuem nenhuma
sanção ou penalidade para a violação das mesmas. Elas são exatamente o que o
nome diz: “Mandamentos”, ordens ou regras de conduta. Mas temos outros grupos
de “Lei” que são:
-
o Livro da Aliança – (Ex 20.22-23.19)
-
as Leis do Sacrifício – (Lv 1 – 7)
-
as Leis da Pureza – (Lv 11 – 15)
-
o Código de Santidade – (Lv 17 – 26), e
-
o Código Deuteronômico – (Dt 12 – 26).
Temos
assim que nenhuma lei aparece em Gênesis, dos 40 caps em Êxodo apenas 4 são de
lei (20-23), a maior parte de Levítico e uma pequena parte de Números se
referem a leis, e 14 dos 36 caps de Deuteronômio consiste de material legal.
O Livro da Aliança (Ex 24.7), com suas 65 leis, inclui regras acerca de
imagens e tipos de altares (20:22-26), escravos hebreus (21.1-11), ofensas
penalizadas com a morte (21.12-27), injúrias corporais (21.18-24), ofensas
contra propriedades (21.25-22.17), e leis miscelâneas sociais e de culto
(22.18-23.9), um calendário de cultos (23.10-19) e bênçãos e maldições
(23.20-33).
Fazemos
notar que as leis do Antigo Testamento foram dadas no contexto da Aliança. O
povo havia experimentado a libertação (salvação), no êxodo. Deus havia tomado a
iniciativa e pela graça redimiu Israel da escravidão no Egito. Deus agiu
primeiro, depois conclamou o povo a responder. As leis do Antigo Testamento
foram dadas ao povo redimido para dizer-lhes como viver como povo de Deus. Este
princípio também existe como fundamento no Novo Testamento, especialmente na
expressão do Sermão da Montanha (Mt 5 –7).
O Código de Santidade (Lv 17 a 26) é chamado assim
devido à expressão “Sede santos porque Eu, vosso Deus, sou santo” (Lv 9.2).
Este código reforça as leis morais e cerimoniais (não as leis civis e
criminais). Este código trata do sacrifício de animais e do próprio sacrifício,
relações sexuais proibidas, relacionamento com vizinhos, penalidades, regras de
vida pessoal dos sacerdotes, a qualidade dos sacrifícios, o calendário de
cultos, regras para as luzes no santuário e os pães asmos , blasfêmias, o ano
sabático e do jubileu e finalmente bênçãos e maldições. Expressões do tipo “Eu sou o Senhor vosso
Deus” e similares ocorrem 46
vezes em Lv 18 a
26!
O Código Deuteronômico (Dt 12 a 26) é parte do discurso
de Moisés ao povo de Israel justamente antes de cruzarem o rio Jordão, sob
liderança de Josué, para entrarem em Canaã. Estas são leis sob forma de mensagem
pregada ou sermões – leis sermônicas; estão repletas de admoestações e
exortações a obedecerem e respeitarem as leis, afim de que o Senhor os possa
abençoar e possam viver na Terra Prometida. Muitas desta 80 leis são novas
porque se dirigiam a uma nova geração (veja o estudo de Números e
Deuteronômio). A restrição do culto e sacrifício a apenas um altar legítimo é
limitada ao Código Deuteronômico, como também é a expressão “o
lugar onde farei habitar o meu Nome”.
A permissão para matar e comer
animais, a nível particular, é dada apenas aqui em Deuteronômio (12.15).
As leis para os juízes, profetas, sacerdotes e reis ocorre apenas aqui neste
Código.
Em
Deuteronômio a Páscoa é para ser observada em apenas um lugar legítimo (16.7);
e as Leis para as Guerras Santas (isto é dirigidas e orientadas e solicitadas
por Deus) são dadas apenas neste código. Note-se que a idolatria e o 1º
Mandamento são preocupação de todos os Códigos
Aprendemos
neste estudo que a santidade e pureza do povo é uma necessidade e
responsabilidade absoluta para uma vida com Deus. Este povo foi eleito para ser
santo porque deus é Santo. Isto também se aplica ao povo santo do Novo
Testamento. Para isto baste estudarmos o sermão da Montanha, que reflete todo
este material e o ensino de Paulo às igrejas, expresso em Efésios (1.4) onde
aponta a nossa responsabilidade de eleitos de Deus em Cristo Jesus de que fomos eleitos para sermos santos e irrepreensíveis.
Tal
é a profundeza e seriedade da vida de um povo que é adotado por Deus em Cristo Jesus (Jô
1.12) e que tem o privilégio de viver para um Deus cujo Reino não é deste
mundo. Por isto os padrões também não são deste mundo – e isto desde os
primórdios!
A
Deus toda glória e honra por nos ter dado este privilégio, e a nós a ação
presente do Espírito de Deus para que não manchemos esta honra sublime e maior
e não maculemos a obra suprema de Jesus Cristo, nosso Salvador.
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